“Quando eu passei no vestibular, fiquei tão feliz que o espaço do câmpus ficou pequeno. E eu me pergunto ‘será que sou eu mesma? Estou aqui dentro, estudando'”. Essa fala da Maria Helena Rosa sintetiza a trajetória de mulher negra e mãe solo de uma das ingressantes 2021 do curso de Ciências Biológicas da Faculdade de Ciências da Unesp em Bauru. No câmpus, ela atua como terceirizada da limpeza há quase 10 anos e, ao vivenciar o espaço universitário, seu sonho de continuar os estudos ganhou um novo capítulo.
Maria Helena, ou Lena, como é carinhosamente conhecida pelos colegas e pelos professores, frequentou as aulas do Projeto de Educação de Jovens e Adultos (PEJA) como reforço de aprendizagem porque ela já tinha conquistado seu diploma do Ensino Médio. Ela também se inscreveu no Cursinho Pré-Universitário Primeiro de Maio e, durante três anos, dedicou-se ao sonho de ingressar na Educação Superior. Para a professora Eliana Zanata, coordenadora do PEJA no câmpus de Bauru, esses projetos da Universidade contribuem para resgatar a cidadania por meio do contato com uma população que não teve acesso à educação no ciclo formal e está onde o poder público não chega. “A Lena, negra, mais de 50 anos de idade, numa função de trabalho de baixa remuneração é exemplo de como as condições de vida impossibilitariam, num contexto distante da universidade, que ela continuasse a estudar.”
Essas oportunidades de formação e a Política de Reserva de Vagas para a Educação Básica Pública fizeram a diferença na história da Maria Helena. É o que conta o segundo episódio da série de documentários “Caminhos: quando sonhos encontram a educação”, que foi lançado pela Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp neste Dia da Consciência Negra.
Esta série de documentários tem o objetivo de mostrar o impacto transformador da educação e as oportunidades que se abrem para os diversos perfis de estudantes. Uma delas é a Política de Reserva de Vagas para a Educação Básica Pública que, desde 2014, destina um percentual das vagas de todos os cursos de graduação a egressos da rede pública de ensino. No ano passado, professores da Unesp realizaram um estudo sobre o rendimento acadêmico dos estudantes cotistas e dos não cotistas que ingressaram na Unesp entre 2014 e 2017 e os dados de mais de 30 mil estudantes mostram que não há diferença de desempenho. O foco da política, portanto, é assegurar a condição de acesso à educação superior e a sua implementação demonstra que se ampliaram as possibilidades para os alunos da rede pública e também para a população negra, parda e indígena que atualmente conta com 35% das 50% das vagas dos cursos da Universidade.
Outra política institucional no âmbito da extensão universitária é o Programa de Educação de Jovens e Adultos, criado em 2001, nos campi de Assis, Bauru, Marília, Rio Claro e São José do Rio Preto. Em 20 anos, o programa já atendeu 4.194 estudantes para a conclusão do Ensino Fundamental e Médio com a participação de docentes e discentes voluntários e bolsistas das unidades universitárias. O protagonismo dos universitários também é destaque em outra ação extensionista, a dos cursinhos Pré-Universitários. A Unesp mantém 28 cursinhos em atividade em 23 cidades paulistas, oferecendo uma preparação para os vestibulares a mais de cinco mil estudantes por ano.