A democracia não pode acobertar terrorismo, ou perecerá

O espírito democrático comporta a livre manifestação de opiniões; o terrorismo exige uma resposta na forma da lei, e com toda a intensidade necessária.

O episódio de barbárie que ocorreu nesta tarde de domingo na Praça dos Três Poderes, com a invasão e depredação dos prédios do Congresso Nacional, do Palácio do Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Planalto, sob o olhar leniente   das mesmas forças de segurança  pública que deveriam impedir que se desenrolassem tais cenas ultrajantes, deve fazer soar um colossal sinal de alerta e despertar não apenas as autoridades de âmbito federal, mas todos os brasileiros que prezam a jovem democracia que conseguimos, não sem muitas dificuldades, por de pé e manter viva desde a redemocratização.

Este ataque direto às instituições basilares de nosso regime constitui, essencialmente,  o ponto mais baixo de uma longa campanha, cujos autores e protagonistas são bem conhecidos de todos,  voltada a solapar o ambiente democrático e empurrar a sociedade brasileira de volta aos períodos trevosos do arbítrio e do autoritarismo que tanto nos custou deixar para trás. Não conseguirão.

Assim como acontece com o corpo humano quando sob assédio de agentes patológicos, o sistema imunológico da democracia brasileira, que é constituído por suas instituições,  precisa se reforçar e responder à altura este ataque.  À identificação dos criminosos que protagonizaram este teatro de horrores, e a sua justa culpabilização, deve somar-se também a responsabilização dos agentes públicos e privados que, mesmo sem estarem presentes no local, tanto contribuíram para que finalmente ocorresse uma versão brasileira do ataque ao capitólio nos Estados Unidos, dois anos atrás.    

Somente os ingênuos achavam que não havia qualquer risco de que o estado de desassossego golpista que há meses perdura na porta dos quartéis descambasse para algo pior. Mas há muito que o tempo para ingenuidade ficou para trás; pena que algumas autoridades parecem não ter percebido. Caberá a elas também explicar como puderam permitir que ocorressem as cenas tétricas que assistimos hoje.  

É preciso agir com decisão. O espírito democrático comporta a livre manifestação de opiniões; o terrorismo exige uma resposta na forma da lei, e com toda a intensidade necessária. Nada menos do que isso poderá por novamente este país nos trilhos.