Reunião do G20 começa segunda-feira no Rio de Janeiro

Docente da Unesp analisa pauta do encontro do grupo que reúne as principais economias do planeta. Governo brasileiro, que preside o grupo, trouxe para foco dos debates seus temas de preferência: combate à fome, transição energética e reforma da governança global. Mas eleição de Trump torna difícil prever futuro próximo do cenário internacional.

Nos próximos dias 18 e 19 de novembro, o Rio de Janeiro sediará o encontro da Cúpula de Líderes do G20, que reúne as principais economias do mundo. Durante o evento, virão ao Brasil chefes de estado e representantes de 18 países membros do grupo, e também da União Africana e da União Europeia. O governo brasileiro ocupa atualmente a presidência rotativa do G20, e seu mandato se encerra neste mês de novembro.

Criado em 1999 em resposta a diversos episódios de conturbação econômica global, o G20 é um fórum de cooperação econômica internacional que tem como proposta debater propostas visando o fortalecimento da economia e o desenvolvimento social global. O grupo desempenha um papel importante na definição e no reforço da arquitetura e da governança mundiais em todas as grandes questões econômicas internacionais.

Na qualidade de presidente do grupo, o governo brasileiro teve a oportunidade de apontar certos temas como prioritários para serem alvo de debates e ações. Os temas destacados este ano são o combate à fome, à pobreza e à desigualdade, a reforma da governança global e as três dimensões do desenvolvimento sustentável, que são a econômica, a social e a ambiental.

Marcelo Fernandes de Oliveira, docente e especialista em Relações Internacionais do Departamento de Ciências e Politicas Econômicas do campus da Unesp em Marília, explica a as expectativas para esta reunião do G20, e a agenda que o Brasil procura implementar.

“O G20 é um grupo extremamente importante, porque reúne as principais economias e também os países com maior população do planeta. Então, tudo o que é decidido na cúpula pode surtir efeito planetário, alcançando a maioria dos habitantes desses países e suas economias”, diz o docente.

Ele analisa os temas que o Brasil apontou como prioritários para serem discutidos na reunião.  O primeiro, a inclusão social e combate à fome, “já há bastante tempo é um projeto do governo Lula.” O segundo, que envolve transição energética e desenvolvimento sustentável nas suas várias vertentes, “também é objeto de um plano energético que o governo está lançando, propondo grandes objetivos econômicos, sociais, ambientais, para solucionar diversos problemas do país e do mundo”. Por fim, a discussão sobre mudanças nas instituições de governança global traz para o centro do debate o futuro de órgãos como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a Organização Mundial do Comércio e o Conselho de Segurança das Nações Unidas, cuja reforma o Brasil pleiteia há bastante tempo.

“O Brasil e os países do Sul global vêm dizendo, reiteradamente, que o G20 deve servir como um espaço para ampliação da voz e da influência dessas nações junto ao cenário mundial. Isso inclui, além do Brasil, a Rússia, a África do Sul e a própria China, que também é caracterizada como pertencendo ao Sul global.”

Outros assuntos tão importantes quanto estes, ou ainda mais, vão aparecer na pauta dos debates. Um deles será a guerra entre a Ucrânia e a Rússia. Cogitou-se a vinda de Putin, o líder usso, ao Brasil para participar da reunião. “Lula convidou Putin e disse que, aqui, ninguém iria prendê-lo, visto que há uma ordem de prisão do Tribunal Penal Internacional contra ele. Mas, ainda em outubro, o líder russo disse que não vem porque sua presença poderia acabar atrapalhando as negociações da agenda do G20”, diz o pesquisador.

E a invasão de Israel à Faixa de Gaza é outra questão que não se poderá evitar. A atuação militar de Israel resultou em dezenas de milhares de baixas civis palestinas, incluindo aí milhares de crianças. O conflito escalou para bombardeios contra o Irã e o Líbano. Estes acontecimentos devem ser objeto de fortes discussões durante o encontro, podendo resultar, inclusive, em alguma forma de retaliação, sobretudo devido às atitudes de Benjamin Netanyahu, o chefe de governo israelense, na condução dessa guerra. “É possível que resulte do encontro uma série de indicações para uma finalização dessa guerra, ou mesmo um plano para isso, bem como um plano para finalização da guerra entre Ucrânia e Rússia”, diz o docente.

Oliveira acredita, porém, que a vitória de Trump nos EUA dificulta a formulação de prognósticos quanto ao que poderá, efetivamente, ser aprovado durante o encontro.

“É muito difícil dizer quais ideias poderão ou não ser aprovadas, em especial devido aos resultados das eleições norte-americanas. Trump simplesmente se nega a tratar, como por exemplo, a questão da transição energética, pois ele é um negacionista ambiental. E o Brasil trabalhou bastante durante esse ano, durante sua presidência no G20, para que esses temas sejam tratados. E o mesmo vale para as questões envolvendo combate à fome e a inclusão social. Na visão liberal adotada pelo Partido Republicano, e pelo próprio Trump, os países não têm muito a fazer nesses quesitos”, diz.

E o debate sobre a reforma da governança das instituições internacionais também tem suas próprias complexidades. “Trump quer retirar os Estados Unidos dessas organizações, e diz isso abertamente. Ele acha que essas organizações são todas de esquerda, marxistas, e que atrapalham as tomadas de decisões por parte dos Estados Unidos em suas relações internacionais. Então, não se sabe muito bem o que vai ocorrer nessa discussão. A vitória dele pode resulta em novos contornos à realidade futura que o G20 vai ter que enfrentar.”

Na análise do professor, o período do Brasil à frente da presidência do G 20 foi muito eficaz,  pois o país conseguiu inserir suas agendas na discussão global.

“O governo brasileiro, com essa presidência do G20, pretende desencadear inovações científicas e tecnológicas, sustentáveis e colaborativas, que permitam o surgimento de novos negócios na economia verde agrícola brasileira. Nossa política externa também foi empregada na organização dessa agenda, tanto como instrumento para transformar o combate à fome e a desigualdade social em agenda global, quanto para apresentar as oportunidades aos investidores internacionais, as potencialidades do ecocapitalismo brasileiro. Então, trata-se de uma atuação extremamente importante e central na estratégia do governo Lula para o Brasil”, diz.


Confira abaixo a entrevista com o pesquisador no Podcast Mundo e Política.

Imagem acima: Marcos de Paula/Prefeitura do Rio