Uma retomada de atividades presenciais gradual e segura

A ampliação das atividades presenciais na Unesp será responsável e baseada na ciência

No horizonte das universidades estaduais paulistas após a melhora do cenário epidemiológico da pandemia de Covid-19 no estado, a retomada das atividades presenciais na Unesp será responsável, democrática e posta em prática da maneira mais segura possível para os integrantes da comunidade universitária, assegura o reitor Pasqual Barretti.

Para o docente, que assumiu a administração da Universidade em janeiro deste ano, o aumento da velocidade da vacinação da população paulista criou condições para avançar no sentido de se ampliar de forma gradativa o trabalho presencial. Como a Unesp é a universidade pública de maior abrangência territorial no estado, presente em 24 municípios, não haverá uma data de retorno única para todas as unidades, mas o planejamento da gestão central prevê que outubro seja um mês-chave para essa tomada de decisão.

“Nosso guia será a ciência e o cenário mudou. Eu, sinceramente, não esperava que pudesse acontecer uma vacinação tão rápida (da população), e ela está acontecendo. Estou bastante esperançoso que a gente consiga avançar, mas com muita segurança”, afirma o reitor Pasqual Barretti, que é médico. “Faremos um protocolo [de retorno] e espero que consigamos cumpri-lo em outubro. Se não aproveitarmos este período e nos programarmos para que as nossas salas de aula sejam conectadas, se não mexermos na infraestrutura, se não criarmos protocolos de retorno, nunca iremos retornar. Não podemos esperar mais”, diz o reitor.

Pasqual Barretti não vê problema em “recuar” no futuro se o cenário epidemiológico voltar a piorar, mas aponta que atualmente há outra condição favorável para se implementar um protocolo de retorno às atividades presenciais: o governo estadual se comprometeu a apoiar o orçamento das universidades estaduais paulistas para investimentos que facilitem a retomada.

“Temos condições epidemiológica e orçamentária para avançar na questão dos EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) e não vamos abrir mão da testagem. Pretendemos detectar eventuais casos de variante Delta dentro da nossa comunidade. A ideia é tornar todo este processo mais seguro”, diz, citando o trabalho que já vem sendo feito, em parceria com a Unesp, pelo Laboratório de Biologia Molecular do Hospital das Clínicas de Botucatu.

As diretrizes que nortearão as unidades universitárias no processo de ampliação das atividades presenciais, a serem divulgadas nesta semana pelo Comitê Unesp Covid-19, serão baseadas em três eixos: biossegurança das unidades, imunização dos integrantes da comunidade universitária e evolução da pandemia. Neste momento, em relação a datas, os retornos mais avançados estão relacionados ao câmpus de Botucatu, cidade em que a população adulta do município já foi vacinada com duas doses, parte de um estudo internacional de efetividade do imunizante Oxford-AstraZeneca, que conta com a colaboração da Unesp.

“Já adiantamos este assunto com as representações sindicais e seremos parceiros dos diretores (das unidades) para construir este retorno com muita segurança. O retorno não acontecerá de um dia para outro. Será de modo gradual e seguro, de acordo com as peculiaridades de cada localidade em que a Unesp tem unidade”, afirma o reitor, que desde o início da gestão tem valorizado ações democráticas e tomado medidas para abrir canais de diálogo com todos os segmentos que compõem a Universidade.

Imprevisibilidade

Embora existam condições epidemiológicas para se planejar a retomada das atividades presenciais nas universidades estaduais, as próximas semanas serão decisivas para uma leitura mais detalhada a respeito do impacto que terá a chegada da variante Delta na evolução da pandemia no Brasil. Mais transmissível, esta variante do Sars-CoV-2, o vírus causador da Covid-19, é apontada como a principal responsável por novos picos de casos e mortes em algumas regiões da Europa e dos Estados Unidos. “Dizer se seguiremos em uma situação mais controlada, depende muito do que aconteça em relação à variante Delta nas próximas semanas. Na Flórida, onde 60% das pessoas já têm as duas doses da vacina, está acontecendo o pior momento agora, com mais mortes e mais casos, desde o início da pandemia”, exemplifica o epidemiologista Carlos Fortaleza, que faz parte do Comitê Unesp Covid-19 e também do grupo de especialistas que apoiou o governo estadual no combate à pandemia.

“Esta pandemia nos surpreende muito e o que vou dizer é a posição que manifesto no Centro de Contingência do Estado: a questão não é abrir ou flexibilizar, porque a gente entende que nada pode ficar fechado tempo demais. Mas tem que ter um plano B para, se voltar a crescer, fechar. Precisamos agora de um otimismo cauteloso. O otimismo eufórico é muito perigoso”, diz Fortaleza.

O epidemiologista acredita que as medidas que farão parte do planejamento na Unesp ajudarão a construir uma retomada “responsável”, passo importante para encarar uma etapa da pandemia que já está sendo chamada por alguns especialistas de “fase de coabitação” com o novo coronavírus, na qual a população, mesmo imunizada, terá de continuar seguindo as recomendações sanitárias colocadas desde março do ano passado, como o distanciamento social, o uso de máscaras de proteção facial e a higienização frequente das mãos. “Um retorno responsável respeita a realidade local, mantém um processo de busca ativa de alunos, professores e funcionários sintomáticos, com afastamento imediato deles. E tem também um aspecto de investigação de surtos”, explica o professor da Faculdade de Medicina da Unesp.

Cautela

Das 24 cidades em que a Unesp está presente em São Paulo, Botucatu se tornou a localidade com mais condições objetivas de programar o retorno às atividades presenciais, em razão do estudo de efetividade da vacina Oxford-AstraZeneca. No último dia 8, ocorreu a aplicação da segunda dose do imunizante em toda população adulta do município, estratégia que considerou também os estudantes da Unesp vinculados àquele câmpus.

Embora análises científicas mais aprofundadas do estudo de efetividade ainda sejam desconhecidas, a redução drástica no número de internações de pacientes com Covid-19 provenientes de Botucatu no Hospital das Clínicas (HC) local é um forte indicador de proteção maior da população imunizada da cidade, que recebeu a primeira dose em maio.

Segundo dados analisados pelo professor Antonio Luiz Caldas Junior, também integrante do Comitê Unesp Covid-19, em 6 de junho, havia 133 pessoas internadas em decorrência da Covid-19 no HC de Botucatu, sendo 80 delas (60%) procedentes da própria cidade e as demais, de municípios vizinhos. Em 13 de agosto, na última sexta-feira, o número de internados com a doença era de 115, sendo apenas 15 (13%) deles provenientes de Botucatu.

“A cidade agora está coberta. Mas o que a gente viveu aqui em Botucatu foi muito intenso. Muitos casos graves e muitos jovens morrendo de forma precoce. Embora exista uma tendência de a vida voltar ao normal, o receio é que, se não tomarmos cuidado agora, venha uma terceira onda”, diz o médico André Balbi, superintendente do HC de Botucatu.

No âmbito da Unesp, atividades práticas presenciais (aulas, estágios, atividades de campo, laboratoriais e clínicas, além de internato) já foram retomadas no conjunto de 30 cursos de graduação da área da saúde. Diversas atividades de pesquisa também seguem rotina presencial, mediante o cumprimento de protocolos locais de biossegurança.

A ampliação das atividades presenciais deve ocorrer, primeiramente, com o retorno dos Centros de Convivência Infantil (CCIs) e dos colégios técnicos. Em 10 de setembro, o Instituto de Biociências do câmpus de Botucatu (IBB) vai realizar reunião presencial dos membros de sua congregação, colegiado máximo de uma unidade universitária, e deve anunciar a retomada do trabalho presencial para alguns de seus servidores que estão em teletrabalho.

“Com a segunda dose da vacinação em Botucatu, cria-se um padrão de imunização bastante satisfatório na nossa visão. Acreditamos que devemos celebrar a vida, a universidade pública e tudo o que a gente acredita nesse momento tão difícil de retomada na Unesp”, diz o professor Luiz Fernando Rolim, diretor do IBB. “Cada diretor e cada comunidade acadêmica têm maturidade e conhecimento para promover o melhor encaminhamento possível”, pondera.

Imagem acima: Moradores de Botucatu são vacinados com a aplicação da segunda dose do imunizante da Oxford-AstraZeneca. Créditos das fotos: Martha Martins de Morais.