Uma atividade profissional que, além de remuneração, oferece senso de propósito e a possibilidade de, em algum grau, mudar o mundo para melhor: esses são alguns dos atrativos do empreendedorismo social. O termo foi concebido nos anos 1980 pelo norte-americano Bill Drayton, que fundou a Ashoka, uma organização não lucrativa, com o propósito de apoiar indivíduos em vários países que estivessem à frente de iniciativas para diminuir a desigualdade social e tornar mais prósperas suas comunidades.
O nome Ashoka é um termo sânscrito que significa “ausência de sofrimento” ou “livre da tristeza”. Ao longo de quatro décadas, a Ashoka vem se dedicando a fomentar um ecossistema em que empreendedores sociais podem florescer e revolucionar áreas críticas da sociedade, como saúde, educação e tecnologia. Seu trabalho central é formar e cultivar uma comunidade de indivíduos ligados pela consciência de que o mundo atual exige de toda pessoa assumir-se como agente de transformação: alguém capaz de criar mudanças positivas para o bem comum.
Nesta entrevista ao podcast Universo Profissional, a brasileira Andrea Margit, que ocupou o cargo de líder de comunicação e novos paradigmas para a América Latina e mantém o status de changemaker junto à Ashoka, explica os mecanismos e objetivos da instituição e as possibilidades para que jovens estudantes se engajem profissionalmente na área.
Margit explica que o trabalho da Ashoka envolve a busca do desenvolvimento de habilidades e qualidades pessoais junto aos seus apoiados. Isso ocorre por meio de formações, mentorias e do uso de testes específicos. Essas habilidades incluem a empatia, a capacidade de trabalho em equipe, a perspectiva de liderança compartilhada e o espírito de iniciativa empreendedora. “Ao observar diferentes trajetórias no empreendedorismo no campo da mudança social, a organização notou que raramente alguém se torna um empreendedor social na vida adulta, com a chegada da maturidade”, diz. “Em geral, as habilidades transformadoras se estabelecem e são praticadas desde muito cedo, ainda na infância
Ela comenta que a interação com a Ashoka e as redes sociais leva muitos estudantes a perceberem que não haviam percebido suas próprias capacidades para promover mudanças. Para muitos, é a primeira vez que alguém lhes pergunta, ou que eles mesmos se perguntam sobre qual é o seu propósito, como planejam agir no mundo. Isso os leva a pensar de que forma podem, de fato influenciar mudanças, como é possível montar uma equipe para agir intencionalmente sobre um problema ou causa, e gerar um verdadeiro impacto social.
A instituição sustenta que não se pode pensar no desenvolvimento dos jovens apenas no aspecto de sua formação técnico-científica. Engajá-los em projetos com propósitos sociais vai prepará-los para, ao longo de toda sua trajetória futura como profissionais e como cidadãos liderar processos de transformação dos sistemas que perpetuam as desigualdades.
Magrit comenta os resultados de um estudo que a Ashoka conduziu em parceria com a consultoria global Globescan. Foram ouvidas mais de 8 mil pessoas de 31 países, empregadas em empresas de porte significativo. “E em todos esses países, identificamos que 88% dos respondentes concordam que, à medida que suas empresas melhoram sua atuação em responsabilidade social e ambiental, a motivação deles para trabalhar e inovar nessas empresas também cresce. No Brasil essa proporção é ainda maior: 91%. Há um grande impacto entre a capacidade de melhorar o desempenho da empresa no campo social e ambiental e a motivação e a retenção de talentos”, diz. Cabe às Universidades e empresas se conectarem com essas aspirações, analisa.
“É preciso preparar jovens estudantes para atuar desta forma. Essa é uma contribuição muito importante dessa cultura que a Ashoka quer fomentar. Há a necessidade de que as questões ambientais, sociais e de governança sejam abordadas pela educação superior. E também pelas oportunidades de extensão, pela experimentação nos estágios, pelos projetos de inovação dentro da universidade. Tudo isso prepara melhores cidadãos, melhores profissionais, melhores inovadores sociais, hoje e amanhã”, acrescenta a changemaker.
Margit diz que valoriza as oportunidades para falar da Ashoka a jovens estudantes, a fim de apresentar a possibilidade de trabalharem junto à sociedade civil organizada e criarem suas próprias organizações. Ela diz ouvir, com frequência, que muitos jovens não se encontram profissionalmente depois de ingressarem no mercado de trabalho atuando em uma empresa tradicional.
“Embora não esteja mais atuando na organização, digo que: uma vez rede Ashoka, sempre Ashoka. Só no Brasil, existem mais de 400 inovadores sociais, com programas e organizações muitas vezes conhecidas pelo grande público. Elas vêm revolucionando a maneira como a sociedade convive: as práticas de mercado, as políticas públicas… É possível ingressar nessas organizações. Algumas já têm um porte significativo, como o Mapbiomas, a Feira Preta, a Rede de Bancos Comunitários do Brasil, o Programa Vivenda, o Instituto Tecnologia e Sociedade. São grandes organizações. Com elas é possível aprender, estabelecer conexões ou buscar inspiração para criar suas próprias organizações”, diz.
Margit destaca ainda que a Ashoka está aberta à comunidade da Unesp e aos ouvintes do Podcast Universo Profissional que compartilhem a ideia que move o grupo: a de que já existe a potência para transformar o mundo e criar uma sociedade que seja mais justa, equitativa e sustentável.
Confira abaixo a entrevista completa ao Podcast Universo Profissional.
