Há 95 anos, surgia em Princeton, nos Estados Unidos, o primeiro Instituto de Estudos Avançados. Criado pelo educador Abraham Flexner, a nova instituição tinha como objetivo modernizar o ensino superior apostando no apoio à pesquisa científica e à liberdade acadêmica. A iniciativa atraiu algumas das grandes mentes científicas da época – nomes do quilate de John von Neumann, Hermann Weyl e Albert Einstein – e logo se consolidou como um polo de excelência científica. O sucesso do IEA de Princeton se tornou um modelo que, ao longo dos anos, foi adotado por várias universidades ao redor do mundo.
Em 2016, a Unesp teve sua primeira experiência com esse modelo de instituição, com a criação do Instituto de Estudos Avançados do Mar, que está em funcionamento desde então. Em agosto deste ano, surge uma nova proposta com a criação do Núcleo de Estudos Avançados (NEAv). Vinculado ao Gabinete da Reitoria, o NEAv terá como missão realizar pesquisas e investigações científicas de caráter interdisciplinar, com o objetivo de auxiliar a gestão da Universidade e de suas unidades na solução de desafios contemporâneos.
O núcleo será liderado por um Conselho Gestor, formado por oito membros: um coordenador, cinco docentes, um servidor ligado à área de pesquisa e um discente da pós-graduação. Os mandatos terão duração de quatro anos, e os nomes serão indicados pela Reitora, pela Pró-Reitoria de Pesquisa e pelo Conselho Universitário. O primeiro coordenador escolhido para comandar a iniciativa é o professor Eduardo Colombari, da Faculdade de Odontologia de Araraquara.
Colombari define o projeto do NEAv como um “laboratório de ideias interdisciplinares”. O núcleo funcionará de forma independente das estruturas tradicionais da universidade, como cursos e departamentos, o que permitirá assegurar maior liberdade aos pesquisadores que trabalham pela solução de problemas complexos. “O Conselho Gestor pode envolver até mesmo pessoas de fora da universidade. O NEAv já conta com um professor colaborador convidado: o professor Guilherme Ary Plonski, que foi diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP”, diz.
O Coordenador do NEAv explica que a proposta para a atuação do novo instituto não se restringe apenas a uma temática ou área do conhecimento. O modelo a ser implementado envolverá diversos grupos de trabalho atuando de forma simultânea em diferentes frentes com foco na resolução de questões reconhecidamente relevantes para a universidade e para a sociedade, incluindo o combate às mudanças climáticas, o aperfeiçoamento da educação no ensino superior e o desenvolvimento de novas tecnologias. Cada um desses grupos, chamados de cátedras, ficará responsável por um tema específico, que poderá ser definido pela Reitoria, pelo Conselho Gestor ou por órgãos colegiados, como o Conselho Universitário.
As cátedras terão duração de um a dois anos. Durante esse período a equipe poderá se aprofundar sobre o tema escolhido e produzir artigos, publicações científicas, livros e documentos, e também métodos e procedimentos acadêmicos que contribuam com a gestão. “Com esse trabalho esperamos melhorar a nossa universidade, para que ela esteja cada vez mais contemporânea e em sintonia com a nossa sociedade”, diz o coordenador.
A universidade como objeto de estudo
A primeira cátedra já está definida e terá como tema de estudo a crescente evasão e desinteresse das novas gerações pelo ensino superior. Segundo o Mapa do Ensino Superior no Brasil 2025, produzido pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), a taxa de desistência em instituições públicas de ensino superior chegou a 41,6% entre 2019 e 2023. Somente em 2023, esse percentual foi de 28,6%.
O cenário é semelhante nas faculdades privadas, onde a evasão no mesmo período foi de 61,3%, considerando tanto cursos presenciais quanto a distância. Para Colombari, trata-se de um fenômeno observado também em outros países, cujas causas ainda não estão claramente estabelecidas.
“Os jovens hoje, muitas vezes, não veem a universidade como um caminho de progressão. Mas por que está ocorrendo esse desinteresse? Será que a universidade, no modelo atual, supre as necessidades do estudante? Ela é atrativa ou não? Isso precisa ser estudado e avançado para que possamos oferecer aos estudantes cursos que serão úteis no futuro. Tudo isso sem perder a essência da universidade, que é ensinar, fazer pesquisa e extensão, mas com propósito e missão institucional”, explica o docente.
A proposta é que o NEAv produza subsídios científicos para embasar decisões institucionais sobre o tema. “Queremos auxiliar os nossos gestores, tanto da reitoria quanto dos cursos, os diretores, os professores, os departamentos, a nortearem suas decisões para que eles possam inovar”, completa.
O Conselho Gestor e os integrantes da primeira cátedra ainda serão definidos. A primeira ação do NEAv, no entanto, já está programada: um ciclo de palestras, de agosto a outubro, reunirá pesquisadores e professores de diferentes instituições para debater o ensino nas universidades. “Esses encontros vão propor uma reflexão sobre as práticas docentes dentro das unidades, departamentos e salas de aula, buscando caminhos para tornar o ensino mais atrativo e reduzir a evasão”, comenta Colombari.
As palestras acontecerão na plataforma Google Meet e serão abertas ao público. A primeira edição acontecerá no dia 13 de agosto, com participação do professor emérito da Universidade Federal da Bahia, Naomar de Almeida Filho [ver imagem abaixo]. Também estão confirmados nomes como Luiz Bevilacqua, docente emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro e ex-presidente da Agência Espacial Brasileira; o sociólogo e membro da Academia Brasileira de Ciências Simon Schwartzman; e o sociólogo Luiz Curi, conselheiro do Conselho Nacional de Educação.

A programação do evento, assim como demais informações sobre o núcleo, estão disponíveis no site do NEAv-Unesp.