O verso “Todo artista tem de ir aonde o povo está”, da música Nos Bailes da Vida, parceria de Milton Nascimento e Fernando Brant, é uma bússola que vem guiando a trajetória do cantor, compositor e instrumentista Edu Ribeiro.
Carlos Eduardo Ribeiro, seu nome de registro, nasceu no dia 17 de setembro de 1976 na cidade de São Paulo, no bairro da Lapa. Em sua infância, transitou também pelo município de Taboão da Serra, na Grande São Paulo. Aos dez anos mudou-se com a família para Salvador, na Bahia, e em 1991 também residiu por uma temporada em Luanda, a capital de Angola.
“Meu contato com a arte e a música aconteceu na rua, no final dos anos 1980 e começo dos 1990. Inicialmente, eu era roqueiro. Tive a oportunidade de assistir Red Hot Chilli Peppers, Smashing Pumpkins, Alice Chains, Aerosmith e outros. Era uma identificação com a linguagem, que se aproximava da minha realidade”, relata.
“Havia um violão em casa, mas eu não dava a menor bola. De repente, quis tocar, mas não sabia como. Nessa época, a gente morava em Angola. Meu pai me deu um novo violão. Quando retornei para São Paulo, por volta de 1992, entrei para uma banda, comecei a sair na noite, conhecer pessoas com ideias e gostos musicais similares, fazer conexões. E tudo isso foi crescendo até que cheguei ao ponto de subir no palco. Assim começou tudo”, relata.
Em 1993, ele ingressou no grupo M.R.N., sigla para Movimento e Ritmo Negro. O grupo participou de shows e de eventos importantes, como o “300 Anos de Zumbi”, que ocorreu no vale do Anhangabaú, e participou da coletânea Das Ruas pro Mundo. Após deixar o grupo, Edu descobriu a casa noturna Sarau do KVA, e lá tomou contato e passou a conviver com diversos artistas. Nesse contexto, começou a compor suas primeiras canções já sob influência do reggae, títulos como Vem me Ver, Sereia e Paz Interior.
“As coisas fluíram de forma natural. Mas foi necessário muito esforço, foco e dedicação para que a carreira chegasse a um patamar profissional. Não estudei em conservatórios ou escolas de músicas, pois não tinha condições de pagar. Buscava me antenar com tudo que estava rolando na música, nacional e internacional. Assim percebi que, mesmo não tendo recebido uma formação educacional nas artes, sempre me destacava entre aqueles que andavam comigo. Conhecia mais bandas, mais artistas, tocava e cantava melhor. Ou seja, sempre estava um passo à frente, e isso era um diferencial. Posteriormente, continuei me aperfeiçoando, aprendendo com quem sabia mais, correndo atrás. As coisas não aparecem prontas. Ao contrário, a gente exercita o talento, e ele cresce ao longo da nossa trajetória”, diz.
Sucesso no forró universitário
Em 1998, começou a montar uma banda de reggae, mas a ida de alguns integrantes para o exterior fez com que o plano fosse adiado. Em 2000 formou com amigos a banda de forró universitário Circuladô de Fulô. O grupo assinou contrato com a gravadora EMI e vendeu mais de 80 mil cópias. Porém, após três anos de carreira, Edu deixou a banda, movido por desentendimentos com outros membros e por sentir um chamado para voltar ao reggae.
“Descobri o forró universitário por acaso, e foi bom para mim. Eu estava naquela situação de ouvir muita música internacional, queria estar antenado com o que acontecia na Billboard. Então, minha aproximação com o forró foi um resgate particular da música brasileira. Esse foi o grande mérito do forró universitário na minha vida. Ali eu entendi que, para fazer música, tinha que cantar para os brasileiros, e entender o valor de artistas que representam a nossa música. O Circuladô de Fulô foi um meteoro. Em nove meses a banda foi do zero para o mundo. Me lembro da gente sentado na calçada dizendo, ‘vamos montar uma banda?’. De repente já estávamos tocando em casas de show lotadas, com mil pessoas por noite, tínhamos contrato com a EMI e um CD pronto”, conta.
Ele diz que, do seu ponto de vista, havia outros integrantes da banda que se mostravam mais preocupados com seus próprios egos do que com o grupo, e tomavam suas decisões neste sentido. Já ele tinha uma visão mais profissional da carreira que queria seguir. “Tivemos o privilégio de gravar o primeiro algum no estúdio Midas, com a produção de Rick Bonadio e de Arnaldo Saccomani. Naquela época, para uma banda, ser produzida por aqueles grandes produtores do rock nacional era um ponto alto da carreira”, diz.
Certa vez, o Saccomani chamou-o de canto para conversar. “Você não vai querer cantar forró a vida inteira, certo? Você me lembra o Djavan no começo da carreira. E te vejo mais preparado do que os outros integrantes. Te vejo fazendo outras coisas”, disse o produtor. O fato de que se tratava da opinião de um produtor com real compreensão da cena musical, e que era conhecido por não fazer média, mexeu com o artista. “A banda foi importante para que eu conhecesse melhor a indústria fonográfica, os produtores. Entendi que precisava seguir o que eu sentia e construir minha carreira solo”, conta.
Música mais tocada do país
Sua carreira solo teve início em 2003, e em 2005 saiu seu primeiro CD, Roots Reggae Classics Vol. 1 e Outras Canções. A obra foi distribuída pela gravadora Universal Music, e trouxe participações de artistas como Alexandre Carlo, vocalista do Natiruts. No ano seguinte, lançou seu primeiro DVD, Edu Ribeiro ao Vivo. No mesmo ano, sua canção Me Namora ganhou projeção e foi a música brasileira mais tocada nas rádios do país. Emplacou também na sequência outro sucesso, O sol, a lis e o beija-flor (Flor de Lis).
Em 2007 lançou o álbum Luau. O carro chefe foi o hit De Mais Ninguém, que ficou entre as 100 músicas mais tocadas do ano nas rádios do Brasil. E a obra trouxe outra participação de destaque na faixa Você por perto: ninguém menos do que Chorão, vocalista do Charlie Brown Jr.
Os sucessos fizeram de Edu Ribeiro um participante regular dos principais programas de televisão do país, sedimentando seu nome no segmento reggae. “Realmente, aconteceu uma revolução logo no primeiro disco. Resgatei minha essência reggae, estava tudo caminhando. Porém, nem tudo foram flores. Num primeiro momento, o disco foi 100% rejeitado. Passamos um ano ouvindo não de rádios, produtores, etc., que diziam que o trabalho era horrível. Ouvi coisas terríveis, que desanimam qualquer artista. Mas insisti. No ano seguinte a rádio Metropolitana deu uma oportunidade, colocou na programação e logo de cara nossa música (Me Namora) alcançou o primeiro lugar. Aí as coisas começaram a mudar. Outras rádios se interessaram, vendemos 15 mil CDs de forma independente nos shows, e o som começou a rolar para todos os lados. Quando ouvi a música no consultório do dentista e no elevador, pensei: ‘já era, emplaquei’. A música chegou a lugares inimagináveis em todo o Brasil.”
Edu diz que buscou a carreira artística sem a pretensão de se tornar famoso. O sonho era fazer arte com qualidade e cantar para todas as tribos. Gente de todas as idades e de todos os lugares, sem distinção. “Sou um cara de pele negra, que superou inúmeros episódios de racismo. Nesse sentido, sempre tive que me desdobrar mais para alcançar minhas coisas. Sou PHD nesse assunto. Mas a minha “alma negra”, o meu pensamento, ninguém pode parar. Quando decido chegar a algum lugar, vou até o fim. Inclusive a minha canção Alma Negra fala dessa questão.”
“Certa vez, encontrei o Milton Nascimento. Ele estava jantando com alguns amigos, mas aí com muito respeito cheguei nele e disse: olha, não quero te incomodar, mas preciso te dizer que aquele verso “Todo artista tem de ir aonde o povo está” mudou o rumo da minha vida. A minha proposta é, justamente, levar meu reggae para todos, sem discriminação, seja na favela ou numa grande casa de show. A verdadeira arte é a valorização da nossa essência. O Milton agradeceu e com algumas poucas palavras me fez entender que eu era um artista do povo e que eu deveria cantar para todo mundo.”
Confira a entrevista completa no Podcast MPB Unesp.