Funcionária há mais de 20 anos da multinacional JBT Food Tech, uma das gigantes no ramo da indústria de equipamentos para o setor de alimentos, presente em 25 países, Daniela Kharfan atua como gerente de P&D da empresa no Brasil e tem entre suas atribuições a coordenação das atividades que envolvem experimentos e testes, além do suporte técnico aos clientes, tanto internos quanto externos. Em entrevista ao podcast Universo Profissional, ela rememora o início de sua bem-sucedida trajetória no mundo do trabalho, cujos primeiros passos foram dados no curso de Engenharia de Alimentos do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (IBILCE), do campus de São José do Rio Preto da Unesp.
Daniela cursava o segundo grau quando suas irmãs mais velhas ingressaram no mesmo IBILCE, proporcionando um primeiro vislumbre da vida estudantil e acadêmica na instituição. Mas foi graças a um evento de visitação, em que estudantes secundaristas eram convidados a conhecer o câmpus e assistir a palestras sobre os cursos de graduação, que a estudante do terceiro ano conseguiu escolher para onde direcionar seus estudos e sua trajetória.

Colaboração com a Unesp durante toda a carreira
“Gostava muito das áreas de química, física e de exatas de maneira geral. Numa das palestras, o professor Roger Barros Barbosa, que me deu aula e ainda está no programa, chamou minha atenção para a Engenharia de Alimentos. Prestei e tive o prazer de passar logo depois do terceiro ano. É um curso multidisciplinar. Me apaixonei por ele e terminei a graduação lá”, conta. No seu Trabalho de Conclusão de Curso, ela propôs um sistema de recuperação de polpa de laranja. “Mal sabia eu que ia viver disso o resto da minha vida”, diz.
Para além da boa formação técnica que recebeu em sala de aula e nos laboratórios, a engenheira de alimentos destaca como um ponto forte do curso a possibilidade de estabelecer relacionamentos com os professores.
“O mais importante que vi na Unesp é a possibilidade de receber o suporte dos professores do curso, dos programas de extensão universitária, e até de outras unidades e outros programas. Tive muito contato com a Unesp de Araraquara, onde depois fiz meu doutorado, e também com docentes do câmpus de Botucatu, com quem desenvolvi trabalhos. No ano passado, fui convidada novamente para ministrar um minicurso na Semana de Engenharia de Alimentos e participar de mesas-redondas. Já tinha sido convidada antes para participar de eventos de iniciação científica também”, diz. “A Unesp é muito ativa nesse aspecto de manter contato com os egressos após a nossa saída. Desde que me formei, a universidade esteve presente em toda a minha carreira”, diz.
O doutorado foi cursado no Programa de Pós-Graduação em Alimentos, Nutrição e Engenharia de Alimentos, que é oferecido pelo IBILCE e pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp em Araraquara. A tese investigou a influência da fruta e das características de processo na qualidade do óleo essencial de laranja, empregando técnicas de espectroscopia nas avaliações. O estudo envolveu colaborações e apoios de profissionais de diferentes instituições, como a Embrapa Instrumentação, de São Carlos, e de start-ups da área. Os resultados já começaram a ser implementados na área técnica da JBT FoodTech.
Com sede em Chicago, a empresa fabrica diversos tipos de equipamentos para a indústria de alimentos, abrangendo desde a parte de encanamento até esterilização. “Minha função é trabalhar na parte de planta piloto e de suporte no processamento cítrico. Nesse modelo de negócio, nós alugamos as extratoras industriais para os processadores, e cabe à nossa planta piloto prover o suporte técnico aos clientes. Isso inclui acompanhar a performance dos equipamentos ao longo de toda a safra, caracterizando a fruta, as variedades, os diferentes ajustes necessários nos processos. Também sou responsável por organizar todas as agendas, ministrar treinamentos, preparar palestras. Semana passada, estive na Bahia, em contato com produtores da citricultura de lá”, diz.
Início em empresa familiar
A vida profissional de Daniela iniciou-se em uma empresa de menor porte, de características familiares. A seguir, migrou para a Citrovita, uma empresa de grande porte (que passou por um processo de fusão em 2025, mudando de nome), até chegar à posição atual, na multinacional norte-americana. Aos estudantes que lhe pedem conselhos sobre carreira, ela pondera que nem sempre os iniciantes têm muita possibilidade de escolha. O caminho para evoluir passa, então, por aproveitar ao máximo as oportunidades à medida que elas despontam.
“Há pessoas que começam sua carreira trabalhando em uma empresa multinacional, com chance de ir para fora do país, e desenvolvem uma carreira brilhante. Outras começam trabalhando em uma empresa pequena. Vai depender muito do perfil de cada um e de como lidam com as oportunidades que vão aparecendo”, diz.
“Se você tiver a oportunidade de participar de um processo de seleção de trainees em uma grande corporação, aproveite. Mas isso não quer dizer que seria ruim começar em uma empresa um pouco menor, seja uma familiar ou uma startup, das quais hoje existem muitas. E há profissionais que preferem seguir pela carreira acadêmica. O leque de possibilidades profissionais é muito grande. Recomendo aos alunos que me procuram que aproveitem todas as oportunidades que encontrarem, dentro e fora da universidade, para aprimorarem sua formação e se desenvolverem”, diz.
A colaboração entre a multinacional norte-americana e start-ups paulistas tem se mostrado profícua, abrangendo áreas como bioplásticos, polímeros e biofilmes. “Vejo que estamos em um momento bastante rico, de muita transformação. Há muito conhecimento, muita tecnologia disponível. Quem vai despontar nesse mercado, na minha opinião, é quem conseguir fazer o básico bem-feito e trazer essas coisas para o dia a dia, de forma que seja útil e eficiente”, diz.
Mesmo depois de concluído o doutorado, Daniela continua colaborando com a Unesp, por meio de parcerias com docentes de diferentes unidades. “Recentemente, participei de um curso online ministrado por um professor da Faculdade de Medicina Veterinária de Botucatu. Estou também em contato com outros professores por meio de grupos de WhatsApp. E minha história com a Unesp continua. Tenho um sobrinho que vai se formar em Engenharia de Alimentos na Unesp de Rio Preto e diz que se inspirou em mim. Acho que, de tanto que gostei do curso, continuei buscando estabelecer parcerias. E isso perdura até hoje”, diz.
Ouça a íntegra da entrevista ao Universo Profissional clicando abaixo.
