Brasil deve colocar debate sobre mudanças climáticas e Inteligência Artificial na pauta da reunião do BRICS, que começa no domingo no Rio de Janeiro

País ocupa a presidência rotativa do bloco e quer abrir espaço para temas que considera especialmente relevantes. A ausência dos líderes da China e da Rússia não deve comprometer a amplitude das discussões, diz docente da Unesp estudioso de Relações Internacionais.

A próxima reunião do bloco BRICS+, que ocorrerá no Rio de Janeiro, nos dias 6 e 7 de julho, ganhou, por enquanto, um destaque negativo, devido a duas ausências importantes. Os líderes de duas das principais potências do bloco – Vladimir Putin, presidente da Rússia, e Xi Jinping, chefe de Estado chinês – confirmaram que não virão, por razões diferentes. Putin já não esteve presente na reunião anterior devido a uma condenação do Tribunal Penal Internacional, por crimes de guerra contra a Ucrânia. No caso da China, diplomatas do país asiático lembraram os dois encontros ocorridos entre os líderes do Brasil e da China apenas no último ano. Esta é a primeira vez que Xi Jinping não vem ao encontro do bloco no Brasil.

Em entrevista à Rádio Unesp, o historiador Marcos Cordeiro Pires, que é pesquisador especializado nos BRICS, diz que a ausência dessas lideranças não deverá impor limitações práticas aos debates, uma vez que a tecnologia de videoconferência permite que os contatos ocorram. “Espera-se que Xi Jinping venha ao Brasil ainda este ano, para participar da COP 30. No caso de Putin, ele não pode vir porque o Brasil acata as determinações do Tribunal Penal.” Mas ele ressalta a significância da presença de países menos conhecidos cujos líderes virão, incluindo Indonésia, Etiópia e Vietnã, que estão entre as economias mais dinâmicas do mundo.

Pires, que é docente da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp, câmpus de Marília, explica que a pauta do encontro deve abordar temas bastante diversos. Um deles é a temática do clima, puxada pelo Brasil, que atualmente ocupa a presidência do grupo e que sediará a COP 30 em novembro. Entre os temas a serem debatidos estarão as iniciativas de mitigação e o financiamento às ações de combate à mudança climática. Outro tema puxado pelo Brasil é o da Inteligência Artificial, uma mudança disruptiva que vem sendo protagonizada por grandes empresas situadas nos EUA e na Europa, e cuja regulação pode manter os países do bloco em uma situação de sujeição.

O bloco, porém, não se propõe a fazer uma contraposição política aos países ocidentais. A grande heterogeneidade que existe entre os integrantes resulta em interesses diferentes e, por vezes, em contradições em seus objetivos. “A imprensa de vários países, inclusive do Brasil, costuma pintar o BRICS como um grupo antiocidental, como se quem pertencesse a um não pudesse pertencer a outro. Isso não é verdade”, diz. “Muito mais do que uma contraposição, ele é uma alternativa”, diz.

Ouça a íntegra da entrevista à Rádio Unesp clicando aqui.

Imagem acima: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa da sessão especial de abertura da primeira reunião de sherpas da presidência brasileira do BRICS, no Palácio Itamaraty. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil