Explorando Olhares: Fotógrafo de Vida Selvagem do Ano

Exposição das fotografias premiadas no concurso Wildlife Photographer of the Year, do Museu de História Natural de Londres, chega pela primeira vez ao Brasil mediada pela Unesp; mostra será aberta na próxima terça-feira, dia 28, no Memorial da América Latina, em São Paulo

Diante de eventos que atestam importantes mudanças no clima ao redor do mundo, é urgente que o ser humano entenda os impactos que essas transformações geram sobre a Terra e busque ações de preservação do planeta em que vivemos, alertam os cientistas. Neste contexto, voltar os olhares para a vida selvagem e a natureza, dentro ou fora dos centros urbanos, é em certa medida sensibilizar-se para a causa ambiental global. 

Isto é o que fazem anualmente dezenas de milhares de fotógrafos, profissionais ou amadores, no concurso Wildlife Photographer of the Year (Fotógrafo de Vida Selvagem do Ano), competição organizada pelo Museu de História Natural de Londres, no Reino Unido, cuja exposição chega pela primeira vez ao Brasil. Cem fotografias vencedoras do concurso realizado em 2023, com os mais variados flagrantes da vida selvagem no planeta, farão parte de uma mostra instalada para uma temporada de três meses na Galeria Marta Traba, no Memorial da América Latina, em São Paulo.

A exposição será inaugurada na próxima terça-feira, 28 de maio, às 16h, e ficará aberta ao público até 25 de agosto deste ano. A entrada é gratuita. A mostra itinerante, que estava na França, é inédita em um país da América Latina e reúne 100 fotos de um universo de 49.957 imagens inscritas na 59ª edição do concurso, que teve representantes de 95 países. A exibição é uma produção da Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp e resultado de uma parceria entre a Universidade, o Instituto Questão de Ciência (IQC), a Fundação Editora da Unesp (FEU) e o Memorial da América Latina.

“Enfrentamos crises de biodiversidade e do clima que são urgentes e a fotografia tem um poder único de nos conectar com o que não veríamos ou apreciaríamos de outra forma. O concurso Fotógrafo de Vida Selvagem do Ano revela algumas das paisagens mais incríveis da natureza ao mesmo tempo que apresenta evidências convincentes do nosso impacto no meio ambiente”, diz Doug Gurr, diretor do Museu de História Natural de Londres. “As fotografias premiadas são um chamado para a ação e a proteção do mundo natural.”

De acordo com o professor Marcelo Takeshi Yamashita, coordenador da exposição e assessor-chefe da Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp, a ideia de trazer a exposição ao Brasil surgiu de uma conversa com o diretor de educação do Instituto Questão de Ciência, Luiz Gustavo de Almeida, que visitou o Museu de História Natural de Londres no ano passado e teve o primeiro contato com as fotos vencedoras de 2023 e a proposta de conscientização ambiental que acompanha a mostra. “Foi um esforço imenso para trazer pela primeira vez esta exposição para um país latino-americano. A mostra é uma viagem por fotografias surpreendentes que nos inspiram a pensar sobre a nossa relação com a natureza”, afirma Yamashita. “Além disso, a exposição fortalece ainda mais as conexões da universidade pública com toda a sociedade”, complementa.

Na visita ao museu londrino, Luiz Almeida, do IQC, afirma ter ficado muito impactado com as imagens da exposição e tomado contato com histórias de fotos selecionadas para o concurso que mudaram o rumo de políticas públicas nos locais em que foram registradas. “Nesse mundo tão rápido em que a gente vive, uma foto, por incrível que pareça, pode causar mudanças de comportamento e mudanças de políticas públicas, como por exemplo histórias relacionadas a animais que estavam em risco de extinção, apareceram em imagens do concurso e causaram grande comoção. Esse é o lance legal desse concurso”, diz Almeida.

A imagem que levou o grande prêmio do Wildlife Photographer of the Year em 2023, captada pelo biólogo marinho e fotógrafo Laurent Ballesta, mostra um caranguejo-ferradura (Limulus polyphemus) escoltado por três pequenos peixes, trevallies dourados (Gnathanodon speciosus), em um registro do fundo do mar que nos transporta para “outro mundo”, segundo as palavras da diretora de fotografia da National Geographic Kathy Moran, presidente da comissão julgadora do concurso.

“Uma fotografia vencedora combina aquela mistura indescritível de composição, momento e, quiçá, algo surpreendente. No caso do caranguejo-ferradura de Laurent Ballesta, o júri considerou que todos esses elementos se fizeram presentes. O caranguejo está lindamente iluminado e emoldurado e a escolta de trevallies dourados foi um grande acaso. Juntos, eles se sentem de outro mundo, como se pudessem se mover pelo espaço com a mesma facilidade com que deslizam pela água”, escreveu Kathy Moran ao Jornal da Unesp. “Embora a imagem seja maravilhosa, o toque final para nós foi a oportunidade de destacar espécie tão raramente vista ou considerada”, afirma a editora.

Kathy Moran diz que o processo de escolha dos vencedores do Fotógrafo de Vida Selvagem do Ano é uma oportunidade de aprender com as experiências retratadas nas imagens. “Somos coletivamente inspirados e desafiados pelas fotografias e esperamos que o público experimente o mesmo. Seja na captação de um momento fugaz do mundo natural, seja no registro do que acontece na vida selvagem, o nosso objetivo é compartilhar (com o público) tanto nossa admiração como nossa preocupação.”

Oficinas e visitas guiadas

Na temporada brasileira, a exposição vai ter oficinas de fotografia para públicos variados e vai acolher visitas monitoradas direcionadas a escolas de ensino básico. “Há um interesse científico em si (na exposição) e é nosso objetivo levar cultura científica ao público em geral, passar para a sociedade aquilo que a ciência pode apresentar para instigar as pessoas a participarem do esforço científico, que se confunde com o esforço humano”, diz o professor Jézio Hernani Bomfim Gutierre, diretor-presidente da Fundação Editora da Unesp.

O concurso de fotos existe desde 1965, cresceu em popularidade no Reino Unido nas suas primeiras décadas e, nos anos 1980, foi encampado pelo Museu de História Natural de Londres, que expandiu os horizontes da competição e passou a realizar a mostra itinerante mundo afora. Em andamento, a 60ª edição alcançou cerca de 60 mil inscrições, com representantes de 117 países –o resultado será conhecido no segundo semestre.

A comissão julgadora deste ano, pela primeira vez, tem um participante brasileiro, o fotógrafo Luciano Candisani. Pessoas residentes em países da América do Sul e da América Central, áreas sub-representadas no concurso, tiveram isenção da taxa de inscrição na atual edição, uma forma de promover o engajamento de quem vive em uma das regiões que possui relevância ambiental incontestável para o planeta.

“Esperamos que a visita à exposição (no Brasil) também inspire e incentive mais fotógrafos latino-americanos a entrar e compartilhar suas histórias do mundo natural”, afirma Doug Gurr ao Jornal da Unesp, destacando que o concurso de fotografia está aberto a “fotógrafos de todas as idades e níveis de experiência de todo o mundo”.

Para Roberto Bertani, diretor do Centro Brasileiro de Estudos da América Latina, braço acadêmico do Memorial da América Latina, a exposição das fotos vencedoras do concurso Wildlife Photographer of the Year ajudará a democratizar a ciência em linha com a missão institucional do equipamento cultural.

“Ter a possibilidade, mediada pela Unesp, de receber uma exposição de tal envergadura é um privilégio que vai ao encontro da busca do Memorial de uma aproximação com a comunidade, com a comunidade latino-americana. E também trabalhamos fortemente para nos aproximarmos das questões ligadas ao meio ambiente e às relações do homem com a natureza, que é proposta do concurso”, diz.


SERVIÇO
Wildlife Photographer of the Year / Fotógrafo de Vida Selvagem do Ano

  • Quando: de 28 de maio a 25 de agosto de 2024
  • Onde: Galeria Marta Traba, no Memorial da América Latina. (Avenida Mário de Andrade, nº 664, São Paulo-SP; próximo ao Terminal Barra Funda)
  • Dias e horários: terça-feira a domingo, das 10h às 17h; última admissão às 16h30
  • Ingresso: entrada gratuita, para todas as idades
  • Produção: Assessoria de Comunicação e Imprensa (ACI) da Unesp
  • Parceria: ACI Unesp, Instituto Questão de Ciência, Fundação Editora da Unesp e Centro Brasileiro de Estudos da América Latina do Memorial da América Latina

Foto de abertura: caranguejo-ferradura, Laurent Ballesta / 59º Wildlife Photographer of the Year