A cidade de Belém vai receber, entre os dias 10 e 21 de novembro, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30). Enquanto chefes de Estado, diplomatas e negociadores debaterão ações para o enfrentamento da emergência do clima no pavilhão localizado no Parque da Cidade, na área urbana da capital paraense, a alguns quilômetros dali, em meio à floresta amazônica, a Casa da Floresta Unesp-Peabiru estará aberta ao público com a proposta de articular o conhecimento científico, os saberes tradicionais e a cultura em prol de soluções capazes de conjugar o desenvolvimento social e a preservação da floresta, temas fundamentais na agenda da conferência.
O projeto é uma iniciativa da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec), em parceria com o Instituto Peabiru, organização que, desde 1988, atua na Grande Belém e na região amazônica em projetos voltados para a sociobiodiversidade, meliponicultura, educação ambiental, recuperação de ecossistemas e fortalecimento de comunidades tradicionais. O total de instituições envolvidas no projeto, entretanto, soma mais de 30 integrantes, incluindo universidades do Sudeste e da Amazônia, institutos de pesquisa, artistas individuais e coletivos que atuam na capital paraense e ONGs ligadas ao meio ambiente e à educação. A Casa da Floresta está localizada em um espaço cedido pelo Instituto Peabiru na zona rural do município de Acará, em meio a uma área de mata às margens do rio Guamá, que banha Belém, e próximo à Ilha do Combú.

Raul Borges Guimarães, pró-reitor de Extensão e Cultura da Unesp, explica que a Casa da Floresta é, ao mesmo tempo, um conceito e um projeto concreto, que se propõe a servir como espaço para inovação socioambiental, diálogo intercultural e aprendizado coletivo, inspirado em valores de pertencimento, regeneração ecológica e emancipação social.
Construção com materiais locais e sustentáveis
“A Casa da Floresta evidencia a vocação extensionista da Unesp: transformar conhecimento em diálogo e compromisso com os territórios. É uma ação que une universidade e sociedade para repensar o futuro a partir da Amazônia — esse coração vivo do planeta”, diz o docente.
O centro das negociações da Conferência das Nações Unidas, que, pela primeira vez, acontecerá na região amazônica, estará na área urbana de Belém, em pavilhões construídos especificamente para o evento. Para o diretor do Instituto Peabiru, João Meirelles, a Casa da Floresta proporcionará um contraponto, oferecendo ao público a oportunidade de uma abordagem diferenciada para as questões climáticas.
O projeto está inserido em um espaço que abriga um açaizal, sistemas agroflorestais, meliponários e outros exemplos de tecnologias sociais que podem transformar a realidade de populações urbanas e periurbanas da Amazônia, um tema central quando se planeja um modelo justo de desenvolvimento para a região, buscando conciliar qualidade de vida e proteção à floresta. “Nosso objetivo é apresentar soluções simples e reaplicáveis, como sistemas de captação de água da chuva, saneamento básico acessível e o uso adequado da energia solar, que contribuem para melhorar a vida das pessoas”, diz Meirelles.
A Casa da Floresta foi concebida para reduzir ao mínimo o impacto ambiental decorrente de sua construção. Para isso, priorizou-se ao máximo o uso de materiais de origem natural típicos da região amazônica.
Projetada pela arquiteta Juliana Cortez, docente do câmpus de Itapeva e que é especialista no uso de bambus em sistemas construtivos, a Casa é formada por uma estrutura geodésica construída com ripas de bambu e preenchida com folhas de palmeira buçu. A sugestão para o uso da palmeira, abundante na região, partiu dos próprios residentes de Acará, que colaboraram na construção do abrigo. A elevação da estrutura em relação ao solo, combinada com uma larga claraboia no topo, permite a plena circulação natural do ar, resfriando o ambiente, e o aproveitamento da luminosidade natural, além de permitir a observação das diversas árvores que cercam a Casa.

Para a professora, a combinação desses componentes construtivos, além de trabalhar com materiais de baixo carbono, permitiu minimizar a produção de resíduos ou produtos que pudessem contaminar o solo, a água ou os seres vivos. “O projeto explorou a troca de conhecimentos construtivos para produzir um abrigo que protege da chuva e do calor do sol, de modo que as pessoas possam visitar e dialogar a respeito de nosso futuro ancestral, inclusive sobre modos de habitar de maneira mais saudável e sustentável”, diz ela.
No espaço cedido para abrigar o projeto, na área rural do município de Acará, o Instituto Peabiru promoverá uma série de atividades que se conectam com o conceito de articulação de saberes que orientará a programação da Casa da Floresta.
Programação inclui debates e intervenções artísticas
A Casa da Floresta vai oferecer atividades públicas entre os dias 10 e 21 de novembro, em paralelo à realização da COP30. A agenda de atividades, elaborada ao longo dos últimos seis meses, segue duas vertentes principais: eventos com um perfil mais teórico-científico, que incluem painelistas, mesas-redondas e rodas de conversa, complementados por um projeto expográfico, que vai ocupar principalmente a área externa da Casa com instalações e intervenções artísticas elaboradas por artistas locais.
Anna Cláudia Agazzi, professora do Instituto de Artes da Unesp, explica que as obras expostas buscam relacionar pesquisas desenvolvidas pela Unesp e por outras instituições de pesquisa localizadas na Amazônia às experiências e tecnologias sociais promovidas pelo Instituto Peabiru. Ela é a responsável pela expografia que cerca a Casa da Floresta e pelo convite feito aos artistas e coletivos locais.

“Desde abril, estamos trabalhando com colegas pesquisadores de diversas áreas, mas principalmente temáticas relacionadas à sustentabilidade, clima e meio ambiente, tentando encontrar formas de sensibilizar o público por meio dessas pesquisas. São projetos bem fundamentados, elaborados com metodologia científica, mas que serão comunicados ao público de uma forma mais sensível”, explica. “A arte não é uma disciplina fechada em si mesma, aliás, nenhuma deveria ser. Quando discutimos a conceituação do projeto Casa da Floresta, ficou muito clara a ideia da interdisciplinaridade. Acredito que essa interdisciplinaridade pode nos indicar um novo caminho, tanto para a pesquisa quanto para o planeta”, argumenta Agazzi.
Já os painéis, mesas-redondas e rodas de conversa vão obedecer a dinâmicas específicas. O objetivo é estimular a manifestação dos participantes e o intercâmbio de experiências e conhecimentos. A agenda de temas a serem debatidos vai incluir Saúde, arte e impacto climático, Segurança alimentar e sistemas agroflorestais, Química verde e bioeconomia, e Arquitetura saudável e sustentável. A programação completa e os participantes serão disponibilizados em um site específico da Casa da Floresta na página da Proec. Para o pró-reitor Raul Borges Guimarães, a expectativa é que a proposta de troca de saberes que orientou a criação da Casa da Floresta se torne um modelo que possa ser replicado pela extensão da Unesp. “Espero que esse projeto que estamos realizando durante a COP30 sirva como ponto de partida para outras experiências que possamos replicar no estado de São Paulo, ou mesmo em outras regiões do Brasil em que a extensão da Unesp atua”, afirma.
Imagem da Casa da Floresta, organizado pela Unesp em parceria com o Instituto Peabiru, durante a COP30, em Belém. Crédito: Franklin Salvador/Instituto Peabiru.
