Especialista em gestão de recursos hídricos da Unesp analisa catástrofe causada por temporal no Recife que já deixou cem mortos

Chuvas fortes fora de época são reflexo do La Niña. Estudioso destaca necessidade de atenção por parte de autoridades para prevenir tragédias semelhantes em outras regiões do país

De acordo com nota divulgada pela Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, chegou a cem o número de mortes confirmadas neste início de mês de junho causadas pelas fortes chuvas que caíram na região do Grande Recife. Ainda segundo autoridades do governo Pernambucano, há 6.198 desabrigados e 16 pessoas desaparecidas, das quais 14 foram soterradas pelo deslizamento de barreiras e outras duas teriam sido levadas pelas enxurradas.

As buscas pelos soterrados ocorrem em quatro áreas de deslizamento: na Vila dos Milagres, Zona Oeste do Recife; Jardim Monte Verde, limite entre o Recife e Jaboatão; Curado IV, em Jaboatão; e Areeiro, em Camaragibe.

Devido à persistência das chuvas, as buscas são interrompidas com frequência, pois ainda existe o risco de novos deslizamentos. As buscas são realizadas pelos bombeiros, municípios, Defesa Civil, Forças Armadas, Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Ocorrendo em um período atípico, as fortes chuvas que geraram esse alto índice de óbitos no Recife tiveram início no sábado (29/5). Desde então, elas têm causado inúmeros estragos como deslizamentos de terras, alagamentos, fechamento de comércio e paralisia do sistema de transportes, entre outras adversidades.

Segundo Rodrigo Lilla Manzione, que é professor da Unesp e especialista em gestão de recursos hídricos, a catástrofe é reflexo do fenômeno La Niña. O La Niña é um resfriamento anômalo das águas do Oceano Pacífico que ocasiona mudanças no padrão climático do Hemisfério Sul. “Há tempos notamos a atuação do La Niña e o modo como ele se alterna com o El Niño a cada ano. Esse movimento gera uma ruptura nos padrões climáticos considerados normais e traz graves consequências para o planejamento urbano e defesas civis reagirem em tempo”, diz Manzione. “Essa questão precisa estar na pauta das autoridades em todo o país. Atualmente temos cerca de 8 milhões de brasileiros vivendo em áreas de risco. É um problema social muito sério, essas pessoas precisam de atenção pois não têm onde morar. Os governos e os futuros candidatos precisam buscar soluções para esses cenários que estamos enfrentando constantemente. Só assim vamos conseguir tentar evitar novas mortes e tragédias”.

Escute a íntegra do depoimento de Rodrigo Lilla Manzione ao Podcast Unesp clicando abaixo.

Foto acima: Imagem aérea de enchente no Recife. Crédito: Clauber Cleber Caetano/Presidência da República.