Pesquisadora da Unesp analisa fatores por trás de onda de protestos em Cuba

Perda de renda com a pandemia, reformas econômicas e insatisfação de jovens estão levando milhares a organizarem as maiores manifestações de oposição ao governo nos últimos 60 anos

Nos últimos dez dias, a Ilha de Cuba tem enfrentado um cenário político e social conturbado. Em linhas gerais, o país tem sido varrido por protestos contra e a favor do governo de Miguel Diaz-Canel, que desde abril é também primeiro-secretário do Partido Comunista Cubano. As passeatas contra o governo, registradas em mais de 20 cidades, são as maiores do gênero nos últimos 60 anos, e nelas os manifestantes gritam pedindo por liberdade, pela queda da ditadura e por “pátria e vida”.

Diante desses protestos, o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, apontou o embargo americano como a raiz dos males que atingem a ilha e convocou os apoiadores do governo a saírem às ruas em 40 cidades para irem aos lugares onde ocorrem os atos de protesto. Após a convocação do mandatário, centenas de cubanos foram ocuparam as ruas em grandes atos a favor do governo, em Havana e em algumas outras províncias.

Os vídeos publicados na mídia e em redes sociais mostram inúmeros apoiadores do governo segurando faixas de Fidel Castro, bandeiras cubanas e do Movimento 26 de Julho (grupo fundado por Fidel Castro, em 1954, em oposição ao então ditador Fulgêncio Batista). Eles também gritavam palavras de ordem a favor do presidente e contra os Estados Unidos. O governo cubano também tem apelado para a repressão, tendo feito mais de uma centena de prisioneiros entre os manifestantes opositores. Pelo menos uma morte foi confirmada.

Carolina Silva Pedroso, pesquisadora do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Unesp, relata fatores históricos, políticos e econômicos que geram os atuais protestos em Cuba. Entre outros, ela elenca a insatisfação de uma nova geração que tem acesso ao mundo exterior através das redes sociais, mas que só conheceu a vida no modelo comunista; a queda do apoio econômico oriundo da Venezuela, enredada em suas próprias dificuldades econômicas; o quase desaparecimento da atividade turística em virtude da pandemia, que atacou em cheio uma das principais fontes de divisas do país; as reformas econômicas recentes que Canel tem implementado ao meio ao já catastrófico quadro das consequências da pandemia para a sociedade cubana; e as desconfianças quanto à capacidade política de Canel de manter o regime herdado da dinastia dos irmãos Castro.

Ouça a análise de Carolina Silva Pedroso a seguir no Podcast Unesp

Foto acima: Protestos contra o governo em Havana, em 11/07. Crédito: Wikimedia Commons