Fabio Mazzitelli e Mariana Lenharo
Previstas no Estatuto da Unesp aprovado logo após a conquista da autonomia universitária em São Paulo, no final dos anos 1980, as unidades auxiliares dão suporte acadêmico a unidades universitárias e têm, entre os seus objetivos, a realização de atividades de extensão e prestação de serviços em prol da sociedade, entre as quais aquelas destinadas a assistências ou atendimentos na área da saúde, papel que assumiu protagonismo após o surgimento da pandemia de covid-19 e deve seguir assim na cena pós-pandêmica.
Levantamento inédito realizado pela Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp, executado pela jornalista Mariana Lenharo, especializada na cobertura de saúde e ciência e convidada especial para este trabalho, quantificou este tipo de assistência oferecido aos cidadãos paulistas em nove unidades auxiliares unespianas com serviços em saúde, distribuídas por seis cidades em que a Universidade possui câmpus: Araçatuba, Araraquara, Assis, Bauru, Botucatu e Marília.
Os números dão a dimensão da capacidade de a Unesp cuidar dos cidadãos paulistas: em um ano, foram 633.867 assistências ou atendimentos em saúde, entre consultas multiprofissionais, procedimentos cirúrgicos, tratamentos, sessões de reabilitação, diagnósticos laboratoriais etc. Isso permite dizer que, em média, foram registrados 1.736 “cuidados” por dia, ou 72 por hora. Os números levantados são relativos a 2019, último ano em que há um quadro estatístico confiável para dar base a esse tipo de dimensionamento.
Este conjunto de centena de milhares de serviços em saúde vai desde consultas médicas e cirurgias odontológicas a uma gama de exames laboratoriais, que ocorre no âmbito do Núcleo de Atendimento à Comunidade (NAC), uma unidade auxiliar de estrutura complexa ligada à Faculdade de Ciências Farmacêuticas, do câmpus de Araraquara. Inclui também atendimentos psicológicos ligados aos cursos oferecidos em Assis e Bauru, outras ações voltadas à saúde mental, como psicoterapia breve realizada no Centro de Pesquisas da Infância e da Adolescência (Araraquara), visitas domiciliares realizadas no Centro Saúde-Escola (Botucatu) e um rol de assistências ou atendimentos multiprofissionais nas áreas de fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional do Centro de Estudos da Educação e da Saúde, ligado à Faculdade de Filosofia e Ciências do câmpus de Marília, referência regional no atendimento a indivíduos com deficiência física e auditiva, um serviço público que faz dispensação de aparelhos auditivos. Os medicamentos dispensados à população, via SUS, na cidade de Botucatu, na casa dos milhões ao ano, não entram nessa somatória.
“As unidades auxiliares da área de saúde têm uma importância fundamental em todos os pilares da vida acadêmica. Ao mesmo tempo em que trazem grande benefício, com atendimento gratuito para a população em larga escala, servem de palco qualificado para a formação dos nossos estudantes”, diz o reitor Pasqual Barretti. “Nós precisamos, como gestão da Reitoria, reconhecer esse papel e evoluir para a consolidação dessas unidades”, afirma.
Depois da declaração da pandemia, em março de 2020, as unidades auxiliares da Unesp com assistências em saúde foram, aos poucos, recompondo a rotina: reorganizaram-se e, regra geral, avançaram no processo de retomada de atividades presenciais liderado pelos cursos da área de saúde. Mesmo no auge da pandemia, houve unidade auxiliar que simplesmente não interrompeu o fluxo de atendimentos, como o Centro de Oncologia Bucal (COB), ligado à Faculdade de Odontologia do câmpus de Araçatuba (FOA-Unesp).
“Mesmo durante a pandemia, essas unidades atuaram e mantiveram as suas atividades de atendimento, ainda que reduzidas. Foram se readequando a protocolos internacionais de biossegurança e, no momento, estão plenamente ativas para responder a questões não só da covid-19, que nos aflige agora, mas também do que chamamos da nova era pós-covid”, diz a vice-reitora da Unesp, professora Maysa Furlan.
De acordo com a Assessoria de Planejamento Estratégico da Pró-reitoria de Planejamento Estratégico e Gestão (Propeg), responsável pelo Anuário Estatístico da Unesp, as unidades auxiliares correspondem a apenas uma parcela das assistências e dos atendimentos em saúde oferecidos pela Unesp. O próprio anuário, por exemplo, reúne o histórico de atendimentos realizados por outras unidades, tais como aqueles vinculados aos cursos de odontologia dos câmpus de Araraquara e São José dos Campos e também os serviços prestados no Hospital das Clínicas de Botucatu, ligado à formação da Faculdade de Medicina.
“Dada a distribuição da Unesp em nível estadual, é fundamental que se disponha de um compêndio de informações para que se registre os diferentes níveis de atuação da Universidade, seja na prestação de serviços à comunidade, seja nas estatísticas precursoras das estratégias e políticas internas. Neste sentido, atuamos constantemente na consolidação, validação e fluxos relacionados à aquisição de dados, inclusive na prestação de serviços à comunidade, percebendo a sua importância crescente junto à sociedade”, diz o físico Helber Holland, que atua na Propeg com a compilação de informações para o anuário – alguns dados colhidos pela reportagem sobre as unidades auxiliares com serviços em saúde ainda não fazem parte da publicação.
As unidades auxiliares da área de saúde aqui elencadas e que contribuem para essa atuação social da Unesp são o Núcleo de Atendimento à Comunidade (NAC) e o Centro de Pesquisas da Infância e da Adolescência (Cenpe), do câmpus de Araraquara, o Centro Saúde-Escola (CSE) e o Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox), ambos de Botucatu, o Centro de Assistência Odontológica à Pessoa com Deficiência (Caoe) e o Centro de Oncologia Bucal (COB), do câmpus de Araçatuba, o Centro de Pesquisa e Psicologia Aplicada (CPPA), de Assis, o Centro de Psicologia Aplicada (CPA), de Bauru, e o Centro de Estudos da Educação e da Saúde (Cees), de Marília.
“O modelo ideal é que esse serviço prestado à comunidade esteja dentro de um convênio com o gestor (público) local, feito através de uma fundação. Um exemplo muito bem-sucedido é a nossa maior unidade auxiliar da área de saúde, que é o Centro Saúde-Escola de Botucatu”, diz o reitor Pasqual Barretti, citando os planos para o futuro das unidades auxiliares e de outras unidades com serviços em saúde. “Nesse sentido, conversamos com o ex-ministro Alexandre Padilha (hoje deputado federal) sobre a possibilidade de termos uma emenda da área de saúde para dar apoio a essa grande rede que a universidade tem, com clínicas odontológicas, de fisioterapia, fonoaudiologia, clínicas de psicologia, atendimento de nutrição, cursos de educação física… Então há possibilidade que os recursos das emendas parlamentares adentrem na Unesp”, afirma Barretti, que é médico formado pelo câmpus de Botucatu.
Com foco nas unidades auxiliares, a série “Unesp Cuida”, que se inicia nesta quinta-feira (16 de setembro) em parceria com a TV Unesp e a Rádio Unesp FM, será publicada semanalmente em cinco reportagens no Jornal da Unesp, com o objetivo de tornar mais palpável o trabalho realizado nessas unidades e os benefícios oferecidos à comunidade na qual a Universidade se insere, um retrato da prestação de serviços indissociável da demanda de ensino e pesquisa essencial à formação dos estudantes.
“O impacto social dos serviços das unidades auxiliares, para a comunidade extramuros, pode ser observado pelos inúmeros atendimentos realizados e pela qualidade desses atendimentos. Essa qualidade está alicerçada no nosso modelo de uma universidade de pesquisa, que gera conhecimento de vanguarda”, diz a vice-reitora Maysa Furlan. “As unidades auxiliares da Unesp, com a riqueza de saberes que provém delas, estão sempre de portas abertas para toda a comunidade em que estão centradas. A população pode vir compartilhar conosco esta experiência que permite, de certa maneira, maior acesso à saúde de qualidade”, afirma.
Imagens: Equipe de Arte/ACI Unesp