Em 1925, os físicos alemães Werner Heisenberg, Max Born e Pascual Jordan deram um salto conceitual na física com a apresentação da mecânica matricial, a primeira formulação matemática capaz de explicar os conceitos da mecânica quântica que vinham sendo investigados desde meados de 1900. Em referência a esse feito, o ano de 2025 tem sido celebrado como o centenário do nascimento da mecânica quântica, e também da guinada tecnológica que ela possibilitou. É graças à mecânica quântica que hoje temos os pequenos semicondutores que compõem chips eletrônicos e os lasers responsáveis por ler as informações em aparelhos de CD e DVD. Mais recentemente, os desdobramentos das pesquisas nesse campo têm preparado o terreno para uma nova revolução tecnológica com os estudos sobre comunicação quântica, sensoriamento quântico e, talvez, o produto mais famoso, computação quântica.
Reconhecendo o papel essencial desempenhado pela mecânica quântica em nosso mundo, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) declarou 2025 como o Ano Internacional da Ciência e Tecnologia Quânticas (IYQ 2025). Ao longo de todo o ano, a organização apoiou e incentivou a realização de centenas de eventos no mundo inteiro, nos campos de pesquisa, divulgação e extensão, como forma de celebrar esse marco.
Na Unesp, como forma de se unir às comemorações, o ICTP South American Institute for Fundamental Research (ICTP-SAIFR), centro de pesquisa associado ao Instituto de Física Teórica da Unesp, campus de São Paulo, desenvolveu uma reportagem em profundidade apresentando a história e as perspectivas da mecânica quântica.
Intitulada As Novas Tecnologias Quânticas no Brasil e no Mundo, a reportagem apresenta as principais teorias e traça um panorama geral das pesquisas no campo, destacando o papel do Brasil dentro do cenário de desenvolvimento científico e tecnológico. Os autores entrevistaram 25 pesquisadores brasileiros, reconhecidos internacionalmente como lideranças na área, que atuam no desenvolvimento de tecnologias quânticas.
“A reportagem abrange todo o histórico da mecânica quântica e também se debruça sobre o estado da arte hoje”, diz Ana Luiza Sério, coordenadora de Extensão e Divulgação Científica do ICTP-SAIFR e professora de física na Escola Vera Cruz. “Quem quiser conhecer os principais conceitos e personagens históricos do campo vai conseguir encontrar essas informações. Mas ela também atende àqueles que já estão familiarizados com essa parte e querem se aprofundar no cenário brasileiro”, diz.
Segundo Nathan Berkovits, diretor do ICTP-SAIFR, outro fator que motivou a realização de uma reportagem em profundidade foi apresentar, em detalhes, o significado da palavra “quântica”. Ele diz que, nos últimos tempos, o termo tem aparecido cada vez com mais frequência em contextos que não são científicos, o que gera confusões. “O significado da palavra ‘quântica’ ainda é misterioso para o público geral”, diz Berkovits, “por isso achamos importante produzir uma explicação pedagógica e aprofundada.”
A palavra “quântica”, de fato, passou por um processo de apropriação por ramos da pseudociência, sendo utilizada em diversos contextos para gerar um certo grau de legitimidade científica às ideias e práticas que não têm seus fundamentos ligados à mecânica quântica. Alguns exemplos são os coaches quânticos ou terapias quânticas, que, apesar de afirmarem seguir teorias da mecânica quântica, são práticas sem base científica, consideradas pseudociências e responsáveis por confundir o público que não tem conhecimento científico sobre o tema.
“Pensando nisso, depois de descrever os princípios básicos da física quântica e como ela está revolucionando as tecnologias, tentamos dar um resumo das pesquisas feitas no Brasil com o objetivo de incentivar jovens brasileiros a se interessarem mais pelo assunto”, afirma Berkovits.
Para auxiliar na exploração do tema, a reportagem também conta com vídeos, infográficos, interatividades e linhas do tempo, permitindo ao leitor acessar informações em diversos formatos. “O que mais me chamou a atenção foi que existem pesquisas de mecânica quântica sendo feitas em todo o Brasil”, conta Sério.
Com base no artigo “Uma Visão da Ciência das Redes sobre o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Informação Quântica”, publicado pelos pesquisadores Rute Oliveira e Rafael Chaves, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e pela pesquisadora Liliana Sanz, da Universidade Federal de Uberlândia, a equipe do ICTP-SAIFR elaborou um mapa com as cidades brasileiras que contam com pesquisadores do INCT de Informação Quântica, destacando as conexões e colaborações científicas entre os grupos. Ao todo, existem cientistas espalhados em 31 cidades brasileiras, presentes nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste.
Ao fim do trabalho, a equipe chegou à conclusão de que o Brasil conta com um quadro de pesquisadores altamente capacitados, que produzem ciência em nível internacional. “Esse fato tem relevância especial para as novas gerações de estudantes que estão pensando em seguir carreiras científicas. Isso permite que eles olhem para o panorama das pesquisas no Brasil e vejam que seguir esse caminho no país é uma realidade”, destaca Sério.
A reportagem compõe um projeto de divulgação científica do ICTP-SAIFR que tem como objetivo apresentar as diversas áreas da física, com destaque para a participação brasileira em cada campo. Além do trabalho em homenagem ao centenário da mecânica quântica, outras publicações exploraram os campos da astronomia, da física de partículas e de sistemas complexos. Para acessar a reportagem “As novas tecnologias quânticas no Brasil e no mundo” clique aqui.
Imagem acima: Trajetória de elétrons no experimento da dupla-fenda, que demonstra a dualidade onda-partícula. Nela, as partículas quânticas podem se comportar tanto como ondas quanto como partículas. Crédito: Alexandre Gondran