Jairo Pereira apresenta “Monocromático”

Cantor e compositor lança álbum audiovisual que combina rap e poesia em letras que falam de racismo, intolerância religiosa, amor e relações familiares.

Descrevendo-se como um “artivista”, o cantor, compositor, poeta e pintor Jairo Pereira nasceu na cidade de Suzano, na região metropolitana da capital paulista. Cresceu numa família de gosto musical eclético, ouvindo samba, funk, rock e MPB. Mas foi ao conhecer o rap que sua vida deu uma guinada em direção à arte, em especial à poesia e à música.

“Em casa havia uma vitrola linda, de madeira, e meus pais compravam muitos discos de vinil. Minha mãe gostava de artistas do samba e de Roberto Carlos. Meu pai ouvia Pink Floyd e Beatles. E minha mãe, por ser professora, sempre me incentivou a escrever poesias. Cresci nesse ambiente. Foi o pontapé inicial”, lembra Pereira. Mas foi quando um primo que morava na capital lhe emprestou um disco do grupo de hip hop Public Enemy que o adolescente de 13 anos descobriu do que gostava realmente. Um despertar ainda mais forte veio quando escutou depois a música “Pânico na Zona Sul” do grupo Racionais MC’s. “O Racionais mudou minha vida, ali o bicho do rap me picou. Percebi que existiam outros jovens pretos como eu expressando-se por meio do rap e da poesia do dia a dia. Descobri que a poesia poderia ter ritmo”, conta.

Na estrada da música desde o início da década de noventa, Jairo Pereira já se apresentou nas principais casas noturnas de São Paulo e em diversas unidades do SESC, além de festivais como a Virada Sustentável e o DiverCidade. Em sua carreira, passou por diferentes vivências artísticas, que incluem a participação na banda Aláfia, da qual foi fundador, e a gravação de três discos solos. O primeiro álbum, MutuM, foi lançado em 2017 e o segundo, Venha Ver o Sol, em 2019.

Sua mais nova obra saiu recentemente. Trata-se de Monocromático, álbum audiovisual, que combina poesia e rap. As composições falam de temas atuais, como injustiça social, intolerância religiosa, racismo, inclusão, amor e relacionamentos contemporâneos. A sonoridade é uma mistura de rap, MPB, black music e spoken word.

“O álbum visual surgiu na elaboração de um projeto em parceria com o Estúdio Medusa. Com base na contemplação, criamos  Monocromático que, em linhas gerais, mostra a minha ancestralidade. Nas bases de rap, busquei transcrever meus sentimentos sobre situações interiores e exteriores, em especial durante a pandemia”, relata.

O título Monocromático partiu dos momentos de reflexão vividos no período de isolamento enquanto lidava com o quadro de medo, restrições, separação e perdas. “Mas, ao me deparar com notícias crescentes de racismo, mesmo no período difícil por conta da covid-19, senti a necessidade de expor os meus sentimentos por meio da minha arte”, relata.  “Existe um muro imenso, uma branquitude monocromática, aglomerando poderes e privilégios, se debatendo para não perder suas torres e, ainda que tardiamente, impor suas subjetividades por meio de violências cotidianas de repressão e silenciamentos”, diz Jairo Pereira.

A obra apresenta um recorte do mundo do cantor: do homem preto, filho, amigo, pai, amante, artista, profissional e irmão tentando sobreviver para existir. “Tudo neste álbum passa por estes lugares: a forma que eu amo, luto, trabalho, brigo, choro, protesto. Tudo isso passa por minha alma e feito suor exala de minha pele marrom, nos tons que me compõem; socialmente, politicamente, sexualmente, afetivamente, geograficamente, filosoficamente”. A produção é de seu antigo parceiro musical Gabriel Catanzaro, que cuidou da captação das faixas e é o responsável pelo bom desempenho na busca dos timbres e das batidas e pela união das harmonias com as letras.

Escute abaixo a íntegra da entrevista ao MPBUnesp.

Imagem acima: Jairo Pereira. Crédito: Prehto.