A possibilidade de um retorno da humanidade à Lua ainda nesta década ficou mais concreta em novembro, quando ocorreu o lançamento da primeira missão do programa Artemis. O atual panorama das novas missões lunares e da exploração espacial é o tema do novo episódio do podcast Prato do Dia, produzido pela Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp. O entrevistado da nova edição do Prato do Dia é o jornalista de ciência e especialista em temas de espaço e astronomia Salvador Nogueira.
Este mês de dezembro marca também o aniversário de 50 anos da missão Apollo 17, a última a levar astronautas da Nasa a superfície lunar, e que encerrou o programa Apollo. Durante a conversa, Salvador abordou as razões que contribuíram para que meio século tenha transcorrido sem novas missões tripuladas ao satélite.
A resposta envolve inclusive aspectos geopolíticos. A corrida espacial travada nos anos 1960 entre URSS e EUA transcorreu no contexto de Guerra Fria, a grande disputa que opôs as duas superpotências em termos de poderio econômico, militar e tecnológico. Salvador contou como a decisão do então presidente John Kennedy de enviar a primeira missão tripulada ao satélite foi seguida por uma destinação de recursos exclusivamente para a Nasa à altura do desafio, que chegou a equivaler a 5% do orçamento nacional dos EUA.
Porém, no início dos anos 1970, o panorama era diferente, e os EUA e se viram diante de uma retração econômica. “Para piorar, a corrida espacial terminou com um anticlímax, já que os russos declaravam que não tinham pretensão alguma de chegar à Lua”, conta Nogueira.
Outro motivo para o meio século sem voos tripulados à Lua envolve a grande variação de objetivos de longo prazo adotados pelos gestores da agência espacial norte-americana. Nogueira contou que, a cada novo governo eleito nos EUA, os projetos da Nasa passavam por revisões e mudanças. Porém, as recentes conquistas alcançadas por uma nova potência espacial, a China, tem levado os presidentes americanos a repensarem sua postura. “Uma das coisas que estimula a Nasa a não ficar trocando de programa é a China fungando no cangote”, brinca ele.
Uma importante diferença no modelo de funcionamento da Nasa atualmente envolve a entrada da iniciativa privada no setor das missões espaciais. Empresas como Blue Origin e Space X, que estão adotando soluções tecnológicas inovadoras, estão conseguindo reduzir bastante os custos de produção e lançamento de sistemas aeroespaciais. Por outro lado, aumenta também um outro problema: o lixo espacial.
Nogueira também lembrou como é difícil medir o retorno, na forma de ganhos sociais e financeiros, do investimento em pesquisas nessa área. “Mas o programa Apollo criou a ‘geração Apollo’, e contribuiu para a formação de muitos engenheiros e astrônomos”, disse. Agora, com o nome de Artemis – deusa irmã de Apollo – a Nasa pretende levar à Lua, finalmente, uma mulher. “A ‘geração Artemis’ vai inspirar 100% da humanidade e não apenas 50%, como ocorreu com a Apollo”, disse.
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