Falência da segunda maior corretora de criptomoedas deve ampliar o ‘inverno’ do mercado de moedas digitais, avalia economista da Unesp

Para André Luiz Correa, é possível que quebra da FTX se reflita também no mercado financeiro não digital. “É difícil dimensionar qual será o tamanho do impacto, mas algum deve haver”, diz.

Considerada uma das principais plataformas de compra e venda de criptomoedas do mundo, a FTX entrou com pedido de falência nos EUA na semana passada e abalou violentamente a esfera de operações virtuais do mercado financeiro.  De acordo com o processo judicial que apura o caso, o grupo deve apenas a seus cinqüenta principais credores aproximadamente  US$3,1 bilhões. O colapso abalou a confiança e o futuro do já perturbado mercado virtual de moedas.

O protocolo de falência da FTX levou o fundador da empresa, Sam Bankman-Fried, a renunciar ao cargo de CEO da companhia e também revelou que mais de um milhão de pessoas e empresas poderiam ter dinheiro a receber após a quebra.

Segundo especulações que têm sido ventiladas na imprensa econômica, ainda não está claro o montante de dinheiro que os investidores da FTX vão conseguir recuperar ao final do processo. Especialistas no setor dizem que é possível que apenas uma pequena parte do grupo consiga reaver seus valores, ou parte deles.

Ainda na última semana, o novo CEO da FTX, John Ray, criticou duramente a forma como a empresa foi administrada, dizendo que nunca havia visto uma falha tão completa dos controles corporativos. Ray também destacou a falta total de informações financeiras confiáveis.

Segundo o professor e economista do câmpus da Unesp em Araraquara, André Luis Correa, diversos pontos levaram a empresa solicitar o protocolo de falência. “De acordo com as informações iniciais, constam ausência de regulação no mercado,  possíveis ilegalidades e má administração da empresa e dos respectivos investimentos. Parte do recurso poderia inclusive estar sendo utilizado para suprir rombos de outras empresas ligadas ao grupo”, diz.

O economista também diz que ainda é difícil dimensionar o tamanho da crise, mas o impacto nos mercados financeiros deve ser expressivo.

“O impacto negativo é amplo. Trata-se da segunda maior empresa do setor no planeta, dentro de um mercado novo cujo funcionamento muita gente ainda não entende. Tudo isso gera muita desconfiança. Nesse sentido, uma vez que a estrutura quebra gera insegurança por um bom tempo, principalmente para os investidores menores. Tudo isso afeta”, sinaliza.

Ainda de acordo com o especialista, a questão é o quanto os agentes vão estar dispostos a estarem arriscando nesse bojo da criptomoeda. Há um termo sendo utilizado nessa crise como ‘inverno das criptomoedas’. Pode ser que esse inverno se prolongue e exija maior clareza dos operadores deste setor para o público em geral”.

Em relação ao mercado financeiro tradicional, André diz que esse movimento também agita o cenário. “Sem dúvida. Sempre tem reverberações no mercado financeiro atrelado à economia real. Agora, a dimensão desse efeito vai depender de como o episódio será absorvido de forma geral e as novas práticas a serem aplicadas pela FTX”.

Já sobre o futuro desse mercado, o professor não é tão otimista. “Todo investimento tem risco, sem exceção. Porém, particularmente, ainda acho um setor instável para investir, principalmente os pequenos investidores que não têm muita experiência. O futuro do mercado virtual vai depender muito de como a crise for tratada agora.”

Confira abaixo o Podcast com o economista da Unesp.