Professor da Faculdade de Engenharia do câmpus de Guaratinguetá (FEG-Unesp), o físico Rafael Sfair de Oliveira, de 36 anos, teve o trabalho reconhecido pela IAU (International Astronomic Union, ou União Astronômica Internacional) em seu último boletim, divulgado em 11 de junho. A sociedade científica, que reúne astrônomos de diversos países e é o órgão que atribui nomes a objetos celestes, batizou um asteroide em homenagem ao jovem docente, que atua na Unesp desde 2011.
Descoberto em 25 de novembro de 2000, e até então conhecido pela indicação provisória 2000 WS168, o asteroide foi oficialmente catalogado com o nome (43414) Sfair. Como ocorre nesses casos, o informe da IAU faz um breve resumo das áreas de pesquisa do professor homenageado. Rafael Sfair trabalha há mais dez anos com astronomia, tem experiência em simulação numérica e análise de imagens para mecânica celeste (ou astronomia dinâmica), estuda aneis planetários e integra o Grupo de Dinâmica Orbital e Planetologia (GDOP) da FEG-Unesp.
Localizado no cinturão de asteroides principal, entre os planetas Marte e Júpiter, o 43414 Sfair orbita a uma distância de 2,26 unidades astronômicas do Sol e tem diâmetro estimado em 1,95 quilômetro. Rafael Sfair é o quarto pesquisador do GDOP a batizar um asteroide – em 2017, Silvia Giuliatti Winter, Othon Winter e Valerio Carruba também receberam esta homenagem da IAU.
A União Astronômica Internacional costuma anunciar nomes atribuídos a corpos celestes, que podem homenagear pessoas ou instituições, na conferência ACM (Asteroids, Comets and Meteors), adiada por dois anos seguidos em razão da pandemia de Covid-19. O boletim divulgado no último dia 11 trouxe esta lista. “Fui pego de surpresa com a notícia, avisado por um colega. Não sei quem fez a proposta, mas fiquei bastante contente. Daqui um tempo, se for procurar um asteroide com o nome no banco de dados da Nasa, vai estar lá. É permanente, fica registrado”, diz Rafael Sfair ao Jornal da Unesp, fazendo um apanhado das regras usadas pela IAU para nomear objetos celestes (veja o vídeo abaixo).
No meu caso, a homenagem não está ligada à descoberta do objeto em si. Toda a minha pesquisa é na parte de dinâmica orbital e de objetos do Sistema Solar, e também trabalho com a análise da dinâmica em volta de asteroides. Os meus trabalhos sempre tiveram alguma correlação com o tema.
Dia do Asteroide
Apaixonado pelo assunto, Rafael Sfair ajuda o Grupo de Dinâmica Orbital e Planetologia da FEG a organizar anualmente as atividades do Asteroid Day (Dia do Asteroide), evento mundial comemorado em 30 de junho. Neste ano, a quinta edição organizada pelo grupo de pesquisa será realizada apenas online, em razão da pandemia, e terá lives relacionadas à temática e um concurso de desenho sobre asteroides para crianças.
O Dia do Asteroide é comemorado em 30 de junho em referência ao “evento de Tunguska”, uma queda de um objeto celeste na Sibéria ocorrida em 1908 que derrubou incontáveis árvores sem abrir um cratera no solo, o que motivou várias teorias dos astrônomos.
“No evento Tunguska, a melhor ideia que a gente tem é que entrou um asteroide que acabou de queimar muito perto da superfície. Acabou não tendo um impacto, mas explodiu próximo da superfície e todas as árvores da floresta amanheceram caídas”, teoriza Rafael Sfair. “Isso é um lembrete de que a gente vai sofrer o impacto. Que um asteroide vai bater com a Terra é fato, questão de tempo. Então, já que isso vai acontecer, é bom a gente estar preparado. E como a gente se prepara? Estudando asteroides. A ideia básica do Dia do Asteroide é você ter este evento mundial para discutir esses assuntos.”
Atualmente, explica o professor, um dos fatos que mais está chamando a atenção dos astrônomos é a aproximação do asteroide 99942 Apophis, que tem 340 metros de diâmetro e vai passar a apenas 32 mil quilômetros da Terra em abril de 2029 — veja simulação divulgada neste ano pela Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos.
Nessa aproximação, o Apophis ficará mais perto que os satélites geoestacionários de comunicação e, provavelmente, poderá ser observado a olho nu, fenômeno raro para um asteroide. “A gente sabe que o Apophis não vai bater na Terra, ao menos, pelos próximos cem anos. Mas em 2029 vai passar muito perto. A gente vai aproveitar a oportunidade para monitorá-lo e estudar um pouco mais sobre os asteroides”, diz Rafael Sfair.
Graduado pela Universidade Federal do Paraná em 2004, o docente fez mestrado e doutorado na Unesp e atualmente está lotado no Departamento de Matemática. Leciona cálculo diferencial integral, astronomia e mecânica celeste para estudantes de graduação e dinâmica orbital, técnicas numéricas e astronomia observacional na pós-graduação.
Na imagem acima, Rafael Sfair, professor da FEG-Unesp. Foto: Arquivo Pessoal