Gabriele Leite: A nova cara do violão brasileiro que está rompendo barreiras

Artista formada pelo Instituto de Artes da Unesp desenvolveu estilo peculiar e é reconhecida como jovem talento inclusive fora do Brasil.

“Ser mulher, violonista e preta é algo muito significativo”. Esta frase da violonista Gabriele Leite reflete sua percepção da singularidade da própria trajetória, que está levando-a a ser vista como referência artística dentro e fora do Brasil.

Formada em Música pelo Instituto de Artes da Unesp, mestre em performance musical na Manhattan School of Music (Nova Iorque/EUA) e Doutoranda em Performance Musical pela Stony Brook University sob orientação de João Luiz Rezende, Gabriele foi apontada como uma das 30 celebridades abaixo dos 30 anos mais relevantes pela revista Forbes Magazine em 2020. Em 2022 recebeu o prêmio “Segovia e Rose Augustine” pela Manhattan School of Music. Com apenas 25 anos, Gabriele é um dos principais destaques da nova geração do violão brasileiro.

A vida musical da jovem, nascida em Cerquilho, interior de São Paulo, teve início aos sete anos. Ao brincar com vassouras como se estivesse tocando violão, Gabriele despertou a atenção de seus pais, que decidiram acreditar em seu potencial.

“A minha relação com a música surgiu em casa. Não havia músicos, mas meus pais ouviam muita música e criaram um ambiente muito musical, onde eram ouvidos diferentes estilos e gêneros. Tocava de tudo: samba, James Brown e até Luciano Pavarotti”, relembra.

“O violão se deu na infância, nessa forma distraída de brincadeira de criança. Quando meus pais perceberam o meu interesse, me colocaram no Projeto Guri. Posteriormente, entrei no Conservatório de Tatuí e mais tarde consegui ingressar no curso de  graduação de Música na Unesp.”

Gabriele relata que entrar na Unesp foi a realização de um sonho, e uma vitória da sua família. “Foi um momento muito especial, pois meus familiares e eu tínhamos uma noção da relevância da universidade. Ainda mais para nós, que fomos criados no interior”, diz. “O Instituto de Artes me propiciou uma base e referências muito importantes para alcançar tudo que venho conquistando. Os professores com experiências internacionais, os companheiros de turma, os encontros culturais… Sou muito grata a todos que contribuíram para o meu caminho durante os anos de graduação. A Unesp foi fundamental no meu processo pessoal e profissional.”

Após cursar pós-graduação nos EUA, Gabriele tem se destacado em diversos festivais e eventos dentro e fora do Brasil, como o prestigiado concurso de música de câmara  “Lilian Fuchs Competition” em 2021. Em 2020, foi eleita pelo júri popular como Jovem Talento no Grande Prêmio Concerto, e também foi semifinalista do concurso internacional de violão de Koblenz de 2019, do qual recebeu a menção de “Melhor Participação Brasileira”.

No cenário da música de câmara, fez parte do Quarteto Abayomi, tocando com Badi Assad, artista de carreira internacional. Além da carreira solo, a violonista também atua em um duo de violão junto com o violonista gaúcho Eduardo Gutterres. Com Camilla Silva, Nicolas Porto e Octávio Deluchi, é cofundadora da BCGC – Brazilian Classical Guitar Community, uma plataforma para publicação e veiculação de gravações on-line de compositores brasileiros como Heitor Villa-Lobos, Vicente Paschoal e Elodie Bouny.

Vale destacar também sua indicação, pelo Consulado Brasileiro em Nova Iorque, para realizar o concerto de abertura da cerimônia de posse do Brasil como integrante temporário do Conselho de Segurança da ONU e sua apresentação na abertura musical do jantar de gala do Evento “Person of the Year 2022”, organizado pela Brazilian-American Chamber of Commerce em Nova Iorque. Ela também é bolsista internacional da Sociedade Cultura Artística, e desde abril de 2020 recebe patrocínio da marca de cordas Augustine Strings (EUA), usando o modelo Augustine Regal/Blue (High Tension).

Em entrevista ao Podcast Unesp, Gabriele analisa os desafios que tem enfrentado. “Primeiro, com relação ao gênero: É importante dizer que, de maneira geral, é muito difícil ver uma mulher tocando violão clássico e vivendo de música, em comparação ao número de homens que fazem isso. Em segundo lugar, o fato de eu ser preta. Minha avó tem orgulho de mim, minha tataravó era filha de escravos, mas eu consegui estudar. Não me tornei mais uma dona de casa. Quantas musicistas clássicas são pretas? Então, nós estamos chegando nesse espaço da música clássica, rompendo barreiras e estereótipos. Quantas pessoas com essas características fazem doutorado nos EUA? Tudo que eu sou é muito significativo para minha ancestralidade: conquistar um espaço geralmente visto por pessoas brancas. Creio que estou abrindo portas para outras mulheres e pessoas pretas dentro do universo do violão e da música clássica. É amplamente significativo, uma luta diária para romper todas essas barreiras”.

A entrevista completa com Gabriele Leite pode ser conferida abaixo no Podcast Unesp.

Foto acima: Cauê Diniz.