Com mais de 30 anos de carreira artística e cerca de 20 álbuns gravados, o cantor, compositor, poeta e produtor Carlos de Souza, conhecido pelo nome artístico de Carlos Careqa, ganhou notoriedade na cena da MPB pela peculiaridade de sua obra, que apresenta reflexões sobre temas sociais, cotidianos e afetivos em uma linguagem que combina irreverência, sofisticação e humor.
Nascido na cidade de Lauro Muller, Santa Catarina, Careqa nasceu em 3 de agosto de 1961. Por volta dos 5 anos de idade, mudou-se com a família para Curitiba, onde viveu durante boa parte da infância e adolescência e estudou música e teatro. Esse encontro com a arte e a música, no entanto, se desenvolveu num contexto religioso, quando Careqa era estudante seminarista, vivência que influenciaria sua trajetória posterior.
“Apesar de o meu pai ter me dado o primeiro violão por volta dos 11 anos, acho que, na verdade, a música nasceu na minha vida dentro da Igreja Católica”, diz. “Eu era coroinha e cantava. Depois, cursei o Seminário Salesiano. Morei primeiro na cidade de Ponta Grossa (PR) e depois em Santa Catarina, em uma cidade chamada Rio dos Cedros, próximo a Blumenau. Lá, aprendi a tocar violão, fazer teatro, coisas assim”, relembra. Nessa fase, ouvia e tocava muito músicas do sacerdote católico Padre Zezinho, “compositor maravilhoso, do qual hoje sou amigo”, e também colaborou com uma banda instrumental. “Essa influência permaneceu. Misturada, claro, com todas as outras influências que tive, como Roberto Carlos, Chico Buarque e todos os grandes músicos da MPB, inclusive dos anos 1920 e 1930”, enumera.
O músico retornou a Curitiba e teve sua primeira experiência profissional, em 1979. Compôs a música para uma peça infantil, que já falava de crianças e pessoas em situação de rua. Aos 22 anos, partiu em buscas de oportunidades em Nova York e, entre idas e vindas do exterior, viveu também em Berlim e Genebra, até retornar de vez ao Brasil e se radicar em São Paulo no início da década de 1990.
“Fui a Nova York para tentar a vida, fazer a América. Chegando lá, vi que as coisas não são bem assim. Percebi que tinha muita pobreza, um estado de coisas que a gente não imagina. Levei meu violão, um repertório e a possibilidade remota de tocar em algum lugar”, diz. Encontrou um amigo violonista que lhe abriu espaço para tocar num bar, e a experiência deu certo. Complementava o dinheiro trabalhando em posto de gasolina e num escritório de revelação de fotos. “Consegui ganhar uma graninha e voltei ao Brasil.”
Entre 1989 e 1990, foi morar em Berlim, na Alemanha, graças a uma bolsa ofertada pelo Instituto Goethe, em Curitiba, como um multiplicador cultural. “Mas eu sempre pensava: quando vou gravar meu primeiro disco? Já tinha 27, 28 anos. Quando voltei, um amigo meu que cuidava do Centro Cultural do Portão me convidou para abrir o show do Arrigo Barnabé e eu fiquei muito entusiasmado. O Arrigo Barnabé era pra mim uma influência muito forte. Eu fui, abri o show e o Arrigo foi com a minha cara. Depois se tornou um grande amigo, sócio, fizemos vários projetos juntos.”
Seu primeiro álbum, Os homens são todos iguais, foi lançado em 1993, e contou com a participação de membros da Vanguarda Paulista como o próprio Arrigo Barnabé, e parcerias com Paulo Leminski. O disco, que está comemorando 30 anos, trouxe composições que a chamaram atenção do público e de outros artistas como “Não dê pipoca ao turista”, a faixa-título e “Acho”, que tocou em rádios de São Paulo.
“O Arrigo gostou muito da música ‘Não dê pipoca ao turista’ e disse que iria gravar a música, fiquei muito feliz. Assim nasceu o projeto do primeiro disco, com o apoio do Arrigo. Eu vim para São Paulo e ele conseguiu que quatro expoentes da Vanguarda Paulista participassem do projeto. Consegui o apoio da Fundação Cultural de Curitiba, a quem eu sempre agradeço muito, e tudo começou assim. Ali adentrei a trajetória artística independente”, diz.
Em sua carreira, o músico gravou com diversos grandes nomes como Chico Buarque, Jards Macalé, Chico César, Raul de Souza, Zeca Baleiro, Paulinho Moska, Itamar Assumpção, Vânia Abreu, André Abujamra e Edson Cordeiro, dentre muitos outros. Entre suas composições de maior sucesso estão “Meu Querido Santo Antônio”, “Ser Igual é Legal” e “O Q Q Cê Tem na Cabeça”. Outra vertente é sua atuação em diversas trilhas de propagandas publicitárias e cinematográficas.
Seu álbum mais recente, Somos Todos Estrangeiros, lançado no início deste ano, está nas plataformas digitais e celebra suas três décadas de carreira fonográfica. “O disco começou a ser pensado em 2018 e foi maturando nos últimos anos, incluindo o período de pandemia. Também tem um viés em relação à minha trajetória, minhas viagens, os lugares onde já morei… E por fim me fixei em São Paulo, terra de tantos estrangeiros, onde estou há mais de 30 anos”, diz.
Confira abaixo a entrevista completa no Podcast MPB Unesp.
Foto acima: Edson Kumasaka.