PROANTAR comemora quatro décadas de atividades ininterruptas e prepara o futuro

Em entrevista ao podcast Prato do Dia, o glaciologista Jefferson Simões conta a história do programa nacional de exploração da Antártica e anuncia a maior iniciativa brasileira de pesquisa no continente gelado.

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Na história da Antártica, há na fala de exploradores e cientistas uma lembrança recorrente já relatada por grupos diferentes que passaram por dificuldades e privações no continente gelado: relatos de um sonho em que as pessoas estavam prestes a saborear um banquete, com refeição farta, mas na hora da comida a ação não se consumava, abortada por um despertar repentino. Desde 1991, o pesquisador Jefferson Cardia Simões, um dos pioneiros em glaciologia no país, contabiliza 25 visitas ao continente antártico e está prestes a liderar a maior operação já realizada pelo Brasil naquele continente, dentro da Antártida, a aproximadamente 2.500 quilômetros ao sul da Estação Antártica Comandante Ferraz, base científica brasileira reconstruída após um grande incêndio ocorrido em 2012.

“Desde que foi reinaugurada (em 2020), será a primeira operação antártica completa, em que usaremos a estação de modo pleno”, diz Simões, lembrando das restrições dos últimos dois anos causadas pela pandemia de covid-19 e frisando as dificuldades de se fazer uma incursão continente adentro, uma das áreas mais inóspitas do planeta. “Isso exige uma logística particular, com o fretamento de aviões, uso de tratores polares, aviões com esquis, é uma situação diferente. Considero um momento importante”, ressalta.

Um dos atuais gestores da pesquisa da UFRGS e um dos vice-presidentes do Comitê Científico de Pesquisa Antártica (SCAR, na sigla em inglês), parte do Conselho Internacional de Ciência (ISC), Jefferson Simões é um dos líderes científicos do Programa Antártico Brasileiro, o PROANTAR, que completa 40 anos em 2022. O programa estatal que pôs o país entre as nações que desenvolvem pesquisas no continente gelado, trabalhos que ajudam a explicar as mudanças do clima e, em última análise, a própria história da Terra e dos seres que a habitam, convive com a instabilidade de financiamento comum à ciência brasileira, sem indicação de como será o próximo ciclo de pesquisas antárticas.

Para salientar a importância de se investir na solidez do PROANTAR, Simões costuma repetir que sempre que pode a informação de que 10% do planeta ainda é coberto de gelo e neve e que a maior parte do gelo na Terra, ou cerca de 90% do volume, está na Antártida, uma área mais próxima do Brasil do que a Rússia ou o Alasca. “O Brasil está perto deste gelo e esse gelo interage com o nosso cotidiano”, salienta. “Os trópicos não estão isolados. Os trópicos estão relacionados aos processos que ocorrem nas regiões polares”, afirma Simões, que já foi três vezes ao Ártico também.

Convidado especial do podcast Prato do Dia, uma produção da Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp, Jefferson Simões carrega em suas jornadas científicas um pouco da história de exploração do continente antártico e, principalmente, as bases que orientam atualmente o trabalho no PROANTAR, um programa que neste século passou a definir ações mais estratégicas. “Começamos a explorar, finalmente, questões mais específicas. Isso implica, sim, ter prioridades. Passa-se então a projetos com foco em questões específicas, grande parte delas de interesse mundial”, diz.

Ouça a íntegra do podcast sobre os 40 anos do Programa Antártico Brasileiro abaixo: