João Marcello Bôscoli é o entrevistado da nova edição do Prato do Dia

Compositor, produtor, multi-instrumentista, arranjador e empresário fala sobre o surgimento da MPB, os desafios da cena musical contemporânea, o impacto da tecnologia na produção artística e as lembranças de sua mãe, Elis Regina.

Multi-instrumentista, compositor, arranjador, produtor, apresentador, dono de gravadora, autor de livros, curador, palestrante… Nas últimas três décadas, o nome do carioca João Marcello Bôscoli esteve associado às mais diferentes facetas do universo da produção da musical brasileira. E nesta nova edição do Prato do Dia, o podcast da Assessoria de Comunicação da Unesp, ele compartilha com o jornalista Renato Coelho, com o professor José Paes de Almeida e com todos os ouvintes suas muitas vivências e reflexões sobre todos os aspectos da nossa cena musical, desde a trajetória dos grandes talentos do passado aos desafios enfrentados pelos artistas que estão gravando seus primeiros trabalhos.

João Marcello Bôscoli nasceu no Rio de Janeiro, em 1970, fruto de um dos mais celebrados casamentos da MPB: o da cantora Elis Regina com o compositor Ronaldo Bôscoli. Estreou profissionalmente no mundo da música bem cedo, aos 11 anos, e desde então trabalhou com grandes nomes, como Milton Nascimento, Elza Soares, Paulinho da Viola e Lenine. Mas talvez sua faceta mais conhecida pelo público seja a de empresário. A frente da gravadora Trama, ele ajudou a lançar toda uma nova geração de artistas que trouxe um frescor para as sonoridades da música brasileira a partir dos anos 2000.

Por toda sua vivência pessoal e trajetória profissional, ele é especialmente qualificado para atacar uma das questões clássicas que ainda dividem os amantes dos sons produzidos no Brasil. Afinal, o que é a MPB?

Ele diz que o termo foi adotado porque seria como uma “sigla conciliatória, que abarca todas as tendências”. No passado, a MPB se tornou conhecida por suas letras poéticas e frequentemente engajadas em questões sociais, políticas e culturais. Por conseguinte, suas mudanças também são sociais e políticas. A partir dos anos 2000, o gênero começou a refletir as novas tendências globais e a diversidade cultural do Brasil. A digitalização da música e o advento da internet permitiram melhorias no acesso e na distribuição, resultando em um renascimento do estilo. “Hoje eu vejo a MPB como uma parte da música popular brasileira mais ampla”, analisa.

E como alguém que trabalhou com diversos dos principais nomes do estilo, ele pode dimensionar bem a excepcionalidade que caracterizou a geração de músicos de que sua mãe fez parte, bem como as gerações imediatamente anteriores. E avalia que o Brasil teve a oportunidade de experimentar uma confluência de talentos ímpar. “Foi quase uma Supernova, uma estrela que explodiu e espalhou um monte de elementos novos pelo universo. Isso não acontece a toda hora”, diz. “Acho que a gente tem um pensamento, muito ligado à indústria de consumo, que nos dá a impressão de que, a qualquer momento, vai aparecer um Paulinho da Viola, uma Elis Regina, uma Elza Soares, uma Dolores Duran. Mas não vai.”

Ele diz que o Brasil continua abençoado no quesito talento musical, mas o cenário para a construção de uma carreira é bem mais desafiador. “Hoje, eu vejo muita gente com talento, mas parece que são engrenagens soltas, que não se ligam, não criam um novo ecossistema da chamada música popular brasileira.” Segundo Bôscoli, um dos motivos é a hiper fragmentação da música, fenômeno em que o consumo e a produção musical se tornaram extremamente diversificados e segmentados. “Não há um circuito, são pontos isolados.”

Para além da música, João Marcello também lançou-se no mundo literário, com o livro “Elis e Eu – 11 anos, 6 meses e 19 Dias com a Minha Mãe”, onde recupera, em tom comovente, as memórias da convivência com a mãe. Hoje, é o principal guardião de sua imagem. “A primeira lembrança musical que tenho é, naturalmente, da Elis, da minha mãe querida”, conta o músico.

Ouça abaixo a íntegra do Prato do Dia.