A variante brasileira do novo coronavírus, conhecida como P1 ou variante de Manaus, foi identificada em quatro de sete amostras da região de Botucatu colhidas no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB) e analisadas por pesquisadores da Rede de Vigilância Genômica (Vigenômica) da Unesp.
Constituída no final de fevereiro, a Rede Vigenômica, que integra a Rede de Monitoramento Genômico do Instituto Butantan, tem por objetivo desenvolver e implementar protocolos e procedimentos para a identificação e monitoramento das variantes do vírus Sars-CoV-2 nas regiões do interior paulista em que a Unesp está presente.
No caso das amostras colhidas no HCFMB, a Vigenômica sequenciou sete delas recebidas de cidades da região atendidas pelo hospital, obtidas de pacientes com diagnóstico confirmado de Covid-19, e escolhidas aleatoriamente. Quatro amostras, de três municípios diferentes, foram identificadas com a variante de Manaus (P1).
Apesar de a variante ter sido identificada em um número relativamente baixo de amostras, o fato é preocupante, já que ela apresenta um potencial maior de transmissão e reinfecção pelo vírus, além da possibilidade de escapar da ação do sistema imune.
“Os resultados, embora sejam preocupantes do ponto de vista sanitário, indicam um potencial de aprimoramento de alto padrão na vigilância epidemiológica no interior de São Paulo, com o protagonismo da Unesp”, afirma o reitor Pasqual Barretti. “É um passo gigantesco na detecção e no estudo das variantes do novo coronavírus no interior do Estado de São Paulo, um trabalho conjunto que mostra a riqueza das ações realizadas em rede pela Universidade”, diz Barretti.
No caso das amostras colhidas no HCFMB, o sequenciamento genético foi feito em conjunto por seu Laboratório de Biologia Molecular e pelo Laboratório de Genômica Funcional da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA), ambos localizados no câmpus de Botucatu. O laboratório da Faculdade de Ciências Farmacêuticas do campus de Araraquara, coordenado pelo professor Paulo Inácio da Costa, também integra a Rede Vigenômica.
“Continuaremos o sequenciamento para desenvolver e implementar protocolos de monitoramento das variantes do vírus. A vigilância genômica tem se mostrado um fator fundamental no entendimento da pandemia, gerando informações que podem orientar diretamente as tomadas de decisão e a elaboração de outras medidas relacionadas ao seu enfrentamento”, diz o professor Jayme Augusto de Souza-Neto, coordenador da Vigenômica.
A professora Rejane Grotto, responsável pelo Laboratório de Biologia Molecular do HCFMB e vice-coordenadora da Vigenômica, esclarece que um conjunto de mutações genéticas é o que diferencia a variante de Manaus da linhagem já conhecida (pré-P1).
“Os dados obtidos nos mostram que a variante P1 circula na região de Botucatu, em cidades distintas, o que nos dá uma ideia da abrangência da circulação e nos ajuda a fornecer informações sobre ações preventivas que devem ser tomadas pelas cidades”, afirma a pesquisadora.
O sequenciamento genômico é o trabalho feito em laboratório pelos pesquisadores que permite analisar de forma detalhada as amostras de pacientes diagnosticados com o vírus da Covid-19, diferenciando uma cepa de outra e indicando quais variantes estão circulando em determinada região.
“Nossos laboratórios se destacam pelo trabalho de excelência desde o início da pandemia e agora pelo monitoramento das variantes do coronavírus no interior. Estes resultados nos ajudam a dialogar com o corpo clínico sobre como aprimorar o atendimento aos pacientes da Covid-19”, afirma o médico André Balbi, superintendente do HCFMB, hospital que é referência para o tratamento de casos graves da doença.
É bom lembrar que, quanto mais o vírus se dissemina, maior é a probabilidade do surgimento de novas mutações e, conseqüentemente, de novas variantes. Daí a importância da manutenção do distanciamento social e do uso cotidiano de máscaras para proteção facial.
Na imagem do alto, vista aérea do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Unesp no câmpus de Botucatu.