Bruno Marques: o encontro das Minas Gerais com o universo do Blues

Referência de guitarrista e performer do estilo em seu estado natal, músico também se destaca como produtor de eventos e agitador cultural, estabelecendo pontes entre o público brasileiro e os grandes nomes internacionais.

Celebrado como uma das principais referências do Blues em Minas Gerais hoje, Bruno Marques — Bruno Henrique Marques de Oliveira, na certidão de nascimento — nasceu em Belo Horizonte, em 4 de março de 1983. Ainda durante a infância, transcorrida na capital mineira, descobriu a arte por meio das amizades, começou a tocar guitarra na adolescência e construiu uma carreira como instrumentista e produtor cultural.

Ele diz que sua família gostava de ouvir música, mas não foi a fonte do seu interesse pela arte. “Meu avô gostava muito de música caipira raiz. Essa lembrança é forte para mim. Mas o meu despertar musical ocorreu mesmo por meio de amizades”, relata. Aos 11 começou a trabalhar como office-boy no escritório de contabilidade do pai, e juntando o dinheiro que recebia conseguiu adquirir o primeiro violão aos 14 anos. “Daí, fui aprendendo sozinho, nesse círculo de amizades e gostos afins. Ouvia as músicas e fui tirando do meu jeito. Mais para a frente fui estudar”, diz.

Graças ao dinheiro que tinha conseguido juntar, aos 16 anos recebeu a proposta de investir para adquirir um terreno na região metropolitana de BH, onde futuramente poderia erguer sua própria casa. “Tive a opção de comprar esse lote ou investir em equipamento para formar uma banda de rock. Fiquei naquela sinuca de bico. Mas decidi comprar minha guitarra golden, pedaleiras, caixa de som, e montar minha própria banda. Gosto de contar essa passagem pois foi determinante na minha vida.”

E o estilo que atraía a atenção dos jovens à época era o rock de vertente grunge, produzido por bandas como Nirvana, Pearl Jam e Alice in Chains. Marques se dedicou a este repertório inicialmente e, com o tempo, seu interesse pela guitarra o levou a descobrir o rock dos anos 1970 e alguns dos seus grandes nomes, como Led Zeppelin e Black Sabbath. Mais maduro, descobriu o Blues.

Ele relata o impacto que esse contato com o estilo musical norte-americano, também facilitado pelas amizades musicais, exerceu sobre sua carreira. Um amigo gaitista possuía um acervo imenso de CDs, livros e DVDs de Blues. Sempre que recebia Marques em casa, apresentava a ele algum material de sua coleção. Certa vez, Marques pegou emprestado um CD com uma antologia de melhores guitarristas, na qual havia a faixa The Score, do guitarrista norte-americano Robert Cray. Marques ficou fascinado. “Ouvi mais de 50 vezes. Me impactou diretamente, comecei a tentar tocar aquilo da minha forma, e assim despertei para o Blues”, diz. A partir dali procurou conhecer o estilo, tomar contato com as obras dos mestres. Montou a primeira banda, intitulada Taxman Blues, da qual participou inclusive o amigo gaitista. “Gravamos um CD de músicas autorais em português e assim nunca mais parei”, conta. Depois da Taxman Blues vieram outras experiências, a Blues Horizonte e a Bruno Marques Band.

O desafio da profissionalização

Qualquer um que se disponha a viver como músico de Blues no Brasil está optando por uma trajetória bastante desafiadora. E Minas Gerais não tinha uma cena muito consolidada. “Em BH não havia muitas casas para novos músicos e bandas. Aliás, até hoje é assim. Posteriormente me tornei curador artístico de casas noturnas, e trabalho nessa área há 13 anos. Ou seja, estou dos dois lados: do músico e do produtor”, diz.

No aspecto empresarial, criou a Marques Produções, destinada a trabalhar com carreiras, casas noturnas, festivais e eventos em geral. Produziu shows de Almir Sater, Erasmo Carlos, Paralamas do Sucesso, Biquini, Cidade Negra, Fernando Anitelli, Nasi, Detonautas, CPM 22, Raimundos, RPM, Supla e  Blaze Bayley (ex-vocalista do Iron Maiden), dentre outros.

Uma das iniciativas de maior sucesso é o Rota do Blues, que ocorre em diversas datas durante o ano. O evento traz artistas internacionais para se apresentarem junto a brasileiros. O Rota do Blues já passou por mais de 40 cidades de 11 estados do Brasil. Em junho de 2023 ocorreu a turnê por Buenos Aires, Mendoza e Azul na Argentina. Além dos EUA, o Rota tem conexões com artistas do México, Itália, Espanha, Inglaterra, Austrália, Portugal, Chile, Uruguai e Argentina. Devido ao sucesso, e à boa qualidade dos nomes internacionais e nacionais que se apresentam, tornou-se um dos projetos mais conceituados da cena do Blues do Brasil.

Como artista, Bruno Marques participou dos principais festivais do gênero no país,  como o  Festival BB Seguros de Jazz e Blues, o Mississipi Delta Blues Festival, o Rio das Ostras Jazz e Blues Festival, o Buena Vista Jazz e Blues Festival, o Carrancas Blues Festival, o São Lourenço Jazz e Blues Festival, o Gravatá Jazz Festival e o  Circuito SESC de Jazz e Blues, entre outros.

A troca musical entre os EUA e o Brasil

Também destaca-se sua atuação como músico acompanhante de artistas estrangeiros que se apresentaram pelo Brasil. A lista extensíssima inclui nomes como Lurrie Bell, Jimmy Burns, Chris Cain, Shy Perry, Bill HowIN-Madd Perry, James “Boogaloo Bolden”, Harmônica Hinds, Terry Harmônica Bean, Tyrone Vaughan, Alma Thomaz, Laretha Weathersby, James “Super Chikan” Johnson, Little Joe McLerran, Breezy Rodio, Alessandra Salerno, Maurice John Vaughan, Michael Dotson, Birdlegg, DK Harrell, Lil Jimmy Reed, Omar Coleman  e Lorenzo Thompson.

Com o Taxman Blues ele gravou um álbum homônimo, e em 2021 veio o DVD Lorenzo Thompson ao vivo em Belo Horizonte. Também participou do álbum The Blues Project Internacional com músicos do Brasil, USA, México e Argentina, e foi retratado no documentário longa metragem Blues Horizonte. Em 2022, participou do show Nasi, Flávio Guimarães, Bruno Marques e Netto Rockfeller Band.


“Nosso trabalho visa a difusão cultural do Blues, mas também mostrar o potencial da nossa cultura e da música brasileira para os músicos estrangeiros que vem aqui, e para o público de forma geral. Nossa música é muito rica. Temos referências maravilhosas, que devemos seguir, e também apresentamos nos palcos. Por exemplo, quando apresento um músico que toca viola caipira, os bluesmen ficam encantados, pois a sonoridade remete a lugares como o Mississipi. Esse intercâmbio cultural também valoriza a nossa música popular brasileira.”

Confira abaixo a entrevista completa no Podcast MPB Unesp.

Imagem: divulgação.