O uso de hidroxicloroquina para tratamento da covid-19 causou cerca de 17 mil mortes em seis países da Europa e América apenas durante a primeira fase da pandemia. É o que diz um estudo conduzido por pesquisadores de instituições do Canadá e da França, principalmente da Universidade de Lyon, que analisou casos de óbito entre pacientes na Bélgica, França, Itália, Espanha, Turquia e Estados Unidos. O artigo foi divulgado antecipadamente, e será publicado no mês que vem em Biomedicine e Pharmacoterapy.
Os estudiosos analisaram os dados de hospitalização por covid-19 nos seis países e rastrearam a exposição de pacientes ao medicamento e o crescimento do risco relativo de morte. A estimativa final de mortes relacionadas ao uso de hidroxicloroquina ficou em 16.990, somando-se os casos das seis nações. O aumento no risco de morte foi atribuído pelos autores, principalmente, a distúrbios no ritmo cardíaco.
Em entrevista à Radio Unesp, o diretor da Faculdade de medicina de Botucatu, o médico Carlos Magno Fortaleza, que integrou o centro de contingências do Estado de São Paulo, destaca a relevância do estudo. Ele explica que, ainda no início da pandemia, dados obtidos pelas autoridades médicas da China sugeriam que o uso da hidroxicloroquina poderia beneficiar doentes de covid-19, atuando como um tratamento precoce capaz até mesmo de impedir internações. “Este achado foi testado em estudos de larga escala. Um destes estudos foi conduzido no Brasil e com participação da FMB. E os estudos brasileiros estavam entre aqueles de maior qualidade”, diz.
Segundo o docente da Unesp, os estudos não mostraram benefícios. Além disso, identificaram que a hidroxicloroquina, até por sua capacidade de causar arritmias, determinava paradas cardíacas em algumas pessoas que foram tratadas com o medicamento. No entanto, nenhuma equipe de pesquisadores até agora havia tentado estimar o número de mortes causadas pelo tratamento, devido em parte às dificuldades metodológicas de elaborar esse cálculo. O desenvolvimento desta metodologia é uma inovação.
O médico diz considerar interessante a possibilidade de que uma pesquisa semelhante seja conduzida no Brasil, mas alega que haverá dificuldades. “Aqui muitas pessoas receberam o medicamento sem que houvesse registro disso, de uma maneira, digamos, oculta. É de esperar que os dados no Brasil sejam iguais ou até piores, tendo em vista a grande campanha pelo uso da medicação feita pelo governo à época”, diz. “A revisão dos erros do passado é essencial para que não sejam repetidos no futuro.”
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Imagem: Deposit photos.