Ataques diminuem capital político de Bolsonaro e complicam possibilidades de futuro retorno ao Brasil, analisa docente da Unesp

Cientista política Maria Teresa Kerbauy diz que atos terroristas ocorridos ontem são algo inédito na história do país, prejudicam defesa de anistia ao ex-presidente e aumentam chances de que ele venha a ser preso.

Os ataques realizados por vândalos ao Palácio do Planalto, ao Palácio do STF e ao prédio do Congresso Nacional que ocorreram neste domingo, 8, já estavam anunciados desde o dia 12 de dezembro, quando episódios de violência por motivação política assolaram Brasília por ocasião da diplomação do então presidente eleito Luis Inácio Lula da Silva. É o que diz a cientista política Maria Teresa Kerbauy, professora da Unesp, câmpus de Araraquara. “A omissão, a conivência e a leniência dos órgãos de segurança pública em torno dos acampamentos instalados diante dos quartéis do exército foram, direta e indiretamente, responsáveis pelo que se viu ontem”, analisa.

Para a cientista política, nada semelhante às cenas de barbárie e depredação das sedes das instituições foi visto durante a história republicana do país. E as medidas tomadas como resposta assinalam um ponto de inflexão na defesa da democracia brasileira. Entre estas medidas estão a decretação de intervenção Federal na área de segurança pública no Distrito Federal e o afastamento temporário do governador do DF, Ibaneis Rocha. E há debates se esses eventos podem ser enquadrados na Lei 13.260, que trata da punição a crimes de terrorismo.

Kerbauy destaca a importância das declarações de condenação aos atos emanadas dos líderes dos poderes e do governo dos estados, que foram divulgadas ainda na tarde de ontem. E aponta os principais problemas que estão na pauta neste dia seguinte ao ataque, como a necessidade de que os estados rearticulem a questão da segurança em relação aos movimentos de extrema direita e a situação incômoda em que se encontra o PL, partido do ex-presidente Bolsonaro, cujo líder, Valdemar da Costa Neto, condenou o episódio buscando se distanciar dos vândalos apoiadores do ex-presidente. “O PL fica numa situação bastante incômoda e perde parte do seu discurso de defesa de seus deputados mais radicais”, pondera ela.

Ela diz que o ex-presidente Bolsonaro também perde parte do seu capital político. “Sua volta ao Brasil e a possibilidade de uma anistia se tornam cada vez mais difíceis, assim como a chance de prisão, cada vez mais próxima”, diz. E sua situação nos EUA, onde ele reside desde dezembro, também se complicou, uma vez que Deputados norte-americanos passaram a defender a expulsão do político no país.

  Para ouvir a íntegra do depoimento de Maria Teresa Kerbauy ao Podcast Unesp clique no link abaixo.

Foto acima: sinais de destruição no Palácio do Planalto após ataques no domingo, 8. Agência Brasil.