Crescente utilização de IA e de modelagem computacional está redesenhando os estudos na área de peptídeos

A incorporação de novas ferramentas ao longo de 2025 possibilita que investigações superem a abordagem incremental e possam mirar moléculas mais sofisticadas e funcionais, diz artigo publicado na revista "Nature Reviews Chemistry". A equipe de autores inclui docente e doutorando da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp.

Artigo publicado pelo aluno de doutorado César Augusto Roque-Borda e seu orientador, o docente da Unesp Fernando Rogério Pavan, na revista Nature Reviews Chemistry, discute o impacto causado pelas novas tecnologias de modelagem computacional e de inteligência artificial nas pesquisas sobre a síntese de peptídeos. Intitulado Redefining peptide chemistry beyond accumulating analogues, o texto foi publicado na sessão Year in Review, que busca destacar os avanços mais importantes da área no ano.

O ano de 2025, destacam os autores, ficou caracterizado pela crescente apropriação de novas ferramentas, o que resulta em mudanças no perfil dos projetos de investigação e na própria atuação dos pesquisadores desse campo. Em vez da síntese de grandes volumes de peptídeos, abordagem que tem sido a tônica, o foco se desloca para uma maior precisão no design estrutural de novas moléculas, orientado por uma funcionalidade previamente definida.

Esse novo cenário difere da dinâmica que governou a área nos últimos anos. A produção de novos peptídeos costuma priorizar a estratégia de síntese incremental de análogos para a produção de novas moléculas. Nessa rota tecnológica, busca-se o aprimoramento de um determinado peptídeo a partir de alterações específicas em estruturas semelhantes, explorando a relação dessas alterações na estrutura com a função biológica desejada, em um processo muito próximo ao da tentativa e erro.

Com as transformações observadas ao longo do ano de 2025, afirma o artigo, “o progresso na modelagem computacional, nas tecnologias de exibição e no design químico ampliou o que os peptídeos podem alcançar, transformando-os de meras variações de sequência em moléculas com maior sofisticação estrutural e funcional.”

Nesse processo, recursos de inteligência artificial têm atuado na elaboração de estruturas de peptídeos a partir do zero e com aplicações bem definidas. Além disso, a partir de dados já existentes na literatura, modelos têm conseguido identificar peptídeos com ação antimicrobiana em venenos de animais selvagens que até então não haviam sido observados pelos pesquisadores.

“O avanço do campo não depende mais da quantidade de moléculas sintetizadas, mas da intenção, funcionalidade e profundidade de cada novo peptídeo projetado. As colaborações internacionais envolvidas reforçam essa mudança de paradigma, unindo diferentes especialidades para repensar o papel dos peptídeos”, explica Pavan, livre-docente em Microbiologia na Faculdade de Ciências Farmacêuticas, no câmpus de Araraquara, cuja principal linha de pesquisa é a busca por novos fármacos contra a tuberculose.

Para Roque-Borda, esse novo caminho para a química de peptídeos pode ser promissor se conseguir conciliar a liberdade criativa com projetos de impacto. “O grande desafio que se desenha agora é transformar a criatividade conceitual em aplicações reais e terapêuticas, consolidando a química de peptídeos como uma área guiada por propósito, rigor e relevância”, diz o doutorando.

Além de Pavan e Roque-Borda, assinam o artigo a pesquisadora Beatriz G. de la Torre, da Universidade de KwaZulu-Natal, na África do Sul, e o pesquisador Fernando Albericio, da Universidade de Barcelona.