Está em vias de chegar ao público o texto impresso da quinta pesquisa sobre os efeitos diretos e indiretos da existência dos câmpus da Unesp em 23 municípios do interior do estado de São Paulo. O novo trabalho será intitulado A Unesp e os Municípios: Os Benefícios Resultantes da Convivência.
Uma instituição de ensino superior representa um vetor de desenvolvimento econômico e social para o município. Seus efeitos extrapolam a dimensão educacional, gerando empregos, renda e investimentos, além de promover transformações estruturais no ambiente urbano e produtivo.
Nos 27 anos decorridos desde a primeira pesquisa (1996) até esta, que apresenta os dados relativos ao ano de 2022, foram evidenciadas as várias dimensões dos efeitos para os municípios, resultantes da existência de unidades universitárias da Unesp. Entre elas:
1 – O crescimento da demanda nos setores de alimentação, lazer e transporte, como resultado do aumento da população de estudantes.
2 – O aumento da demanda por imóveis residenciais para moradia de estudantes cujas famílias residem em outras cidades, o que dinamiza o mercado imobiliário.
3 – A expansão das atividades econômicas que, ao ampliar a base tributária, resulta em maiores receitas para os municípios.
A sinergia entre o setor educacional e as atividades econômicas evidencia o papel da Unesp como agente de diversificação produtiva e de formação de profissionais especializados, que contribuem decisivamente para o desenvolvimento e a melhoria da qualidade de vida dos municípios.
Nos câmpus da Unesp onde existem faculdades que oferecem cursos ligados à área de saúde, tais como medicina, odontologia, farmácia, fisioterapia e psicologia, a formação e o aprendizado dos alunos resultam na disponibilização de serviços de saúde gratuitos para a população, contribuindo também para melhorar a qualidade de vida.
A ampla contribuição da universidade pública à sociedade
Em um contexto político de radicalização dos posicionamentos ideológicos, com o avanço das teses da extrema-direita, uma de suas manifestações setraduz no ataque às universidades públicas brasileiras, por meio de uma série de acusações infundadas.
A primeira fake news afirma que 56% dos estudantes das universidades públicas brasileiras pertencem a famílias que estão entre os 20% mais ricos do país, oque justificaria a proposta de introduzir a cobrança de mensalidades. Os dados obtidos no questionário socioeconômico respondido pelos candidatos ao vestibular da Unesp no início do ano de 2025 desmentem categoricamente essa afirmação.
Há ainda a questão das diferenças entre o custo por aluno observadas nas comparações entre universidades públicas e universidades privadas. Os defensores do ensino privado argumentam que a diferença do custo por aluno entre as universidades públicas e as privadas é, em média, de 40%. Ou seja, o custo por aluno nas universidades públicas seria muito maior, relativamente aodas universidades privadas.
Nada mais falacioso, uma vez que, na análise dos custos entre públicas e particulares não são considerados os diferentes regimes de trabalho dos servidores e os investimentos em laboratórios, pesquisas, equipamentos e em informática, que diferenciam, de modo significativo, as universidades públicas das particulares.
São, portanto, falsos aqueles argumentos que têm por objetivo desacreditar o ensino superior público gratuito, alargando o caminho para a expansão do ensino superior privado que, nos últimos anos, tem crescido de forma expressiva, liderado pelo capital estrangeiro. Expansão que seria facilitada por meio da redução do número de unidades universitárias, do número de cursos e da quantidade de vagas no ensino superior público.
As universidades públicas brasileiras desempenham uma função social importante, uma vez que são responsáveis pela formação de profissionais dotados de conhecimento científico e tecnológico, que contribuem para o desenvolvimento econômico e social do país. Além disso, como resultado das pesquisas desenvolvidas em seus laboratórios, elas produzem inovações técnicas que impulsionam o processo produtivo, estimulam a atividade econômica e promovem o bem-estar social.
Essas questões são objeto de análise mais detalhada no trabalho que será publicado, uma vez que muitas delas são referendadas pela apresentação de dados estatísticos que, em última instância, demonstram a importância da Unesp para o desenvolvimento econômico, social e cultural dos municípios que abrigam suas unidades universitárias.
José Murari Bovo é Professor aposentado do Departamento de Economia da FCL/ Ararquara
