Imagine ser capaz de espiar dentro do útero de uma fêmea de tubarão-azul e assim descobrir, em detalhes, como se dá o desenvolvimento de um feto da espécie. Pois foi esse olhar penetrante, registrado na forma de fotografia, que valeu a uma doutoranda da Unesp uma premiação na décima edição do Prêmio de Fotografia – Ciência & Arte, concurso promovido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O registro, intitulado “O tubarão dentro do útero”, foi feito a partir de um microscópio eletrônico pela pesquisadora Aline Nayara Poscai, doutoranda em Zoologia do Instituto de Biociências (IB) da Unesp em Rio Claro. A premiação ocorreu no último dia 22.
Na imagem, é possível visualizar o embrião de um tubarão-azul com pouco mais de quatro centímetros. “O interessante é que, geralmente, para fazer essa análise de microscopia, nós pegamos apenas um pedaço do tecido, mas nessa foto eu consegui capturar o embrião inteiro”, diz Aline.
O trabalho angariou o terceiro lugar da categoria 2 do festival, que premia imagens produzidas por instrumentos especiais durante pesquisas científicas. Nesta edição, mais de 220 registros foram submetidos à modalidade.
De acordo com Aline, o embrião foi colhido por uma equipe de pesquisa durante uma expedição. “Alguns colegas embarcaram em um atuneiro e coletaram fêmeas grávidas da espécie. Nós preparamos um dos embriões no laboratório e fizemos microscopia eletrônica de varredura do material”, explica.
Os tubarões-azuis são conhecidos por produzirem vários embriões por gestação. Vivíparos, podem gerar mais de 100 filhotes em uma única gravidez. Em contrapartida, representam uma das espécies mais capturadas em todo o mundo, muito em função de sua carne, explorada para consumo e produção de produtos.
Desenvolvimento de tubarões
A imagem premiada foi capturada durante o mestrado de Aline, defendido na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade de São Paulo (USP), em meados de 2016.
Na época, a pesquisadora estudava o desenvolvimento embrionário de dentículos dérmicos (nome dado à estrutura que cobre a pele dos tubarões) e sistemas sensoriais de duas espécies: o tubarão-azul e o tubarão-frango.
Hoje, no IB, Aline conduz estudos sobre aproximadamente 40 espécies de tubarões, agora voltados à morfologia de dentículos orais, localizados na cavidade oral dos animais. Os trabalhos são realizados sob supervisão do professor Otto Gadig, um dos principais pesquisadores de assuntos relativos a tubarões no Brasil.
Imagem de Aline Nayara Poscai / Prêmio de Fotografia – Ciência & Arte