Ferdi e o poder da música para comunicar inquietudes

Cantor e compositor de Campinas lança quinto álbum autoral, consolidando público com fusão de MPB, ritmos brasileiros e letras sobre autoconhecimento e temas existenciais.

Destacando-se como um dos novos valores da MPB, o músico Ferdi lançou recentemente seu quinto trabalho, Ruídos e Silêncio. Cantor e compositor, Ferdi vem consolidando seu público com um trabalho autoral, fruto de sua musicalidade e do seu interesse por temas da psicologia e da vida humana.

Ferdi é o nome artístico de Fernando Moura Leite de Oliveira. Ele nasceu em Campinas, em uma família sem instrumentistas, mas que gostava bastante de escutar música. Da preferência do pai por bandas clássicas do rock, como Beatles e Led Zeppelin, e do gosto da mãe por nomes consagrados da MPB, incluindo Milton Nascimento, Chico Buarque e Gilberto Gil, vieram suas primeiras influências. Autodidata, iniciou seu flerte com a música explorando instrumentos diferentes, começando pelo contrabaixo e evoluindo para a guitarra e o violão. O interesse pelos instrumentos, no entanto, estava ligado à sua descoberta da composição, que se iniciou aos 16 anos.

“O curioso é que me conectei mais com a música por sentir necessidade de compor. Escrevia umas coisas, algumas estrofes. Tinha vontade de escrever uma música. Comecei a me desenvolver mais nos instrumentos para que servissem como ferramenta para compor. Esse foi o caminho”, diz. Em casa, gravava demos para registrar essas composições iniciais. Foi a partir da chegada à universidade que sua musicalidade daria um salto.

“O violão foi mais no período da faculdade, quando já estava começando o curso de psicologia. Me interessei por tirar sambas e músicas de MPB que tinham uns acordes mais interessantes. Aquilo começou a ser convidativo, e fui para esse lado”, lembra. Foi durante a faculdade de psicologia que a música começou a ganhar mais espaço em sua vida. “As pessoas gostavam de me ouvir tocar violão, tocar minhas músicas. Toquei em festas, encontros, e tudo isso me impulsionou a mergulhar no universo musical”, diz.

Início de carreira

Desde 2009, Fernando se apresentava em bares e casas de shows em Campinas. Porém, apenas depois de se formar em Psicologia, ele iniciou sua carreira musical sob o nome artístico de Ferdi. Seu primeiro álbum, intitulado Ginga de Gigante, trouxe um repertório exclusivamente autoral, com arranjos calcados em ritmos e estilos musicais regionais, projetando uma identidade brasileira.

O disco o projetou como artista e serviu de combustível para turnês nacionais e internacionais em 2016 e 2017, com apresentações no Brasil, Uruguai e Alemanha, com direito a participações em programas de rádio e televisão. Na sequência, veio em 2018 o álbum Na Pele, um EP com quatro músicas inéditas. Em 2020, saiu Griô, inspirado na figura dos ‘griots’ africanos que preservam a cultura através da tradição oral, contando e cantando histórias. Em 2023, foi a vez do álbum Devaneio, com faixas que exploram temas como criatividade e autoconhecimento.

Música para a sinfonia da vida

Este ano, Ferdi apresentou ao público Ruídos e Silêncio. Suas letras exploram emoções e experiências humanas como o amor, a saudade, a liberdade e os desafios, combinando psicologia com música, as duas paixões do cantautor. Ele define o álbum como um “convite a ouvir os ruídos e silêncios internos e externos, buscando se harmonizar com as estranhas melodias, barulhos e pausas na sinfonia da vida”.

Ele ressalta a busca por temas universais que inspiraram as letras do novo trabalho. “As músicas são bem existenciais. Dialogam bastante com temas psicológicos e filosóficos, por causa do meu background, que não posso negar. Parece que minha cabeça sempre pensa nisso, em formas de comunicar essas inquietudes nossas. Os ruídos, mesmo. E o silêncio também”, diz.

O trabalho foi produzido em parceria com Henrique Manchúria e gravado no Estúdio do Mancha, na cidade de Campinas. “Henrique é um amigo, músico que toca comigo desde 2006. É trompetista na banda e também um excelente técnico de som e arranjador. Alguns arranjos foram propostos por ele. Chamamos Fernando Sagawa, que é o saxofonista da banda, e Pedro Ghoneim, que é o baixista. Então, foi um trabalho feito em família, com os músicos da banda e mais alguns amigos”, diz.

O novo lançamento é uma oportunidade para que Ferdi reflita sobre os desafios de trabalhar como músico independente no Brasil.

“É bem agridoce fazer música independente. É uma felicidade e uma tristeza. A gente dá muito sangue, é muito trabalho mesmo. O artista independente tem que fazer o show e organizar a logística para fazer as coisas funcionarem. O aspecto do retorno financeiro também é um desafio, muitas vezes a gente não obtém o esperado. Por outro lado, o retorno das pessoas sobre a importância da sua música na vida delas é muito gratificante. Às vezes, alguém que não conheço fala que a minha música mudou a vida dela positivamente. Isso é lindo de ver. Acho que a sensação de missão cumprida é o melhor prazer que se pode ter”, diz.

E as características originais de seu trabalho ajudam a fazer com que esse público se identifique com as canções. “Uma vez meu pai me perguntou: ‘por que você não define o seu som como psicomúsica?.’ Ontem estava conversando com um amigo, e ele falou a palavra ‘psiconalta’. Gostei muito. Tem gente que usa [essa palavra] no sentido de psicoativo. Mas acho interessante, porque é um pouco isso. São pessoas que gostam dessa viagem introvertida. Então, se for para definir meu trabalho em poucas palavras agora, o que me vem à cabeça é: é para quem gosta de viajar em si mesmo, buscar autoconhecimento e navegar na subjetividade.”

Confira abaixo a entrevista completa no Podcast MPB Unesp.