Paulista natural de Bebedouro, no interior do estado, Gabi Milino é uma daquelas vocações musicais que transcendem as raízes e o ambiente para se afirmarem como o único caminho possível. Nasceu em uma família em que não havia músicos, o que, no entanto, não a impedia de viver cantando. “Diz a minha irmã mais velha que, desde pequenininha, eu cantava as músicas que tocavam na rádio, e depois a brincadeira foi crescendo”, diz.
Gostava do rock dos anos 1990, feito por grandes nomes como Alanis Morissette e The Cranberries. A partir dos 15 anos, começou a montar as primeiras bandas. Na hora de prestar vestibular, escolheu cursar arquitetura na USP, na cidade de São Carlos. E, durante a graduação, envolveu-se em mais bandas. “Fiz mais música do que realmente vivi no curso. Após te feito tudo o que precisava em relação aos estudos, cheguei à conclusão de que a música era mesmo o meu caminho.”
Era o ano de 2012. Após pegar o diploma em Arquitetura e Urbanismo, ela achou que precisava estudar outras coisas. E o primeiro passo foi uma conversa franca com os pais. “Na verdade, não foi surpresa para eles. Mas eu precisava mostrar que era possível seguir na música”, diz. Matriculou-se no Conservatório Souza Lima, em São Paulo. “Confesso que foi tudo bem puxado, desafiador. Entretanto, as coisas fluíram naturalmente. No final do curso, já me sentia mais segura, principalmente em relação a minha voz”, diz. Na busca por sua identidade musical, cantou um pouco de tudo – e ainda canta: rock, choro, jazz, blues, pop e MPB. “Tudo é um caminhar. Cantei de rock e pop até choro, dentre outros gêneros, para criar o meu estilo.”
Seu primeiro álbum foi lançado em 2015 e leva o título do seu próprio nome, Gabi Milino. Com onze faixas autorais, o trabalho trouxe a participação de nomes como Zeca Baleiro, Renato Godá, Swami Jr. e Fernando Nunes. A recepção positiva levou-a a participar da última temporada do Programa do Jô, o que lhe ajudou a mostrar-se a um público maior. Na sequência, foi convidada para participar do programa Lounge, no canal Bis.
“Vários fatores culminaram para a realização deste trabalho. Sempre me interessei pela poesia e pela escrita, rabiscava ideias desde menina. Quando eu estava no grupo de choro, cheguei a gravar alguma coisa. Adorei o ambiente de estúdio, mas não tinha muita ideia de como atuar, produzir e tal. Procurei o produtor Rodrigo Alexey, aqui em São Carlos. Mostrei minhas referências, minhas músicas e ele se empolgou com o projeto”, diz.
“Chamamos o Sérgio Soares para ajudar na produção, e quando nos juntamos os três, as coisas fluíram. O Sérgio enviou um convite ao Zeca Baleiro para participar. Ele, muito generoso, foi ao estúdio e gravou comigo a faixa El Desierto. E depois também convidamos o Swami Jr, que é um grande violonista. Foi assim”, conta.
Em 2019, ela começou a preparar o lançamento de dois singles autorais, mas o processo foi adiado devido ao isolamento em função da pandemia. Deslizes, canção dedicada ao cantor Sander Mecca, chegou às plataformas digitais em novembro de 2020, e ganhou um videoclipe, filmado em parceria com a URZE Cia. de Dança Contemporânea, em fevereiro de 2021. Em julho do mesmo ano, saiu o single Misbehave, que trouxe a participação do grupo vocal Clementines e um divertido videoclipe homemade, ainda respeitando as medidas de distanciamento social.
Em julho de 2021 saiu o EP Poeira Cósmica. Com cinco faixas, propõe um brinde à vida e aos bons encontros. “Comecei a trabalhar com o amigo, guitarrista e bluseiro, Netto Rockfeller. Participamos da Lei Aldir Blanc e fomos contemplados com este projeto. Em meio a um momento delicado, com tantas angústias e limitações, fizemos um mergulho interior necessário, que nos obrigou a reavaliar o que é realmente importante. As canções do disco partem dessa vontade de jogar luz sobre as coisas simples, mas que são realmente significativas nessa breve passagem de poeira cósmica, que é a nossa condição. Coisas como o amor, a amizade, os bons encontros, a saudade e a busca por um sentido maior e pessoal na nossa jornada. Afinal, um dia seremos todos apenas pó de estrelas.”
Dona de uma voz aveludada, suave e peculiar, ao longo destes anos, Gabi Milino tem buscado traduzir diferentes sentimentos em sua música. “Acho que o meu trabalho tem coisas muito alegres, solares. Mas algumas músicas são mais fortes e profundas também. Além disso, viver da arte independente é um grande desafio. A gente tem que ser tudo: cantora, instrumentista, produtora e divulgadora do próprio trabalho. Mas não vejo isso como algo ruim. Penso que não podemos perder nossa identidade, nosso trabalho autoral, nossa maneira de ser e enxergar o mundo. Eu brinco que não sei fazer outra coisa além de cantar. E é o que eu faço.”
Confira abaixo a entrevista completa no Podcast MPB Unesp.