André Youssef: o chamado do piano

Com uma vocação musical revelada ainda na infância, o instrumentista incorpora elementos de vários estilos, mas é na cena do Blues que vem se firmando como sinônimo de qualidade. Entre os destaques de sua carreira estão colaborações com importantes nomes do gênero, abertura de grandes shows, apresentações com músicos estrangeiros e participação em álbum indicado a grammy.

“Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho”, já refletia o maestro, pianista e compositor carioca Tom Jobim no clássico “Wave”. Essa necessidade ultrapassa a esfera dos relacionamentos interpessoais, e alcança a necessidade de nos conectarmos com o que somos, aquilo de que gostamos e o que buscamos para nossas vidas. Essa também tem sido a perspectiva a nortear a estrada artística do músico André Youssef.

Natural de São Paulo, André Youssef é pianista, organista, cantor e arranjador. Aos 7 anos começou sua iniciação musical no CLAM (Centro Livre de Aprendizagem Musical), a pioneira escola de Música do Zimbo Trio. A relação com o piano, porém, já vinha das conexões familiares.

“Na minha formação tive bastante influência dos meus pais. Principalmente de canções dos anos 1950 e 1960 e artistas como Beatles, Elvis, Ray Charles, Johnny Rivers”, enumera. “Eles (os pais) não tocam nenhum instrumento, mas o meu avô paterno tocava piano, violino e flauta. Ele morreu no ano que eu nasci, em 1975. Infelizmente não tive o prazer de conhecê-lo. Não foi um profissional da música: era um arquiteto frustrado que trabalhava na área de contabilidade. Herdei dele um piano de 1890, que veio dos pais dele”, relembra Youssef. “Quando íamos para a casa da minha da minha avó em Campo Limpo Paulista, esse piano estava lá. Enquanto meus primos estavam na piscina ou passeando, eu ficava no piano o tempo inteiro das férias. Isso quando tinha 5, 6 anos. Depois, com 8 ou 9 anos comecei a ter aula de órgão e só depois tive aulas no piano, aos 15 anos”, lembra. “E é a minha paixão, o piano sem dúvida é meu principal instrumento.”

O que era brincadeira de criança desabrochou como um chamado da música, e Youssef decidiu segui-lo. “O engraçado é que, quando havia um piano no hotel durante as viagens em família, eu ficava fascinado, mas não podia mexer, era aquela coisa proibida. Mas eu sempre tive o fascínio pelos pianos e órgãos que via nos restaurantes e hotéis. Por ironia do destino, hoje toco em diversos restaurantes e hotéis que possuem pianos. É um misto inexplicável de coisas que só depois que você cresce, entende. Era o que eu iria fazer pelo resto da minha vida, e continuo fazendo”.

Com 29 anos de carreira, André Youssef criou um estilo peculiar e diferenciado de tocar, que lhe permite transitar pelo blues, rock, pop, soul e música brasileira. Destacou-se no cenário blues integrando diversas bandas, como Tritono Blues, Osstreiros in blues e Derivados do Blues. Também acompanhou nomes relevantes do gênero como Igor Prado, Blue Jeans, Nuno Mindelis, JJ Jackson, Nasi e os irmãos do Blues, Sérgio Duarte, Vasco Faé e Flavio Guimarães, entre outros. Ao lado do guitarrista Igor Prado, acompanhou diversos artistas norte-americanos, como as cantoras Tia Carroll, Jai Malano, Whitney Shay e Jamie Wood, o gaitista Johnny Rover, o guitarrista de Chicago James Wheeler, o saxofonista Sax Gordon e os cantores Willie Walker e Curtis Salgado, eleito em 2010 o melhor cantor de Soul-Blues americano.

Junto à Prado Blues Band, apresentou-se em 2006 no Festival Internacional de Jazz e Blues de Rio das Ostras. Em 2007, participou da gravação do álbum de estréia de Igor Prado, Upsidown, que foi considerado o oitavo melhor disco de blues do ano pela revista canadense Real Blues. Nesse disco, dividiu faixas com os americanos Steve Guyger (cantor e gaitista), RJ Mischo (cantor e gaitista), JJ Jackson e Greg Wilson. Ao lado do Blue Jeans, fez shows com a cantora de Chicago Big Time Sarah, com os guitarristas Andreas Kisser (Sepultura), Luiz Carlini (Tutti-Frutti), Celso Blues Boy e com o trombonista Bocato. Tocou também na maior feira de música da América Latina, a Expo-Music, nas edições de 2005, 2006 e 2012.

Desde 2008 integra a banda do cantor e compositor Nasi, fundador e vocalista do grupo IRA!. Com o grupo, participou de eventos significativos, como a abertura do show da banda australiana AC/DC no Estádio do Morumbi, em 2009, e do show do Echo And The Bunnymen no Via Funchal, em 2008. Participou também de vários Programas de TV como “Altas Horas” e “Encontro com Fátima Bernardes” na Rede Globo, “Ronnie Von”, na TV Gazeta, “Bem Amigos”, no Sport TV, “Os donos da Bola” com Neto na Band, Acesso MTV, Radiola, Metropolis, e “Manos e Minas” e “Login”, na TV Cultura. Em 2009 se envolveu na concepção e na gravação do DVD em estúdio “NASI Vivo Na Cena”, que teve a produção de Roy Cicala, engenheiro de som americano que gravou todos os discos de John Lennon, além de Jimmy Hendrix, Frank Sinatra, Aerosmith e Tom Jobim, entre outros. O álbum foi indicado ao Grammy Latino 2010 como melhor álbum de rock brasileiro.

“Tive a oportunidade de vivenciar momentos bem especiais. Destaco a abertura do show do AC/DC, em São Paulo, quando me apresentei na banda do Nasi. Chegar perto daqueles aparatos enormes que eles usam no palco, as paredes de amplificadores, foi uma experiência incrível. Outra memorável foi quando o Nasi convidou o Erasmo Carlos para realizarmos dois shows. Conhecer e tocar com o Erasmo foi um momento muito importante e sensacional, um dos pilares da nossa música. Toquei também com o Kid Vinil, pude fazer vários shows com ele. Uma figura carismática e muito gente boa. Estava num show em que o Kid Vinil passou mal e teve a parada cardíaca e 30 dias depois ele veio a falecer”, relata Youssef.

Foi fundador e integrante da banda Tritono Blues de 2007 a 2019, ao lado do cantor Bruno Sant’Anna, do gaitista André Carlini e do baixista Edu Malta. Como artista da gravadora Movieplay, gravou com a banda 3 CDs: Groovin, de 2008, Mojito de Bom de 2013 e Tritono Blues Plays Ray Charles, lançado em 2016. A banda se apresentou nas principais casas de shows e hotéis de São Paulo.  Com o Tritono Blues, Youssef aprimorou a técnica de executar os baixos do piano na mão esquerda simultaneamente a harmonia e solos na mão direita. Além da formação em quarteto, a banda excursionou com o show “Ray Charles On My Mind” com 8 músicos no palco, incluindo naipe de metais e bateria, e o show “Tritono Blues Brothers” tocando a trilha do filme clássico.

Desde 2014 tem uma parceria com a Hammond Brasil (Hosmil), representante nacional e importadora exclusiva do lendário órgão e da caixa Leslie, que fizeram história no Jazz, no Blues e no Rock’n’ Roll, realizando um sonho profissional ao ser selecionado para o seleto quadro de artistas representantes da marca no Brasil. Em 2015, iniciou o seu trabalho solo com o André Youssef Trio, assumindo o seu lado cantor. A frente desse projeto participou de vários festivais, incluindo o Fundinho Jazz e Blues Festival Uberlândia, os festivais de Inverno da Granja Viana e de Bragança Paulista, o Festival de Pindamonhangaba, o Foodspot Iguatemi e o O’Malley’s Blues Festival. Manteve na agenda eventos sociais e corporativos e marcou presença no circuito dos hotéis 5 estrelas de São Paulo como Maksoud Plaza, Palácio Tangará, Renaissance, Tivoli Mojarrej, Hyatt e Transamérica. Em 2021, lançou o projeto Sotaque Blues, apresentando clássicos da música brasileira com arranjos exclusivos que exibiam uma pegada blues e afins, acompanhado de um quarteto.

André Youssef é requisitado constantemente para participações especiais em shows e gravações com várias bandas e artistas. Destaca-se pelo estilo tradicional de tocar teclado com grande acentuação e linguagem blues. Possui uma versatilidade grande unindo a energia do rock’n’roll, balanço brasileiro, improviso do jazz e o vocabulário da música pop.

Atualmente, Youssef trabalha em seu primeiro álbum solo. “A minha carreira como cantor e artista solo vem desde 2015. Mas, mesmo antes da pandemia, era muito difícil me concentrar para gravar um trabalho. Agora acho que é o momento certo. Está bem no início, na etapa de pré-produção. As guias e as faixas estão todas prontas e decididas. Agora, a gente vai começar a gravar os instrumentos, vai ser um processo diferente do que já fiz anteriormente. Antes gravava ao vivo, agora estamos gravando tudo separado. Vamos gravar a bateria e o baixo, e os convidados que irão participar. Já temos uma arte pronta do disco, já tenho o nome, mas por enquanto ainda estou num processo de maturação para saber se vai funcionar. Mas o que eu posso adiantar é que é um repertório em inglês, um resumo de tudo o que estou fazendo nesses últimos anos nos shows”.

Confira a entrevista completa abaixo no Podcast MPB Unesp.

Imagem acima: divulgação