Dona de uma carreira premiada, Lygia Fagundes Telles deixa sólido legado literário, diz diretor da Editora Unesp

Reconhecida como a grande dama da literatura nacional, escritora faleceu aos 98 anos, de causas naturais. Jézio Gutierre destaca capacidade de análise psicológica ímpar da autora e lembra que ela chegou a ser indicada ao Nobel de Literatura.

Aos 98 anos, a escritora Lygia Fagundes Telles morreu na manhã deste último domingo (3/4), em São Paulo. Grande referência da literatura brasileira, Lygia era integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde a década de 80 e recebeu inúmeros prêmios na área, entre eles o Camões (2005) e o Jabuti em diversas ocasiões (1966, 1974 e 2001). De acordo com Juarez Neto, representante da ABL, ela faleceu em casa, por causas naturais. O corpo da escritora foi cremado de manhã. O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia decretou luto oficial por três dias pela morte da escritora paulista.

Lygia era considerada a grande dama da literatura nacional. Tem obras traduzidas para o alemão, espanhol, francês, inglês, italiano, polonês, sueco, e tcheco, e adaptada para português de Portugal. Livros seus também foram adaptados para cinema, teatro e televisão.

Em nota, a Academia Paulista de Letras lamentou sua morte. “A mais notável personalidade da literatura brasileira, patriota e democrata, já era lenda em vida. Permanecerá no Panteão das glórias universais e, para orgulho nosso, era mais academicamente bandeirante. Não faltava aos nossos encontros semanais no Arouche. A gigantesca e exuberante obra continuará a ser revisitada, enquanto houver leitor no mundo”, escreveu José Renato Nalini.

Lygia nasceu na capital paulista em 19 de abril de 1923 e passou a infância no interior do Estado. Logo depois de alfabetizada, reproduzia nos cadernos escolares as histórias que ouvia. Ela escreveu seu primeiro conto, “Vidoca”, em 1938. No período do ensino Fundamental, ela voltou para São Paulo com o pai, advogado, e a mãe, pianista, e estudou na Escola Caetano de Campos. Com apenas 15 anos, publicou seu primeiro livro de contos, “Porão e Sobrado”. Posteriormente, ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da Universidade de São Paulo, onde se formou.

Ainda de acordo com a ABL, na adolescência manifestou-se a paixão, ou melhor, a vocação para a literatura incentivada pelos seus maiores amigos, os escritores Carlos Drummond de Andrade e Erico Verissimo.

Em entrevista ao Podcast Unesp, Jézio Hernani Bomfim Gutierre, diretor-presidente da Editora Unesp, aborda o legado literário da escritora. Ele lembra que Lygia chegou a ser indicada para o prêmio Nobel de Literatura, e que sua obra se destacava por sua extraordinária capacidade de análise psicológica. “Me chama a atenção como ela captou um espírito característico de determinadas famílias do estado de São Paulo. Neste sentido, era uma escritora paulista. Mas sua obra não fica restrita a estes elementos paroquiais ou regionais”, analisa. “É uma obra extensa e multifacetada. A literatura brasileira fica um pouco mais pobre”, diz.

Ouça a íntegra da entrevista clicando no link abaixo.

Foto acima: reprodução.