A Unesp vai ser a sede de quatro novos Centros de Ciência para o Desenvolvimento (CCDs) financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Com duração de cinco anos, o programa da Fapesp busca no conhecimento científico as soluções para questões sociais prementes, em parceria com secretarias estaduais e órgãos de governos, podendo congregar também o apoio de entidades privadas e do terceiro setor.
As propostas lideradas pela Unesp perfazem pouco mais de R$ 40 milhões para o financiamento dos novos quatro CCDs, que contemplam unidades de quatro câmpus universitários diferentes: São Paulo, Botucatu, Bauru e Tupã. Presente ao lançamento, a reitora Maysa Furlan destacou a abrangência territorial da Unesp, distribuída por 24 cidades paulistas, como um ponto de grande aderência ao programa, que está na quarta chamada. Foram anunciados nesta segunda-feira (29) pela Fapesp um total de 34 novos Centros de Ciência para o Desenvolvimento, com um investimento global de R$ 256,4 milhões.
“Nós estamos em 24 cidades e conhecemos muitas vezes o problema e o potencial da nossa universidade para resolver essas questões”, afirma a reitora Maysa Furlan. “Penso que a Unesp, como eu disse (no discurso), tem uma aderência muito grande para o programa porque detém um espaço territorial que outras universidades não detêm. Consequentemente, interage e conhece os problemas”, disse a reitora, que em seu discurso destacou também a importância da preservação da autonomia para a prática universitária.
Em São Paulo, o Instituto de Artes da Unesp vai ser a sede do Centro Interdisciplinar para o Desenvolvimento da Pesquisa em Música (CiDPMus), que prevê a educação musical voltada para a saúde mental de adolescentes e jovens estudantes dos projetos Guri e Emesp (Escola de Música do Estado de São Paulo) Tom Jobim, em parceria com a Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo. O valor proposto é de R$ 8,7 milhões.
Em Botucatu, o CCD vai ser abrigado no Cempas (Centro de Medicina e Pesquisa em Animais Selvagens), hoje reconhecido como Centro de Triagem e Reabilitação (Cetras) universitário e habilitado a receber, identificar, avaliar, reabilitar e destinar espécimes da fauna silvestre e da fauna exótica. A instituição pública parceira neste CCD é a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo (Semil), que abriga, entre outros órgãos, o DER (Departamento de Estradas e Rodagens), um ator importante do dia a dia do Cempas, que reabilita animais atropelados nas rodovias paulistas. A proposta é de R$ 1,8 milhão.
“A ideia é que o nosso centro seja tipo um case e se multiplique para outras universidades, inclusive outras partes da Unesp”, afirma a professora Sheila Canevese Rahal, coordenadora do Cempas, que esteve na Fapesp para o lançamento dos novos CCDs. “Temos um centro de medicina e pesquisa em animais selvagens e várias ações em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente. Esta integração (do CCD) vai ser muito boa. Vamos desenvolver várias pesquisas”, diz a docente, lembrando que o trabalho será realizado também em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Animais Selvagens da Unesp, o primeiro do país.
Outro Centro de Ciência para o Desenvolvimento com sede na Unesp é chamado BioForti na Saúde, ou BFS, na Faculdade de Ciências e Engenharia do câmpus de Tupã. Trata-se de uma plataforma integrada para o desenvolvimento, análise e validação de alimentos biofortificados e funcionais que visa desenvolver uma solução para combater a deficiência de selênio e seu impacto nas Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs) no estado. O foco inicial será o amendoim enriquecido com selênio. O parceiro é o Instituto de Tecnologia de Alimentos, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. A proposta contemplada é de cerca de R$ 12 milhões, por cinco anos.
“Vamos ter uma parceria também com a Famema (Faculdade de Medicina de Marília) para a realização de estudos pré-clínicos e clínicos (fase 1)”, afirma o professor André Rodrigues dos Reis, da FCE-Unesp e responsável pelo CCD.
Docente da Faculdade de Ciências do câmpus de Bauru e pesquisador no campo de inteligência artificial, o professor João Paulo Papa vai liderar um centro denominado CePEX, ou centro paulista de integração de dados para monitoramento de eventos extremos. Este CCD tem como Instituição pública parceira a Casa Militar do Governo do Estado de São Paulo, que abriga a Defesa Civil estadual, e foi concebido para, entre outros pontos, utilizar ferramentas de inteligência artificial em articulação com o futuro Centro Paulista de Radares e Alertas Meteorológicos do Estado de São Paulo. O valor da proposta é de aproximadamente R$ 18 milhões.
“No Século 21, a grande preocupação das universidades e dos institutos de pesquisa sempre foi o relacionamento com a sociedade porque, de uma maneira ou de outra, as exigências da sociedade modificaram nas últimas décadas e o relacionamento da universidade com a sociedade mudou”, afirmou, em seu discurso, o secretário estadual de ciência, tecnologia e inovação Vahan Agopyan, reforçando a relevância do programa dos CCDs-Fapesp. “Foi necessário que as universidades e os institutos de pesquisa ficassem mais próximos para mostrar para a sociedade que essas instituições existem para solucionar os seus problemas. As universidades e os institutos de pesquisa fazem parte da solução dos problemas (…) Temos que dialogar e interagir com a sociedade. Não é apresentar os nossos resultados para a sociedade, mas ver as expectativas que a sociedade tem da gente”, disse.
A cerimônia de lançamento dos 34 novos Centros de Ciência para o Desenvolvimento foi simultânea à posse formal do novo diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da Fapesp, o físico e professor da Unesp Carlos Frederico de Oliveira Graeff, que também enfatizou em sua fala a importância dos CCDs para aumentar a interlocução da pesquisa científica realizada no Estado de São Paulo com a sociedade.
“Reafirmo aqui o meu compromisso com a missão da Fapesp, compromisso com a ética, com a transparência e com a transformação do estado através da ciência, da tecnologia e da inovação”, afirmou Carlos Graeff, que enumerou a manutenção da excelência acadêmico-científica, a ampliação do diálogo com a sociedade e a criação de “mecanismos e pontes para que essa ciência de alta qualidade vire aplicações e bem-estar social” como seus compromissos de gestão. O docente cumprirá mandato de três anos.
A Fapesp apoia, já contando as 34 propostas recém-contempladas, 83 CCDs, que reúnem cerca de 3.000 pesquisadores. A quarta chamada do programa envolveu 13 secretarias estaduais e 15 prefeituras, com perspectiva de expansão de número de órgãos públicos envolvidos. Durante o evento, o presidente do Conselho Superior da Fapesp, o professor Marco Antonio Zago, anunciou para outubro a abertura da quinta chamada para a criação de novos Centros de Ciência para o Desenvolvimento (CCDs), no valor de R$ 200 milhões. “Assim a Fapesp mantém a sua tradição de pioneirismo trazendo a ciência para a vida diária dos cidadãos paulistas”, disse o professor Marco Antonio Zago.
Compuseram a mesa da cerimônia, além do professor Zago, a vice-reitora da USP Maria Arminda do Nascimento Arruda, a reitora da Unesp Maysa Furlan, o secretário estadual de ciência, tecnologia e inovação Vahan Agopyan, o novo diretor-presidente do CTA-Fapesp Carlos Graeff, o secretário estadual dos direitos da pessoa com deficiência Marcos da Costa e o secretário-executivo da Casa Civil do governo paulista Fraide Sales. A presidente da Academia Brasileira de Ciências, Helena Nader, enviou um vídeo veiculado durante o evento.
Veja abaixo o vídeo da cerimônia de anúncio dos novos CCDs realizada no auditório do prédio da Fapesp, localizado na zona oeste da capital paulista.
Imagem acima: Da esq. para dir.: os professores Maria Arminda e Marco Antonio Zago; os secretários Marcos da Costa, Vahan Agopyan e Fraide Sales; e os professores Maysa Furlan e Carlos Graeff. Fotos: Fábio Mazzitelli