Fabio Mazzitelli e Malena Stariolo
O desenvolvimento da física nuclear e a possibilidade de produção de energia em larga escala a partir de reações nucleares foram tragicamente aplicadas para fins militares no final da Segunda Guerra Mundial, com o lançamento das bombas atômicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, protagonizaram a corrida armamentista da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética no século passado e seguem ocupando papel de destaque nos dias de hoje, no centro do debate global sobre a substituição da energia obtida a partir da queima de combustíveis fósseis por fontes de energias consideradas mais “limpas”.
Coautor dos livros “Energia nuclear: Com fissões e com fusões” e “Física Nuclear e de Partículas – uma Introdução”, o professor Diógenes Galetti, pesquisador do Instituto de Física Teórica (IFT) da Unesp e um dos principais especialistas do Brasil na temática, acredita que a principal discussão a ser travada pelas próximas gerações envolve a produção energética como um todo. A energia nuclear é apenas mais um componente a ser avaliado por este olhar mais amplo sobre as alternativas que o ser humano dispõe para viver dignamente e em equilíbrio com o planeta. Para exemplificar, Galetti cita o exemplo da crise na Europa, que está buscando alternativas para substituir a energia antes obtida pelo gás importado da Rússia, fornecimento abalado com a eclosão da guerra da Ucrânia.
“No Niger, na África, está havendo uma rebelião contra a França, com apoio da Rússia. E eles são os fornecedores de urânio para a França. A França, como não tem muitas fontes de energia, vai ter que reativar os reatores (nucleares). Se não tiverem o urânio, não vão ter energia. O Partido Verde na Alemanha votou pela volta da queima de carbono. Você percebe que o jogo político e os ensaios das pessoas de falar em energia limpa começam a desmoronar na hora em que você tira a disponibilidade de energia. O que você faz? A pergunta é muito séria”, reflete o pesquisador.
No caso do Brasil, que planeja retomar as obras da usina nuclear Angra 3 e voltou a trabalhar firmemente na mineração de urânio, a matéria-prima utilizada nos reatores nucleares, Diógenes Galetti levanta questões que têm que ser respondidas por quem estuda a matriz energética brasileira.
“Essas questões estratégicas não podem ser dominadas por conceitos observados sob prismas muito elementares ou simplistas. Vai precisar (de energia)? De que porte? A gente tem condições de fazer? Qual é o nível de segurança? A segurança é tanta ou é maior do que a que você tem com a energia hidrelétrica? São muitas perguntas que têm que ser respondidas. Como é que você vai lidar com energia? Não é só a energia nuclear. Todos os matizes, tudo”, afirma.
No podcast Prato do Dia, o pesquisador do IFT-Unesp explica, de forma detalhada, como se obtém energia a partir de reações nucleares (fissão e fusão). Também lembra o trágico acidente na usina de Chernobyl, que espalhou uma nuvem radioativa pela Europa em 1986, e resgata detalhes do que foi o Projeto Manhattan e a Operação Alsos, cujos personagens são retratados no recém-lançado filme Oppenheimer, que conta a história do cientista que liderou a confecção da primeira bomba atômica pelos Estados Unidos, um marco na história da física nuclear.
Anos mais tarde, com o vazamento do segredo de como fazer a bomba atômica, alguns dos principais cientistas da área passaram a lutar por mecanismos que colocassem um freio na produção do arsenal nuclear, em movimentos como as Conferências Pugwash sobre Ciência e Negócios Mundiais. O número de testes nucleares já realizados desde o final da Segunda Guerra Mundial está na casa dos milhares. “O grande problema (das armas nucleares) é a quantidade de material radioativo que resulta depois da explosão”, diz Diógenes Galetti.
A íntegra desta edição do Prato do Dia, disponível na mídia abaixo, pode ser ouvida também na plataforma Podcast Unesp, bem como nos tocadores Google Podcasts, Spotify e Deezer. Este podcast é uma produção da Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp.