A partir da próxima semana, o roteiro cultural de São Paulo volta a integrar um velho conhecido em sua agenda. No dia 31 de julho, o Museu da Língua Portuguesa reabre seus portões ao público pela primeira vez em quase seis anos. Exposições inéditas, ampliação de seções históricas e melhorias no sistema de prevenção contra incêndios são algumas das novidades da inauguração.
O Museu estava fechado desde dezembro de 2015, quando boa parte do prédio, localizado na histórica Estação da Luz, no centro da capital, foi atingida por um incêndio de grandes proporções. Embora a reconstrução tenha sido concluída em dezembro de 2019, a inauguração, programada para o ano passado, teve que ser adiada para o final deste mês em função da pandemia.
Segundo a instituição, o acesso ao público obedecerá às restrições determinadas pelas medidas de contenção à COVID-19. Assim, apenas 40 pessoas poderão entrar no Museu a cada 45 minutos. Os visitantes também receberão chaveiros touchscreen para que não sejam necessários toques nas telas interativas. Os ingressos, vendidos exclusivamente pela internet, estarão disponíveis ainda nesta semana.
Três exposições-novidade se destacam na nova programação, que se propõe a oferecer ambientes imersivos por meio de experiências interativas e conteúdos audiovisuais. A primeira delas é “Falares”, instalada no terceiro piso do prédio, que exibe diferentes sotaques e expressões da língua por meio de depoimentos de pessoas espalhadas por todo o país.
As outras duas seções estreantes dividem espaço no segundo andar. Uma delas é “Línguas do Mundo”, um hall repleto de totens que recitam frases em idiomas que cultivam relações com o Brasil. Entre as 23 línguas exibidas na seção, pode-se ouvir expressões em yorubá, quéchua e guarani-mbyá, por exemplo. Com propósito parecido, a outra atração, “Nós da Língua”, explica como o idioma é falado em outros países onde ele é oficial, como Portugal, Angola e Moçambique, abordando, também, os laços e a diversidade cultural dessas nações.
A exposição temporária que estreia a reabertura do Museu é “Língua Solta”. Exibida no primeiro piso, como é de costume entre as atrações de curta duração, a mostra reúne um conjunto de artefatos que apresentam os amplos desdobramentos da língua portuguesa na arte e no cotidiano. São 180 objetos, desde mantos bordados por Bispo do Rosário até uma projeção de memes feitos pelo coletivo Saquinho de Lixo, que têm seu significado ancorado na língua.
Embora as novidades tomem conta da reabertura, algumas das exposições que marcaram os quase dez anos de funcionamento do Museu, fundado em 2006, ainda permanecem por lá, agora com boa parte de seus conteúdos revista e ampliada. É o caso de “Palavras Cruzadas”, que mostra as línguas que, ao longo da história, influenciaram o português falado no Brasil, e “Praça da Língua”, o espetáculo de projeções audiovisuais que homenageia a língua escrita, falada e cantada.
“Se você já conhecia o Museu da Língua Portuguesa, vai perceber que boa parte do conteúdo foi renovado e passou a refletir criticamente sobre a sociedade, seus conflitos e suas novas perspectivas, traduzidas em experiências novas e inquietantes”, é o que diz a instituição em seu site sobre as mudanças.
Para a professora Gladis Massini-Cagliari, do Departamento de Linguística, Literatura e Letras Clássicas da Faculdade de Ciências e Letras (FCLAr-Unesp), em Araraquara, o trabalho desempenhado pelo Museu em se voltar à multiplicidade de falares em português é crucial para que as pessoas possam compreender o funcionamento de uma língua em sociedade.
“Desde quando foi inaugurada, a instituição sempre se configurou como um museu singular, muito mais do que um lugar para celebrar a lusofonia e os grandes escritores em Língua Portuguesa. Para além disso, o Museu sempre se constituiu como um espaço que celebra a diversidade, os muitos falares em Língua Portuguesa, ao lado do percurso histórico de formação da língua e da sua transplantação para o Brasil, onde conviveu no passado com centenas de línguas autóctones e com a variedade das línguas trazidas da África e pelos imigrantes”, diz.
Crédito da foto acima: Rovena Rosa/EBC