Políticos de diversos estados migram para SP para lançarem candidaturas a cargos estaduais e federais em outubro

Nomes como Marina Silva, Tarcísio de Freitas, Sergio Moro e Eduardo Cunha mudaram seu domicílio, mirando os maiores colégios eleitorais do país. Cientista político da Unesp associa movimentação a interesses das lideranças partidárias, cujas agendas incluem aumento de bancadas e garantia de palanque para outras candidaturas.

Nomes expressivos da cena política brasileira aproveitaram o período de janela outorgado pela Justiça Eleitoral e transferiram seus domicílios eleitorais para outros estados, longe dos seus redutos eleitorais de origem. Esse movimento teve como destinos preferidos dois dos maiores colégios eleitorais brasileiros: os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, onde residem, respectivamente, 31, 2 e 11,8 milhões de eleitores.

Entre os nomes que decidiram arriscar sua sorte eleitoral em SP estão personagens da direita, da esquerda, do centro e do centrão, como o ex-juiz Sergio Moro (PR), sua esposa Rosângela Moro (PR), a ex-ministra Marina Silva (AC), o ex-ministro Tarcísio de Freitas (RJ) e até o ex-deputado Eduardo Cunha (RJ), que anunciou que vai se filiar ao PTB e concorrer por uma vaga na Câmara pelo Estado de SP. Embora a legislação permita a filiação a um novo partido, Cunha segue inelegível até 2027. Mas houve exemplos de movimentação para outros estados, como o da ex-ministra Damaris Alves, que se transferiu de SP para o DF.

Bruno Silva, cientista político, pesquisador do Laboratório de Política e Governo do câmpus da Unesp em Araraquara e Diretor de Projetos do Movimento Voto Consciente, explica que não é novidade que candidatos populares aproveitem a janela partidária em busca de novos horizontes, mas destaca a ampliação dos interesses dos partidos e dos parlamentares em diferentes esferas do universo político brasileiro. Alimentando este movimento estão objetivos estabelecidos pelos líderes dos partidos, como o desejo de aumentar a bancada na Câmara dos Deputados por meio de puxadores de votos, a garantia de palanques nos estados para outros candidatos e a busca por interesses pessoais.

O cientista político relata que conquistar uma vaga de deputado federal é algo difícil, que envolve a articulação de uma rede de apoios, etapa complexa e trabalhosa. Muitos candidatos inclusive se lançam na corrida mesmo sabendo que não serão eleitos, mas com o horizonte de se tornarem dirigentes partidários ou colaboradores de algum nome mais viável, abrindo assim uma porta para que continuem na sua carreira política.   “Os cálculos são múltiplos. É comum os candidatos buscarem se colar a candidatos do executivo também, para aumentarem suas chances eleitorais. E a natureza do nossos sistema eleitoral permite que se lancem desde candidatos de perfil mais territorial até parlamentares que representam temas mais específicos, ou mais ideológicos”, explica.

Silva reconhece que o eleitor não consegue estar a par de todas as estratégias eleitorais em andamento. Mas é possível acompanhar as redes dos candidatos, suas propostas e, se o político já exerce mandato, sua postura na vida pública. “Avaliar se o candidato tem propostas efetivas, ou se está apenas vendendo sonhos”, pondera. “Todos esses fatores importam muito para a qualidade da política, para melhorarmos a nossa qualidade de representação”.

Para ouvir a íntegra da entrevista ao Podcast Unesp clique abaixo.

Imagem acima: Deposit Photos.