Unesp em Rio Preto pesquisa possível nova variante do vírus da Covid-19

Sequência mais antiga da possível nova linhagem é de fevereiro de 2021, o que sugere um surgimento recente

Um grupo de pesquisadores da Unesp em São José do Rio Preto vem desenvolvendo estudos visando investigar a possibilidade de uma nova variante do vírus Sars-Cov2 relacionada à B.1.1.28. O fato preocupa a comunidade médica e as autoridades sanitárias do país, pois apresenta a mutação L452R presente na variante indiana.

Todos os vírus modificam-se com o tempo como um subproduto natural, resultando no que a comunidade científica chama de novas cepas, variantes ou linhagens. Daí a importância da ampliação das pesquisas científicas sobre o novo coronavírus e o esforço despendido por universidades e instituições públicas do país no enfrentamento científico da pandemia. 

Desenvolvidos no Laboratório de Estudos Genômicos do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce) sob coordenação da professora Paula Rahal, os estudos integram o projeto de pesquisa Corona-Ômica.BR.MCTI Network, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). 

Professora Cintia Bittar no Laboratório de Estudos Genômicos do Ibilce. Foto: Divulgação/ACI/Ibilce

No comunicado técnico número 16, publicado em 4 de maio, assinado pela professora Cintia Bittar, do Programa de Pós-graduação em Microbiologia do Ibilce, e membro do projeto Corona-Ômica.BR, a nova linhagem tipificada pelo grupo apresenta a mutação L452R na proteína S do Sars-Cov2. Ao todo, 148 amostras foram analisadas, sendo 118 da variante P1 (identificada inicialmente no Amazonas), e B1.1.7 (no Reino Unido). A cientista destaca como fundamentais as medidas para evitar a dispersão dessa possível nova linhagem para outras cidades. 

Sequenciamento genômico

O Laboratório de Estudos Genômicos integra uma rede descentralizada de laboratórios, com a participação também do Instituto de Biotecnologia (IBTEC), do Instituto de Biociências do câmpus da Unesp em Botucatu, do Laboratório de Pesquisa em Virologia da Faculdade de Medicina de Rio Preto (Famerp), e da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP (FZEA-USP), em Pirassununga.

Também participa da rede a bióloga Marilia de Freitas Calmon, pesquisadora do Departamento de Biologia do Ibilce. 

Cabe ao grupo captar e realizar o sequenciamento genômico de amostras de Sars-Cov-2. Mas ainda não é possível concluir se a nova linhagem da família dos coronavírus detectada está em alta proporção. A professora Paula Rahal explica:

A gente teria que fazer novos estudos para saber quando ela começou e se está aumentando ou não entre a população. A gente identificou que é uma variante nova. O que ela representa saberemos só ao longo do tempo. Pode ser que não cresça ou domine. A gente não sabe. Por isso, a importância da vacinação o mais rápido possível

Veja abaixo o mapa das cidades onde a possível nova variante foi identificada. Em vermelho, cidades com sequências de genoma completo (19 amostras). Em bege, cidade com sequenciamento parcial do genoma (6 amostras). 

mapa.png
Arte: ACI/Ibilce

“A sequência de genoma completo de duas amostras coletadas em 24/03/2021 e 05/04/2021 na cidade de Porto Ferreira – SP, classificadas como B.1.1.28 pelo Pango lineages, apresentou a mutação L452R na proteína S. Devido à importância desta mutação, relacionada ao escape de anticorpos neutralizantes, estando a mesma presente nas variantes B.1.617 (Indiana), B.1.427 e B.1.429 (ambas da Califórnia)”, afirma o comunicado nº 16. 

Rastreamento

Com a intenção de rastrear a frequência dessa variante no interior de São Paulo, foram realizados também alguns estudos de 64 amostras da região Araraquara, onde foram encontradas a mutação L452R, além de outras sete amostras com essa mesma variação do vírus, sendo seis de Porto Ferreira-SP e uma do município de Descalvado-SP. 

“É importante destacar que a sequência mais antiga desta possível nova linhagem é de fevereiro de 2021, sugerindo um surgimento recente. Observa-se também a circulação em regiões que apresentam predomínio da linhagem P.1”, acrescenta a nota técnica. 

A pesquisa de rastreamento do novo coronavírus é financiada pela Rede Vírus do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Guilherme Ramos é jornalista da Assessoria de Comunicação e Imprensa do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Unesp (Ibilce), câmpus em São José do Rio Preto.

Na imagem no alto, ilustração do vírus SARS-Cov-2. Imagem: U.S. Army Photo