Embora seu nome não seja familiar junto ao grande público, o argentino Tony Osanah construiu uma trajetória artística relevante no cenário brasileiro. Por aqui, seu talento versátil de multi-instrumentista esteve a serviço de nomes expressivos como os Beat Boys, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Gilberto Gil e Raul Seixas. Lá fora, também excursionou e tocou com músicos de alto calibre em turnês, e terminou optando por se fixar definitivamente na Europa nos anos 1990.
Tony Osanah nasceu com o nome de Sergio Dizner em Buenos Aires, Argentina, em 1947. Graças à influência do gosto musical de sua mãe, que tinha origem polonesa, cresceu ouvindo música clássica e blues em casa.”Ouvia os diferentes estilos de música que ela colocava para tocar na vitrola. Tchaikovsky, Mozart, Beethoven e Chopin, mas também blues, música gospel, Mahalia Jackson e Ray Charles, entre outros”, lembra. “Mas, quando conheci Bill Haley and his Comets, pirei. Comecei a tocar piano ainda criança. Mas, quando comecei a curtir esses sons, por volta dos oito anos de idade, minha vida musical ganhou novos ares”, conta.
Em 1966, ao lado dos amigos com quem tocava do grupo Beat Boys, decidiu deixar a Argentina e vir morar no Brasil, em São Paulo. Dentre as razões que lhe estimulavam a buscar uma mudança de ares estava a tensão política que pairava no país. “O óleo já estava fervendo demais. Decidi que não faria parte da fritura. No dia 6 de julho de 1966, apareci na Praça João Mendes para me reunir com meus amigos que já chegaram uma semana antes na cidade”, conta.
Após alguns meses conhecendo pessoas, fazendo contatos e tocando na noite paulistana, foi convidado para tocar no programa Jovem Guarda, que vivia seu período áureo. No ano seguinte, o grupo Beat Boys foi convidado a acompanhar Caetano Veloso, que apresentava a canção Alegria Alegria na terceira edição do Festival de Música Popular Brasileira organizado pela TV Record. O evento ocorreu entre 30 de setembro e 21 de outubro de 1967.
A edição foi considerada a mais marcante da era dos festivais, graças à qualidade das canções inscritas, ao talento dos jovens artistas que despontavam naquele palco e à audácia de Gil e Caetano, que nos arranjos para Alegria, Alegria e Domingo no Parque introduziram a guitarra elétrica na música nacional.
“O convite para participar pintou lá no Beco das Garrafas, quando apareceram Gil e Caetano e ficaram nos assistindo tocar blues, Beatles e outras sonoridades”, diz. Foram convidados para um ensaio no dia seguinte. Caetano lhes apresentou a canção, que era uma marcha rancho. “O arranjo foi feito por Willy Verdaguer, baixista que participou do Secos e Molhados. Ele trabalhou comigo e juntos fundamos o Raíces de América”, diz. “Me permito dizer que este marco cultural merece um quadro para o Museu do Louvre, para a música e a cultura brasileira. Enfim, fizemos parte da história”, diz.
Com o tempo, Tony Osanah tornou-se um cantor, compositor e multi-instrumentista requisitado dentro da música brasileira. Trabalhou com nomes como Gilberto Gil, Roberto Carlos, Ronnie Von, Raul Seixas, Maysa, Walter Franco, Erasmo Carlos, Tim Maia, Elis Regina, Raul de Souza e Lanny Gordin, dentre muitos outros.
Em 1969, compôs a trilha sonora e atuou no filme “Bonga, o Vagabundo” no papel do hippie Biba, amigo do protagonista, interpretado por Renato Aragão. Nesse período, pôs de lado o nome Sergio Dizner e adotou o apelido Tony, ao qual posteriormente acrescentou o sobrenome artístico Osanah. “A ideia veio da Elis Regina. Ela gravou a minha composição Osanah nos estúdios da Philips e sugeriu que eu adotasse o nome artístico”, lembra. Em 1972 compôs a música que lhe valeu o ingresso definitivo no cancioneiro da MPB. Cavaleiro de Aruanda foi gravada por Ronnie Von e ainda deu nome ao disco do artista, lançado no mesmo ano. A canção se tornou um sucesso cult, sendo regravada por nomes como Ney Matogrosso e Margareth Menezes, a atual ministra da Cultura.
Em 1978, fez uma turnê pelos Estados Unidos com sua banda de Blues, a Tony Osanah Bluesband, e o giro lhe deu oportunidade de tocar com o ídolo B. B. King. Em 1980, fundou o grupo musical Raíces de América. Em 1982, o grupo pegou o segundo lugar no festival MPB Shell, transmitido pela Rede Globo, com a música Fruto do Suor, da qual foi coautor. Ao longo dos anos 1980, fez diversas colaborações com nomes de expressão, como Raul Seixas e Zé Rodrix. No início da década de 1990 decidiu deixar o Brasil e se mudou para a Europa em busca de novas oportunidades. Lá reside até hoje.
“Essa mudança já faz mais de 30 anos. Apesar de ter tido excelentes oportunidades, ter construído minha carreira no Brasil e amar o país, no final dos anos oitenta estávamos vivendo um período politicamente e socialmente desastroso”, conta. Pai de um menino e de uma menina recém-nascida, ele começou a pensar em novamente partir para começar a vida em outro lugar. “Nesse sentido, a própria música brasileira e o blues me deram muito espaço. Até aqui, na Alemanha, onde vivo e trabalho. Sou muito requisitado musicalmente, e também para trabalhos sociais. Por meio do governo alemão, colaborei em trabalhos envolvendo causas sociais com o combate às drogas, à Aids, a falta de trabalho. Isso tanto na Europa quanto em regiões da África, como Ruanda.”
Durante 25 anos, ele atuou como professor de música em escolas primárias, e secundárias. Também se apresentou nas mais importantes prisões na Alemanha. “Inclusive fizemos um CD junto com os detentos”, diz. E sua ação como músico terapeuta o levou a universidades, hospitais e casas de asilos para idosos, dentre outros espaços. “Eu fui “avisado” dessas missões lá atrás, na época em que compus Cavaleiro de Aruanda”, diz.
Confira abaixo a entrevista completa no Podcast MPB Unesp.
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