Nova edição do podcast Prato do Dia aborda desafios no tratamento da covid longa

Docentes da Unesp, Paula Rahal e Célia Regina Nogueira explicam as dificuldades enfrentadas por pesquisadores para compreender os mecanismos e causas da doença, mesmo após cinco anos do início da pandemia do SARS-Cov-2.

Em dezembro de 2019, o primeiro caso de contaminação pelo vírus covid-19 foi relatado. Cerca de três meses depois, em março de 2020, a doença havia se disseminado pelo planeta em uma escala tamanha que a Organização Mundial da Saúde (OMS) não teve alternativa senão decretar a pandemia. Embora as medidas mitigatórias e, em especial, o desenvolvimento das vacinas tenham sido fundamentais para diminuir o número de infecções e de mortes, o acompanhamento médico de muitos indivíduos infectados que se recuperaram revelou a permanência de alguns problemas de saúde. Hoje, a OMS reconhece o conceito de covid longa, que se refere a sintomas persistentes cuja duração alcança 12 semanas.

A OMS listou mais de 200 formas possíveis de manifestação da doença, como fadiga, tosse e irritação na pele. No entanto, o paciente com covid longa não apresentará resultado positivo para o vírus se testado.

Para falar sobre a covid longa, o podcast Prato do Dia recebeu Paula Rahal, docente do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (IBILCE) e também vice-presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, e Célia Regina Nogueira, docente da Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu e presidente do Comitê Científico Covid-19 da Unesp.

Paula Rahal explica o que pode ocasionar a covid longa: “Existem duas hipóteses. Uma é a permanência um pouco maior do vírus, com alguns de seus fragmentos se mantendo instalados no organismo e resultando em inflamação. A outra é que tenha ocorrido uma lesão tão grande que seja capaz de prolongar essa inflamação”.

O diagnóstico de covid longa se dá a partir de uma anamnese, ou seja, um diálogo entre o médico e o paciente para compreender o cenário. Célia Regina Nogueira diz que os exames, por si só, não são definitivos. “Existem alguns exames que podem ser pedidos, como hemograma e citocinas. Mas as alterações nos resultados podem ser causadas por qualquer infecção. É a partir do relato do paciente sobre seu contágio pela covid que o médico começa a pensar nesse diagnóstico diferencial”, diz.

As docentes contam que pessoas com comorbidades, doenças crônicas e idade mais avançada têm maior propensão ao desenvolvimento da covid longa, devido à atuação de um sistema imunológico fragilizado. Durante a pandemia, em busca de mais respostas sobre a moléstia, Célia Regina investigou a presença de irisina, hormônio liberado durante atividades físicas.

“A irisina, quando presente, dificultava o fornecimento de genes que levavam à entrada do vírus na célula”, explica. É preciso agora investigar se a prática de exercícios físicos pode impactar positivamente a prevenção da covid longa.

Ainda há muito o que ser pesquisado, em especial quanto à duração dos sintomas. “A covid ainda está muito próxima de nós historicamente. Então, acho que vai levar algum tempo até que possamos entendê-la por completo”, diz Rahal.

Regina menciona os relatos de piora no funcionamento da memória, muito comuns entre alguns infectados, e avalia que somente estudos complementares poderão estabelecer se há, de fato, causalidade entre a ação do vírus e a perda de memória, ou se esta pode estar ligada à adoção de novos hábitos de estilo de vida. “Para sairmos da pandemia, ficamos muito tempo em busca de uma vacina. Agora estamos olhando para esse outro lado, o dos desdobramentos dela”, diz Regina.

Regina e Rahal comentam o papel fundamental que as universidades desempenharam durante a pandemia, e o caráter de retribuição à sociedade que caracterizou esta atuação. Até mesmo a pesquisa foi impactada. Os pesquisadores, por exemplo, estreitaram sua capacidade de trabalharem em cooperação. “Houve uma interação entre virologistas de todo o Brasil. Hoje trabalhamos muito mais em rede. Esse foi um aprendizado que ocorreu durante a covid”, diz Rahal.

Em setembro de 2020, seis meses após a decretação do estado de pandemia, a covid-19 já havia feito mais de um milhão de vítimas, sendo 200 mil apenas no Brasil. Foi a vacinação que permitiu uma redução drástica no número de mortos.

As professoras reforçam a importância de que a população continue a zelar para se manter imunizada. “A vacina foi crucial e continua sendo, hoje os sintomas são bem mais leves. Para isso, a vacinação continua, temos sempre que nos revacinar todos os anos”, afirma Rahal.

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