A volta dos alunos ao ambiente escolar é um momento bastante aguardado por professores, alunos e gestores educacionais. Mas, ainda que os efeitos da vacinação estejam derrubando os números de casos e óbitos por covid-19, a volta às aulas deve ser acompanhada de protocolos que permitam um retorno seguro. Pensando nisso, uma escola da cidade de São José do Rio Preto, com a ajuda de professores e alunos da Unesp, aproveitou a retomada das atividades escolares para colocar em prática uma campanha de conscientização entre pais, alunos e funcionários.
A estratégia envolve a elaboração de vídeos curtos que explicam questões ligadas à covid-19, ao coronavírus e, principalmente, às razões pelas quais ainda devemos manter alguns protocolos de segurança, como o uso de máscaras, a higienização das mãos e o distanciamento social.
A ideia é que os conteúdos do projeto, intitulado Covid-19: Informar para Prevenir, colaborem para orientar alunos, pais e a comunidade escolar em geral sobre os cuidados que devem ser tomados neste período. Para isso, os vídeos vêm sendo publicados e compartilhados em plataformas de redes sociais, como o Instagram, o Youtube, e por aplicativos de mensagens instantâneas, como o Whatsapp.
O projeto é coordenado pela professora Lília Santos Abreu Tardelli, que desde o início da pandemia vem tentando articular ações que apoiem o combate ao coronavírus junto ao grupo de Direitos Humanos da Igreja Católica no município. A professora afirma que, embora São José do Rio Preto seja considerada uma cidade próspera do interior do estado de São Paulo, a cidade não teve uma boa resposta à pandemia, sendo a terceira do estado em número de casos (96.075) e a sétima em número de óbitos (2.819). “A pauta da covid-19 na nossa cidade foi uma das primeiras discussões do nosso grupo e sentimos a necessidade de divulgar informações corretas sobre a pandemia”, afirma.
Uma vez que foi estabelecida uma previsão de volta às aulas presenciais na rede municipal, surgiu a ideia de produzir vídeos que colaborassem na difusão de informações corretas sobre a covid-19 e que orientassem pais e alunos para um retorno seguro à escola. A parceira foi a escola Olga Maluk, localizada na zona norte de Rio Preto, que atende cerca de 700 crianças do ensino fundamental.
A escolha dos temas a serem abordados nos vídeos contou principalmente com a percepção de Marta Fonseca, diretora da escola e moradora do seu entorno. Durante a pandemia, quando a escola se tornou um ponto de apoio para a distribuição de cestas básicas e outras ações emergenciais do poder público, ela esteve em constante contato com a comunidade captando, no diálogo com pais, alunos e funcionários, questões sobre a covid-19 que nem sempre estão bem compreendidas. “Nesses momentos de escuta percebemos que circulavam entre nossa comunidade informações que não eram verdadeiras sobre a doença, como as formas de transmissão ou as medidas de prevenção”, explica a diretora.
Vídeo produzido pelos professores, alunos e parceiros da Unesp de Rio Preto explica como o corpo humano se defende do coronavírus
Do paper ao vídeo
A dinâmica da produção dos vídeos conta com a ajuda da professora de Ciências Biológicas da Unesp, Maria Stela Noll, e do produtor musical e professor Samuel Moreti, líder do grupo infantil Kombinados, de Rio Preto. Após a seleção do tema do vídeo, Maria Stela e outros quatro alunos de graduação elaboram um roteiro, que é transformado em vozes e personagens pelo talento de Samuel.
“Esse processo é um aprendizado fantástico para os alunos porque envolve levantamento bibliográfico e a transposição dos dados para um formato mais acessível para outras audiências”, explica Maria Stela, chamando a atenção para o fato de que os alunos devem pegar as informações que vão para o vídeo diretamente de artigos científicos. “Passar para a população o conhecimento que produzimos na academia é uma necessidade que nós professores temos sentido para todas as áreas.”
A “tradução” do roteiro para o vídeo fica por conta de Samuel, que usa uma estrutura 100% doméstica para a produção. Simplificando, primeiro é colocada uma câmera sobre a mesa para registrar a atuação dos fantoches à frente de um fundo verde. Posteriormente são gravadas as falas com a captação de um microfone, e por fim insere-se um fundo na imagem. “Ao final, o produto fica com uma informação simples e direta que a audiência entende no ato”, afirma Samuel, que desde 2015 visita escolas públicas da região em sua kombi, oferecendo aos alunos acesso à educação musical.
Experiência estimulou diálogo e facilitou retorno às aulas
Atualmente, os vídeos têm sido usados em uma série de atividades didáticas da escola voltadas aos alunos. Em uma atividade para alunos de 10 e 11 anos, exemplifica Marta, um vídeo que fala sobre os diferentes tipos de máscaras (veja abaixo) estimulou comparações sobre as máscaras disponibilizadas na escola com as que os pais e professores usavam. Os vídeos também foram apresentados em reuniões de planejamento com os pais, e mesmo junto a essas audiências adultas os conteúdos agregaram informação e suscitaram reflexões.
Para a diretora da escola, embora o curto tempo não tenha permitido a construção de um projeto em torno dos vídeos, o seu compartilhamento nas atividades escolares, redes sociais e WhatsApp ajudou a conscientizar a comunidade escolar. “Eu esperava ter muito mais dificuldades na aceitação dos protocolos no retorno, por exemplo, mas temos conseguido manter o diálogo com as crianças. Eu diria que esse material favoreceu o diálogo de todos em torno desse assunto”, afirma.
Para a professora Lília, a forma como o poder público, em especial na esfera federal, se comunicou com a população a respeito da covid-19 foi muito aquém do necessário. “Nosso alcance é muito pequeno e restrito a uma escola, mas toda tentativa é bem vinda, nem que seja para cutucar um pouco”, afirma a professora.
Imagem acima: trecho de um dos vídeos produzidos pelos alunos e professores da Unesp, postado em canal no Youtube, que trata do uso de máscaras.