Considerada um dos principais nomes da música popular brasileira, Nara Lofego Leão, ou apenas Nara Leão, completaria 80 anos de idade em 19 de janeiro deste ano. Em memória à trajetória da artista, a Globoplay lançou este mês a série documental “O Canto Livre de Nara Leão”, que aborda sua trajetória profissional e pessoal.
Dirigida por Renato Terra, responsável também pelos filmes “Uma Noite em 67” e “Narciso Em Férias”, “O Canto Livre de Nara Leão” apresenta, ao longo de cinco episódios, a personalidade expressiva e a amplitude cultural da artista, mostrando que ela foi muito além do título de “musa da Bossa Nova” que marcou o início da sua carreira. Em poucas semanas a série se tornou um sucesso entre os fãs de MPB e ganhou destaque pela critica especializada, trazendo novamente o nome de Nara para os espaços da grande mídia destinados à cultura.
“O Canto Livre de Nara Leão” traz diversos depoimentos com personalidades influentes da música brasileira, como Roberto Menescal, Fagner, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Maria Bethânia, Edu Lobo e João Donato, entre outros. Porém, talvez o seu diferencial esteja no material raro sobre a história de Nara a que os realizadores tiveram acesso, incluindo fotos da infância e adolescência, o áudio de sua primeira performance e vídeos de suas apresentações posteriores. Isso incluiu também depoimentos de pessoas de sua intimidade, como os cineastas Cacá Diegues e Isabel Diegues, respectivamente ex-marido e filha da cantora. Este olhar íntimo aparece também na ficha técnica da série, que tem o neto de Nara, José Bial, que é filho de Isabel e Pedro Bial, assinando como produtor de conteúdo da obra. José Bial conversou com o Podcast Unesp sobre a produção e sobre a vida da avó.
José Bial conta que a ideia de produzir a série surgiu em 2018, quando Renato Terra conversou com sua mãe e com Roberto Menescal sobre o projeto. “Por intermédio dos meus pais, nesse mesmo ano conheci o Renato Terra. Conversamos muito sobre este trabalho. Ele me sugeriu uma série de filmes, livros e me orientou sobre produções cinematográficas. No final de 2020 o projeto andou”, explica. “A produção foi constituída basicamente envolta de pesquisas e montagens. Devido à pandemia, as gravações externas foram bem específicas e pontuais. O processo focou bastante em estudos, edições, cortes, análises e opiniões da equipe até o corte final”, relata.
Desde o início, Terra tinha em mente um roteiro que apresentasse o desenvolvimento da carreira em paralelo com a música brasileira. Dessa forma, seria possível retratar as diversas vertentes artísticas, culturais e musicais que permeiam a estrada de Nara Leão. “A proposta era sinalizar que a Nara cantava o que ela gostava dentro do que estava rolando na música aqui do Brasil. Assim, fomos montando todo esse caminho com base em jornais dos anos sessenta e imagens das TVs Cultura e Record entre outras mídias. Nesse sentido, atuei como assistente de direção, acompanhei as entrevistas, trabalhei na linha de montagem e designer gráfico, uma espécie de outro braço para o diretor. Foi uma experiência muito enriquecedora”, relata.
“O Canto Livre de Nara Leão” soa como poesia cantada em ritmo suave para tempos tão conturbados. A recuperação de imagens e sons de acervos antigos realça uma produção de primeira linha. Ao intercalar registros de época com filmagens recentes de entrevistas, o trabalho expõe um ar de modernidade. Mas o melhor é destacar a todos que Nara foi uma figura revolucionária da música brasileira no período em que esteve em atividade. Foi da bossa nova ao samba, transitou pela Tropicália, gravou músicas de Roberto e Erasmo Carlos e flertava com sonoridades modernas.
Nara morreu aos 47 anos, em 1989, vítima de um tumor cerebral. Seu canto livre, suave e sua postura artística e cidadã são dignos dessa bela homenagem.
Clique abaixo para ouvir a íntegra da conversa no Podcast Unesp.
Foto acima: Wikimedia Commons.