Cláudio Zoli: A moderna soul music brasileira

Artista nascido e criado no grande Rio integrou geração de pioneiros que adaptou estilos do pop negro norte-americano para a música brasileira, criou um trabalho integrando soul, funk, rock e samba e escreveu sucessos que atravessam as décadas.

Natural do Rio de Janeiro, Cláudio Francisco Santos Silva, ou Cláudio Zoli, cresceu escutando funk e soul music e começou a cantar e a tocar violão ainda garoto com os seus amigos de bairro. Sem referências musicais familiares próximas ao seu dia a dia, sua trajetória até se tornar um ícone pop da MPB não foi nada fácil. Entretanto, o destino estava escrito.

“Eu não tinha familiares músicos ou alguém próximo que me influenciasse. Minha mãe é apaixonada por música, mas não teve oportunidade de cantar ou tocar. Recentemente, conversando com ela justamente sobre o meu início, lembrei que o meu primo de Brasília, chamado Djalma, que tocava violão, me deu um disco do Jackson Five. Foi meu primeiro álbum internacional. Eu tinha cerca de 8 anos. Esse disco caiu muito bem nos meus ouvidos. Eu cantava, imitava o Michael.  Inclusive considero o Michael Jackson como o maior artista pop do planeta. Esse disco mudou minha vida e me inspirou a cantar e tocar”, lembra.

Nascido em 13 de maio de 1964, na casa 22, no bairro do Pita, São Gonçalo, Zoli enaltece a importância dessa região para sua trajetória. “Lá se iniciou minha vida musical. Se não fosse esse bairro, se eu não encontrasse os músicos que moravam lá na região, possivelmente não teria me tornado músico e teria seguido outra profissão. São Gonçalo é tão importante pra mim, pois foi justamente lá que encontrei também os músicos que me incentivaram e me deram as principais forças para eu seguir minha carreira artística, como o guitarrista Paulinho Roquette (falecido em 2022), que foi decisivo na minha vida. Ele me inspirou a ser guitarrista. Tocava muito. Aí comecei a frequentar a casa dele e posteriormente ele foi tocar com o Tim Maia. Nesse processo eu conheci o Paulinho Guitarra, que era outro gênio do instrumento, então ambos “paulinhos” foram fundamentais na minha formação. Eu tinha 14 anos e aprendi a tocar e viver com esses caras. E foi justamente num ensaio lá no bairro, com uma banda junto ao Paulinho Guitarra que o Cassiano apareceu e eu o conheci”, relata.

Sua estreia profissional foi aos 17 anos de idade, justamente na banda de Cassiano, que se tornaria o seu guru artístico. “Sem o Cassiano, o Arnaldo Brandão e os paulinhos que citei, eu nunca seria o Cláudio Zoli que sou hoje. O Cassiano, em especial, me proporcionou uma vivência ímpar, foi uma escola. Tem um disco que ele lançou, a gente ficou três meses num sítio igual aos Novos Baianos, num estúdio rural, só maluco, tocando e curtindo. Ele me deu a possibilidade da profissionalização ainda menor de idade. Posso dizer também que o Tim Maia agregou de forma significativa, principalmente no jeito de cantar, nesse meu caminhar”.
 
Em 1982, com sua voz e sua guitarra, Zoli ajudou a fundar a banda “Brylho” que, no ano seguinte, estourou nacionalmente com a música A Noite do Prazer. A banda acabou em 1985 e, em 1986, ele estaria lançando o seu primeiro disco solo, “Cláudio Zoli” que conta com a faixa Cada Um Cada Um. Veiculada nas rádios até hoje, a canção é popularmente conhecida como “A Namoradeira”. Ali teve início um novo ciclo artístico em sua estrada. Três anos depois, Zoli voltou a ser sucesso quando Marina Lima gravou À Francesa, parceria de Zoli com o irmão da cantora, Antonio Cícero. Mais tarde, Elba Ramalho gravou sua “Felicidade Urgente”. Em 1993 atuou no grupo Tigres de Bengala (com Ritchie e Vinícius Cantuária). Em 1999, Zoli retomou às gravações solo com “Férias”, álbum no qual adicionou elementos do rap e do R&B ao seu tradicional soul-funk-samba, inovando em sonoridades.

Com a experiência de mais de 35 anos de carreira e 13 discos lançados, o cantor e compositor Cláudio Zoli se consolidou como um dos principais artistas da vertente soul da Música Popular Brasileira, e a convivência e o aprendizado musical que granjeou junto aos ícones do estilo renderam ao artista o título de “príncipe” da soul music nacional. Zoli  já recebeu inúmeras premiações, incluindo o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) pelo álbum “Fetiche”.

Em 2001, ganha o Disco de Ouro com o álbum “Na Pista”. Em consequência do grande sucesso, em 2002, lança o DVD “Na Pista”, gravado no Direct TV Music Hall. “Sem limites no Paraíso” surgiu em 2003, e emplacou nas rádios com o sucesso “Paraíso”. Em homenagem a seus grandes mestres Cassiano e Tim Maia, grava, em 2005, o álbum “Zoli Clube”, que reúne clássicos da Soul Music Brasileira. Em 2009, lança o CD e o DVD “Diamantes”, ao vivo. Neste trabalho, Zoli também retrata canções que fizeram sucessos nas vozes de Djavan e Jorge Benjor. O destaque fica por conta da balada “Diamantes”.

 Zoli está na pista, cheio de energia e fazendo muita gente cantar e dançar ao som de seu swing que agrega samba, rock, funk e soul.

Confira a entrevista completa com Cláudio Zoli no Podcast MPB Unesp.

Foco acima: Paula Lyn