Fernanda Abreu: Garota Sangue Bom

Referência do pop dançante brasileiro, cantora carioca lança novo trabalho onde relê canções de nomes como Caetano Veloso, Marina, Herbert Vianna e Mocidade Independente de Padre Miguel.

Considerada um dos principais nomes do pop brasileiro e do samba-funk — gênero que ela ajudou a inventar — , Fernanda Sampaio de Lacerda Abreu, ou Fernanda Abreu, nasceu em 8 de setembro de 1961 no Rio de Janeiro e construiu uma bela e relevante trajetória artística e cultural que já atravessa quatro décadas.

Iniciou profissionalmente sua carreira musical como backing vocal da banda Blitz, referência no pop-rock nacional nos anos 80. Posteriormente, seguiu carreira solo, influenciada pelo samba, sambalanço, disco music, hip hop, funk, soul e funk carioca. Este último é um estilo musical que seu trabalho ajudou a popularizar.

“Em setembro de 1989, quando entrei pela primeira vez num baile funk, eu fiquei chocada. Foi o sociólogo Hermano Viana (irmão do Hebert Viana, integrante dos  Paralamas do Sucesso) quem me levou”, lembra Fernanda. “Era um espaço para 5 mil pessoas, com um sound system gigante, fiquei alucinada. O som que reinava na época era do Afrika Bambaataa. Ainda não havia MCs cantando, apenas DJs. E nesta mesma ocasião conheci o DJ Marlboro, que chamei de cara para participar do meu primeiro disco. Foi inesquecível. De lá pra cá, minha relação é de mais de trinta anos com o funk carioca”.

Segundo Fernanda Abreu, do ponto de vista sociológico, a cultura da favela do Rio de Janeiro é muito vigorosa, pois não se trata de uma arte criada por empresários ou agentes culturais. É uma combinação de som, comportamento e dança. “A cultura da favela me cativou totalmente, Fiquei apaixonada. São 30 anos de baile”.

Em 1990 lançou seu primeiro disco solo, “SLA Radical Dance Disco Club”, produzido por Herbert Vianna e Fábio Fonseca. Esse disco foi reconhecido pela imprensa especializada como um precursor no uso de novas tecnologias, como computadores e samples, no cenário da produção musical brasileira, inovando e modernizando a linguagem pop da época.

“Eu comecei a usar os samples de forma quase arte naif, como se fosse um HD interno. Naquele tempo não havia legislação para determinar o crédito às respectivas autorias. Mas eu creditei vários. Foi até um problema no lançamento, pois ninguém sabia ao certo como funcionavam essas questões. Mas a gravadora bancou”, relata a artista. “Depois comecei a inserir uns loops de programação mais interessantes. Aí surgiu “Rio 40 Graus”  (faixa do segundo álbum, SLA 2 Be Sample 1992), que era uma música que apontava mais para o caminho que eu queria ir, pois envolvia mistura de música brasileira com o pop dançante internacional. Coloquei bumbo de samba com bumbo eletrônico, entre outros elementos. Esse caldeirão sonoro apontou para o terceiro disco solo (Da Lata) que me projetou uma carreira internacional, por essa linguagem de mistura particular do samba com o funk”, conta a artista carioca.

A partir daí, sua carreira literalmente decolou. A peculiar mistura do samba com o funk gerou imenso sucesso dentro e fora do Brasil. Desde então, vem lançando seus discos e fazendo shows em países como França, Portugal, Espanha, Bélgica, Alemanha, Holanda e EUA entre outros, levando a musica brasileira com acento carioca para diferentes lugares do planeta.

Agora, em março de 2022, ela acabou de lançar seu trabalho mais recente, o álbum de coletâneas intitulado “Feat FA”. Lançada pela Universal Music Brasil, a obra reúne 11 canções, interpretadas por essa musa do pop.O hit “Fullgás” de Marina Lima, “Menino do Rio”, composição de Caetano Veloso, “Rock With You”, eternizada na voz de Michael Jackson, são algumas das faixas que estão nesse projeto com versões únicas e que geram todo o tom, o requinte e a voz dançante dessa garota carioca sangue bom.

Para ouvir a íntegra da entrevista de Fernanda Abreu ao Podcast MPB Unesp basta clicar abaixo.

Imagem: reprodução da internet.