Ao comemorar dez anos de atividade, Podcast Unesp celebra reconhecimento por seu pioneirismo e credibilidade

Plataforma se consolida como importante canal de comunicação da comunidade acadêmica com a população, abrindo espaço para diversas visões de mundo em áreas que vão da ciência à arte e à política

Desde outubro de 2011 — portanto, bem antes que plataformas de áudio famosas, como Spotify e Deezer, chegassem ao Brasil — o Podcast Unesp vem oferecendo aos seus ouvintes um leque plural de visões sobre assuntos da atualidade, e se consolidando como uma referência pioneira neste formato. O projeto, que já alcançou a marca de 16 mil arquivos veiculados em sua história, tem como foco principal colocar especialistas acadêmicos da Unesp em contato com a sociedade para abordar temas dos mais diversos. Mas seu conteúdo há muito já extrapolou os muros da Universidade para dar espaço também a vozes eruditas e populares do mundo das ciências, das artes, da cultura etc.

Inspirado originalmente em podcasts que eram populares na Inglaterra, especialmente naqueles veiculados pelo jornal The Times na década de 2000, com média de três minutos de duração, o projeto unespiano hoje abrange 15 programas, organizados em diferentes formatos. Há espaço tanto para programas mais tradicionais e enxutos, como o “Rádio Release” (repercussões de fatos políticos, econômicos, ambientais etc), o “PodTempo” (informativos meteorológicos), o “Minuto Ciência” (divulgação científica) e o “PodInovar” (boletins sobre empreendedorismo e inovação) como para produções mais extensas, como o “PodMPB” e o “Prato do Dia“, que trazem, respectivamente, debates mais aprofundados sobre cultura popular e reflexões mais acadêmicas em tom informal.

Funcionário da Unesp desde 2002, e atuando na Assessoria de Comunicação e Imprensa (ACI) da Unesp a partir de 2008, Renato Coelho, que responde pela pela condução e edição do Podcast Unesp desde 2012, é integrante da equipe original do projeto, idealizado pelo colega Danilo Koga sob a chefia de Oscar D’Ambrosio, assessor-chefe à época. “A gente era muito antenado nas novidades que vinham do exterior e, por isso, conhecíamos o formato de podcast voltado à produção jornalística. Passamos a matutar sobre o tema, até que a ideia tomou forma e começamos a gravar os programas no estúdio que a ACI já dispunha para a produção de materiais da Rádio Unesp”, lembra Renato Coelho.

Tendo professores, pesquisadores e alunos da própria Universidade como fonte de informação, os podcasts repercutiam e debatiam diariamente o noticiário da grande mídia, além de novidades institucionais da Unesp, como eventos e novos achados científicos. A produção diária, que nos primeiros meses era de um a dois programas, aumentou quando Renato assumiu a edição e passou a contar com a ajuda das jornalistas Patrícia Medeiros, Melina Cintra e Amanda Fernandes, que contribuíram por anos com o projeto.

A partir do topo: Renato na companhia de Tetê Espíndola e Alzira E., Zuza Homem de Mello e Ercília Lobo, Ana Cañas.

Com o passar dos anos, a plataforma passou a ganhar espaço entre veículos de comunicação tradicionais, tornando-se referência de informação com credibilidade. “No começo, nós criamos um ‘mailing’ específico do podcast para mídias que quisessem utilizar nosso material. Atendíamos desde rádios comunitárias à Globonews. Naquele início, a gente corria atrás, mas, com esse tempo todo no ar, a coisa inverteu: viramos uma referência em podcast e foram as grandes mídias que passaram a nos procurar”, afirma Renato Coelho.

O Podcast Unesp também ganhou reconhecimento pelo pioneirismo. O investimento nesse formato de programa de áudio ainda em 2011, quando havia pouca produção brasileira profissional neste setor, é objeto de valorização por parte dos entusiastas e estudiosos do tema. “Antes da pandemia, houve uma ‘PodcastWeek’ na Cásper Libero e fomos citados por vários pesquisadores de rádio e podcast como pioneiros no país. Também já fomos temas de trabalhos de conclusão de curso de alunos do Mackenzie e de outras instituições”, revela o editor.

Outro testemunho do reconhecimento alcançado pelos podcasts produzidos pela Unesp vem da participação de diversos artistas e personalidades da cultura nos programas. Renato abriu espaço para que nomes como Zuza Homem de Mello, Tetê Espíndola, Ana Cañas e Pepeu Gomes possam conversar sobre suas carreiras e novos trabalhos, criando um precioso canal de comunicação com o público que consome e valoriza a MPB.

Universidade e sociedade

Essa aproximação das vozes da comunidade universitária com a população pode ocorrer de maneira direta, com os próprios podcasts produzidos para a plataforma, ou indireta, quando os programas repercutem e projetam docentes e pesquisadores para outras mídias. “O grande sucesso não se dá apenas quando há muitos acessos com os podcasts, mas sim quando as mídias pedem para entrevistar os professores que participam. Isso ocorre muito. É aí que nossa missão se cumpre, porque é dessa forma que a voz da universidade entra na sociedade de fato”, explica o jornalista.

Um dos exemplos desta interação é Fernando Tangerino, professor em irrigação e drenagem no câmpus de Ilha Solteira da Unesp. O engenheiro agrônomo produz o PodIrrigar, fundado em 2012 com foco nos temas de estudo do docente. Em mais de nove anos no ar, Tangerino se tornou fonte frequente de veículos com alcance regional ou nacional, como Folha de S.Paulo, CBN, Exame, Diário da Região, entre outros.

“Temos tido uma repercussão muito boa. Para nossas pautas, a gente se retroalimenta das perguntas dos alunos em sala de aula e do contato de quem nos escuta. Estamos inseridos em um lema: a democratização do conhecimento e da informação e a transparência de ações”, diz Fernando Tangerino.

Os alunos também são parte importante da produção de conhecimento científico nas universidades. Por este motivo, eles também participam da realização de programas do Podcast Unesp, como no caso do PodMet, um podcast surgido em 2019 por iniciativa do curso de meteorologia, oferecido no câmpus de Bauru. A ideia começou como um projeto de extensão, sob responsabilidade da professora Marta Llopart, que foi colaboradora voluntária no mais recente relatório de análise regional produzido para o Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC), órgão consultivo que assessora a Organização das Nações Unidas (ONU).

Mais de 20 estudantes se envolveram no projeto do PodMet desde o início, veiculando programas que explicam a formação do arco-íris, a dinâmica de surgimento dos raios, a constituição das nuvens e outras curiosidades científicas. “Tive feedbacks de colegas meteorologistas de outras universidades que nos parabenizaram muito, até porque é incomum encontrar podcasts universitários que abordem essa área. Inclusive uma outra universidade já sugeriu uma parceria conosco para a produção dos programas”, revela Marta Llopart.

Pepeu Gomes em visita ao estúdios do Podcast Unesp

Combate à desinformação

Em um contexto de abundante disseminação de desinformações relacionadas à pandemia de Sars-CoV-2, inclusive partindo de autoridades políticas nacionais e internacionais, o jornalismo viu a necessidade de reforçar seu posicionamento em favor da ciência e do rigor informativo. Neste cenário, o Podcast Unesp, que adaptou sua estrutura de produção ao modelo de “home office“, juntou-se à luta pelo fornecimento de informações com credibilidade à comunidade universitária e à população geral.

Antes mesmo de a pandemia chegar ao Brasil, no início de 2020, o Podcast Unesp abriu espaço para o infectologista Carlos Magno Fortaleza, da Faculdade de Medicina do câmpus de Botucatu, para informar sobre o novo coronavírus, que já começava a preocupar países da Ásia e Europa. Com o avanço do Sars-CoV-2 em solo brasileiro, foram ao ar e ganharam destaque nas mídias mais tradicionais diversos programetes do Podcast Unesp sobre infectologia, saúde física e mental, além de informações acerca de diversos outros desdobramentos da pandemia.

Mesmo com o aumento da concorrência pela atenção das pessoas e o “boom” de podcasts e videocasts que marcou o período de isolamento social, o produto jornalístico unespiano manteve-se firme aos seus princípios e formatos. “Nossa credibilidade se resume à nossa história de dez anos no ar. Desde os primórdios, trabalhamos com fontes confiáveis, com qualidade de sonora, com qualidade na entrevista, com um viés e um caráter mais posicionado na sociedade. Fazemos isso há dez anos”, ressalta Renato Coelho.

Para o futuro, segundo o editor do Podcast Unesp, a meta é manter a qualidade e a variedade de opções. Programas mais sucintos ou mais extensos, de diversas temáticas e assuntos, é um diferencial do projeto. “Bate-papo cultural, científico, sobre crises hídricas, inovação e empreendedorismo, temas da universidade, eventos, nosso leque é extenso. Seguiremos com a missão de levar o nome da Unesp aos quatro cantos do mundo, bem além dos muros.”

Podcast especial de aniversário

Para comemorar este aniversário, o repórter Guilherme Paladino, autor deste texto, produziu também uma versão em formato podcast da entrevista com Renato Coelho. Quem dá preferência ao áudio como via para consumir informação tem a opção de apertar o play no botão abaixo.

Foto acima: Renato Coelho no estúdio onde produz os podcats durante a pandemia. Acervo pessoal.