Big Chico comemora três décadas a serviço do blues

Reconhecido como um dos nomes mais expressivos do estilo no Brasil, o gaitista fala do novo álbum e rememora momentos marcantes de sua trajetória nos palcos e estúdios, com destaque para encontro com o lendário guitarrista B.B. King.

Francisco Carlos Barbosa, popularmente conhecido como Big Chico, nasceu em Cananéia, litoral Sul do Estado de São Paulo. Posteriormente, mudou-se com a família para a capital e mais tarde se radicou na cidade interiorana de Jundiaí, onde reside há 40 anos.

Ele conta que sua família passava muito tempo escutando música, e essas audições formaram a base para seu gosto musical e para o artista que se tornaria no futuro. “Meu pai, minha mãe e meus irmão ouviam muita música. Eu sou o caçula e absorvi várias influências graças a eles”, diz. As canções que saíam do dial e dos discos de vinil da família vinham de grandes nomes da música brasileira dos anos 1970 e 1980,  incluindo Agepê, Martinho da Vila, Jorge Ben e Bebeto, mas também de artistas de fora, como Doobie Brothers, Bee Gees, Led Zeppelin, Jackson 5 e Earth Wind and Fire. “Hoje gosto de um pouco de tudo que é bom. Mas a influência da black music foi muito forte, tanto da música negra americana quanto da música brasileira”, relembra Chico.

Na adolescência, passou a frequentar os bailes de black music que rolavam em São Paulo. “Nessa fase, ia aos bailes do Chic Show e Black Magic. Havia muita influência da black music, a música negra americana, mas tocava também música brasileira e samba rock. Músicas de Brown, Tim Maia, Earth Wind and Fire. Junto com os clássicos do funk e do soul dançávamos músicas das bandas de swing, sons de nostalgia e música lenta, como a gente chamava. Até que veio o início do hip hop… Cresci nesse ambiente. Para mim, o envolvimento com a música começou desde muito cedo”, diz.

Amor ao primeiro sopro

Motivado pelo pai, que trabalhava como mestre de obras, Chico foi estudar engenharia civil. Cursou a área de edificações em um colégio técnico, e em seguida ingressou na faculdade. Foi nessa época que descobriu a gaita. “Comecei com a gaita justamente no período que cursava engenharia. Nos anos 1990, cantava numa banda de baile, por hobby. Quando entrei na faculdade, estagiava na Secretaria de Obras de Jundiaí, como fiscal de obras. Todos os estagiários gostavam de música. Um tocava guitarra, outro baixo, outro bateria. Eu, que sempre gostei de cantar, acabei entrando na banda. Um dia, estava estudando cálculo na casa de um amigo, e tinha uma gaitinha lá. Peguei aquela gaitinha e foi amor ao primeiro sopro. Tive uma facilidade muito grande para tocar. Tirei umas notas, comecei a brincar e, em três meses, já estava tirando uns sons”, conta. Seguiu no curso de engenharia até o terceiro ano, e trabalhou no ramo até 2001. “Mas a música já estava determinada, não adiantou”, diz.

Iniciou-se na vida de músico em 1995, cantando em bares, ganhando cachês mais baixos e vivendo as dificuldades de qualquer início. “Tudo começou há 30 anos. A gente tocava em bares, aqui em Jundiaí. Havia um shopping onde fazíamos um show de graça, aos domingos, que parava a cidade”, lembra.

Apesar de sua musicalidade e de sua facilidade natural, o músico procurou bons professores para se aprofundar no instrumento. “Tive o privilégio de estudar com o Flávio Guimarães, do Blues Etílicos, que é um mestre que dispensa comentários”, lembra. Também estudou com nomes como Ulysses Cazallas, Clayber de Souza, Sérgio Duarte e Paulo Meyer. “Peguei uns toques legais também com o Rod Piazza, em 2005 e 2006, quando morei nos Estados Unidos. Entretanto, mesmo tendo estudado com grandes mestres, digo que ouvir bastante música também faz parte do processo de aprendizado”, diz. Nos EUA, ele gravou o CD Blues Dream.  

Durante sua carreira, o instrumentista apresentou-se em diversos festivais e casas de show de blues e de jazz pelo Brasil e pela Europa, e também no Chile e na Argentina. Foi destaque em jornais e revistas internacionais como Back To The Roots Blues Magazine, da Europa, e The Wall Street Journal, dos EUA, que o apresentaram como um dos expoentes do blues contemporâneo no Brasil. Ele já tocou ou colaborou com ídolos do blues mundial como Rod Piazza, Lurrie Bell, Mark, Hummel, Claudete King (Filha do B.B.King), Chris Cain, Lorenzo Thompson e Jimmy Burns, dentre outros. Fora dos palcos e estúdios, Big Chico também atua como professor e produtor, além de ser endorsee da fabricante de gaitas SHG HERING, empresa com mais de 100 anos de tradição no ramo dos instrumentos musicais.


Três décadas de blues

Neste ano em que celebra três décadas na estrada, Big Chico lançou no mês de maio o álbum Big Chico, 30 anos de Blues. A obra destila as muitas influências que o músico acumulou em sua carreira, apresentando números de blues tradicional temperados com a energia e o balanço do soul e a sofisticação do jazz.

“No álbum revisitei minhas influências, em especial o blues de Chicago, e também um pouco de blues do Texas. Voltei a pesquisar os gaitistas de que mais gosto, como Little Walter e James Cotton, que são os pilares do blues de Chicago. Foi gravado ao vivo num estúdio em Jundiaí. É um álbum tradicional, que usa mais a gaita diatônica mesmo, mais visceral. Tem uma música, Nobody loves me but my mother, do B. B. King, que a gente regravou. Don’s Tunes, que é um grande produtor e influenciador, produziu um clipe no YouTube para a nossa gravação, que foi lançado no dia das mães e já alcançou mais de cem mil visualizações. O disco também traz as participações especiais de D.K.Harrell e Laretha Weathersby”, diz.

Entre os muitos momentos marcantes que viveu em sua carreira destaca-se o encontro que teve com um dos grandes expoentes do blues em todos os tempos, o mítico B.B.King. “Conheci oB. B. King no bar dele, em Holywood. Toquei lá. Para mim, foi um sonho realizado. O B. B. King é um cara que representa o blues no mundo. Lembro que beijei a mão dele, entreguei um CD meu e pedi: abençoa aí, paizinho”, conta.

Confira a entrevista completa no Podcast MPB Unesp.