No dia 11 de novembro, representantes das três universidades estaduais paulista (Unesp, USP e Unicamp) e das três universidades federais localizadas no estado de São Paulo (Unifesp, UFABC e UFSCar) assinaram um protocolo de intenções com a CAPES e a Fapesp para implementar mudanças na estrutura de seus programas de pós-graduação a partir de 2025. A vice-reitora Maysa Furlan representou a Unesp no encontro realizado na Reitoria da USP.
As propostas contidas no documento intitulado Programa de Aperfeiçoamento da Pós-graduação incluem a criação de uma grade curricular interdisciplinar comum a todos os ingressantes durante o primeiro ano da pós-graduação, e a possibilidade de ingressar diretamente no doutorado, conforme resultados do exame de qualificação e avaliação do projeto. A Unesp deverá lançar logo um edital para selecionar os programas que participarão do projeto piloto, e conduzirá o monitoramento da iniciativa ao longo dos próximos cinco anos.
Um dos argumentos mencionados pelos representantes das universidades durante a cerimônia para a implementação da nova medida é o tempo necessário para que um aluno de pós-graduação alcance a titulação de doutor.
“Atualmente, o tempo médio para titulação no Brasil é de 9,5 anos, porque há um hiato entre o mestrado e o doutorado”, disse o reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, que falou em nome das universidades estaduais. O argumento foi complementado pelo presidente da Fapesp, Marco Antonio Zago, que lembrou que esse tempo de formação vem aumentando progressivamente ao longo dos últimos anos. “Hoje, em média, o doutoramento se dá aos 38 anos de idade e esse aumento de tempo não resultou em aumento de qualidade. O país não suporta isso. Essa é uma realidade que temos que mudar, simplificando os processos, reduzindo a burocracia e as exigências desnecessárias para a formação de bons pesquisadores”, afirmou.
Segundo a pró-reitora de pós-graduação da Unesp, Maria Valnice Boldrin, essa proposta já estava em discussão pelas três universidades públicas estaduais há algum tempo e tem entre seus principais objetivos tornar a pós-graduação mais atrativa ao aluno, ao agilizar sua formação, e torná-la mais interdisciplinar e abrangente. “Nós, pró-reitores da USP, Unicamp e Unesp, temos trabalhado para melhorar o nível dos mestrados, tanto para torná-los mais relevantes para o mercado de trabalho quanto para melhorar a qualidade dos mestrados acadêmicos”, diz.
Primeiro ano com disciplinas abrangentes
A proposta estabelece que, nos primeiros doze meses de mestrado, o aluno se dedique às disciplinas da matriz curricular do curso. Estas disciplinas terão perfil interdisciplinar, transdisciplinar e integrativo, além de realizarem atividades extensionistas. Também ocorrerá nestes doze primeiros meses a construção o projeto de pesquisa e a escolha de um orientador.
Ao final deste período, o estudante passará por um exame de qualificação para avaliar o seu projeto. Caso seja aprovado, ele poderá optar por prosseguir no mestrado, e concluí-lo em um ano, ou convertê-lo para um projeto de doutorado, que deverá ser finalizado em quatro anos.
A expectativa é que, com esse novo modelo, o tempo necessário para concluir esta etapa de formação seja reduzido, e que aqueles projetos mais bem estruturados sejam valorizados e possam seguir diretamente para o doutorado. “Há alunos que fizeram iniciação científica e possuem uma formação muito boa, e já estariam aptos a cursarem a formação para serem doutores, sem precisar cursar todo o mestrado”, relata Boldrin.
A grade curricular continuará incluindo disciplinas fundamentais à formação de pesquisadores, e específicas para cada área de pesquisa. Mas também passará a incorporar conteúdos de outras áreas do conhecimento. Essa inclusão visa promover uma formação voltada à inovação, ao empreendedorismo, à inserção social e à atuação em setores industriais ou públicos.
Segundo Boldrin, a intenção é que o aluno amplie a sua visão da ciência e da sua área de atuação. “Dessa forma, o estudante vai descobrir em que lugar quer trabalhar, seja no empreendedorismo, nos trabalhos extramuros ou na parte da ciência propriamente dita. Então esse aluno vai receber uma formação mais completa durante o primeiro ano”, diz.
Espera-se que a formação mais ampla, com um tempo dedicado especificamente à estruturação de projetos e à escolha de orientadores, resulte em produções acadêmicas de maior profundidade e qualidade.
“Estamos trabalhando em uma nova formação para o aluno. Pensamos que todos os nossos alunos, durante muito tempo, foram formados para a academia, para serem professores e pesquisadores. E percebemos que precisamos formá-los também para o mercado de trabalho, para que possam atuar na sociedade, ser empreendedores. Então, pretendemos fazer essa mudança no mestrado para começar a dar uma visão mais ampla para esse aluno, para além daquelas disciplinas específicas”, diz ela.
Por se tratar de um projeto piloto, haverá um trabalho de acompanhamento e avaliação ao longo dos cinco anos previstos no protocolo. Boldrin diz que será lançado, em breve, um edital para selecionar os programas de pós-graduação que participarão da iniciativa. Inicialmente, apenas programas classificados com notas seis e sete, segundo a avaliação da Capes, poderão concorrer.
“São programas mais maduros e consolidados. Ou seja, possuem uma experiência muito mais acentuada, que poderia nos dar um retorno ou servir de modelo de uma forma mais efetiva”, dia a pró-reitora. A previsão é que os programas selecionados pelo edital implementem as mudanças entre o segundo semestre de 2025 e o primeiro semestre de 2026.
No acordo firmado, a Capes comprometeu-se a financiar as bolsas de doutorado para os estudantes que optarem pela mudança de nível, eliminando a necessidade de concorrência por novas bolsas. Já a Fapesp complementará os valores das bolsas da Capes para equipará-los às bolsas ofertadas pela instituição de fomento, além de oferecer benefícios adicionais.
Além da vice-reitora Maysa Furlan, estiveram presentes na assinatura do protocolo os seguintes representantes das instituições: Carlos Gilberto Carlotti Junior, reitor da USP; Dácio Roberto Matheus, reitor da UFABC; Antonio José de Almeida Meirelles, reitor da Unicamp; Raiane Assumpção, reitora da Unifesp; Maria de Jesus Dutra dos Reis, vice-reitora da UFSCar; Luiz Antonio Pessan, diretor de Programas e Bolsas da Capes; e Marco Antonio Zago, presidente da Fapesp.
“Acho que o mais legal da proposta é permitir que se repense o mestrado para que realmente resulte na formação de um novo cidadão, capaz de fazer mudanças estruturais. Não só no campo da economia e da tecnologia, mas também na sociedade. Para que ele consiga se inserir em outras áreas, outras modalidades, para além da academia”, conclui Boldrin.
Com informações do Jornal da USP
Imagem acima: Cerimônia de assinatura. Crédito: Cecília Bastos/USP fotos.