Pesquisador da Unesp analisa suicídio assistido após anúncio de que ator Alain Delon irá adotar o procedimento

Valdir Paixão Júnior diferencia eutanásia, ortotanásia e suicídio assistido, diferentes abordagens que a medicina pode adotar diante do sofrimento e da morte, e ressalta valor fundamental da vida para a reflexão bioética.

O ator franco-suiço, Alain Delon, 86, anunciou no final do mês de março sia opção por morrer por meio de um suicídio assistido. Em suas redes sociais, Delon publicou uma mensagem dizendo que havia tomado a decisão há muito tempo. “Minha vida foi muito bonita, mas também muito difícil. Nunca gostei de envelhecer, todas as dores e provações que tenho que enfrentar cotidianamente me deixam imóvel diante de tudo”, escreveu.

Delon vai passar pelo procedimento na Suíça, país onde reside e no qual o suicídio assistido não é crime desde os anos 1940. Até o momento, não foi divulgado nenhum diagnóstico de doença terminal ou incurável do ator, mas em 2019 ele sofreu dois AVCs, que podem ter deixado sequelas que reduziriam sua qualidade de vida.

A Suíça é um país onde o suicídio assistido pode ser praticado por quem não tem um diagnóstico terminal ou incurável, e também por estrangeiros.

No processo do suicídio assistido, um médico prescreve uma substância letal que é administrada pelo próprio paciente. Mas, para que o paciente receba autorização de se submeter ao procedimento, é feita primeiro uma análise de documentos que incluem seu prontuário médico e laudos de especialistas. Se a pessoa for estrangeira, será necessário uma espécie de atestado emitido tanto por parte do médico do seu país de origem quanto de um médico suíço. O atestado deve afirmar que a pessoa está passando por alguma forma de sofrimento insuportável, seja qual for.

Até pouco tempo atrás, apenas pessoas que enfrentavam doenças terminais em estágio avançado podiam optar pelo procedimento. Atualmente, ele pode ser acessado para quem enfrenta também sofrimentos psíquicos.

Devido à legalização do procedimento na Suíça, o país passou a ser o destino de um fluxo de visitantes  interessados em se submeter ao suicídio assistido, no que foi chamado de “turismo da morte”. Existem algumas organizações que dão suporte àqueles que buscam o suicídio assistido e cada uma adota seus critérios para receber o paciente que busca ajuda.

Valdir Gonzalez Paixão Junior, pesquisador em Educação Bioética e Direitos Humanos, professor do Departamento de Ciências Humanas e Ciências da Nutrição e Alimentação do Instituto de Biociências de Botucatu e Assessor de Gabinete da Reitoria da Unesp, explica aspectos do suicídio assistido solicitado pelo ator francês Alain Delon.

O professor explica as diferenças e características entre eutanásia, distanásia, ortotanásia e mistanásia, termos que identificam possíveis procedimentos e atitudes a serem adotados pelos médicos diante do sofrimento e da irreversibilidade apresentados pelo quadro de um paciente. a permeiam o campo da bioética. Ele lembra que a eutanásia é proibida e penalizada pelo Código Penal brasileiro. E pondera que é possível ao paciente deixar determinado anterior seu desejo de que não sejam adotadas medidas inúteis para o prolongamento da vida.

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Foto acima: Alain Delon no Festival de Cannes em 2019. Crédito: Arp.