Quem acompanha o surgimento dos novos talentos musicais no Brasil já ouviu, ou logo vai ouvir, falar em Fabíola Beni. A cantora paulista tem se destacado na cena da música folk produzida no Sudeste, e despertou para a música por conta do repertório tradicional, de rodas de viola, festas de São João e Folia de Reis, que ouviu em sua infância no interior do estado.
“Eu sou nascida lá no interiorzão, divisa de São Paulo com Mato Grosso do Sul. Meus pais são agricultores, cresci na roça. Eles sempre gostaram muito de música. Aquela coisa de escutar rádio, comprar fitas. Eu sou da geração das fitas”, lembra.
A música entrou em sua vida quando se deparou com um violão parado na casa de um tio. Ficou tão encantada que levou o instrumento para casa de presente, e começou a estudar com um professor local. “Minha família é católica. Eu também ia à igreja para aprender um pouco de música, acho que as primeiras coisas que aprendi foram cantos da igreja. Minha mãe fazia festas de São João, e sempre recebia em casa a bandeira e a Folia de Reis. A música sempre esteve presente através das festas”, conta. Mas também ouvia muitos artistas do sertanejo dos anos 1990, como Chitãozinho e Xororó e Leandro e Leonardo. “E acompanhava no rádio artistas pop, como Jota Quest, Skank, Pato Fu e Rita Lee “, diz Beni.
Entre 2007 e 2011, cursou a graduação em Letras no câmpus da Unesp em Araraquara. Nesse mesmo período, apresentava-se com voz e violão em um trio de MPB e pop rock, que foi classificado para o Festival Interunesp de MPB em 2009. Foi nessa época que começou a se profissionalizar.
“Durante a graduação em Letras na Unesp comecei a ir às festinhas das repúblicas e acabei me encantando pela guitarra. Comprei uma guitarra e montei minha primeira banda, chamada Ruído Fino. Lançamos um CD só de canções minhas em parceria com o Vinícius Lux. Ele até hoje é um parceiro nas empreitadas da música”, diz.
Formou-se e começou a dar aulas, mas a música falava alto em seu coração. “Acredito muito no propósito de levar uma mensagem de bem-estar para as pessoas. De luz, esclarecimento, paz interior. Não que o trabalho de ensinar não seja lindo também. Mas a música me pegou pelo Calcanhar de Aquiles. Quando percebi, já pagava minhas contas tocando”, diz.
O período na Ruído Fino, um septeto de pop soul, durou entre 2012 e 2015, e permitiu a Beni dividir palcos com Nanny Soul, Izzy Gordon e Tassia Reis. Em seguida, de 2016 a 2019, assumiu o posto de guitarrista e cavaquinista na Groove de Bamba, um grupo de samba funk que abriu shows para Sandra de Sá e Di Mello. Nessa mesma fase, criou e coordenou a “Diversom”, oficina de musicalização para crianças, jovens e idosos, e também foi guitarrista do quarteto de blues Musadelic. Entre os anos de 2019 e 2021, fundou o grupo de teatro infantil “Dois Duos”, onde atuou como musicista e teve diversas de suas composições apresentadas.
Encontro especial com a viola
Aos 26 anos, quando já era mãe, um novo amor entrou na sua vida: a viola. Ela diz que era um encontro destinado a acontecer.
Certa vez, ao voltar para a casa dos seus pais após um longo tempo longe, deparou-se com uma viola pendurada na parede. “Fiquei encafifada, perguntei para o meu pai se ele estava estudando viola, porque ninguém em casa toca”, diz. O pai disse que, certo dia, um rapaz veio à empresa em que ele trabalhava e disse: “senhor Aécio, compre minha viola para me ajudar. Eu vou ser pai, estou em uma situação complicada.” O pai não comprou. O rapaz voltou no outro dia, contou novamente a história, sem sucesso. Voltou um terceiro dia. O pai de Beni compadeceu-se e comprou o instrumento.
Fabíola ficou encantada quando viu a viola, e encarou o acontecimento como um chamado artístico. “Nunca tinha pegado uma viola. Quando peguei, parecia que eu já sabia tocar, sabe? Era uma espécie de memória afetiva muito forte”, diz . Começou a compor e a estudar. Em 2019, já tinha composto 60 canções. Foi quando começou a gravar os primeiros EPs.
O EP N° 2 saiu em 2019. Foi seguido pelos singles Encanto e Era Tão Bom , ambos de 2020, e Vida Passageira, de 2021. Em 2022 veio o álbum Fabiola Beni e Violeiras Fora da Caixa, gravado ao vivo durante a turnê do show de mesmo nome.
“Acabei de lançar um trabalho intitulado O céu da minha cabeça. Saiu em dois formatos, de estúdio e ao vivo, com participações especiais de cantoras que admiro. Foi muito especial gravar esse trabalho na Fatec Tatuí, que é um estúdio público e de alto nível”, diz.
Fabíola já se apresentou em festivais e palcos importantes, como os do Festival Contato, Festival Sonora, Festival Som na Faixa, Rio Montreux Jazz Festival e SESC Instrumental. E subiu ao palco de diversas unidades do SESI e SESC ao lado de artistas como o violeiro Neymar Dias, e as cantoras Nô Stopa e Bruna Caram.
“Agora nos dias 11, 12 e 13 de julho vai acontecer o Festival Alto do Camará, na Serra da Canastra. Vou abrir o festival para a tour do Zé Geraldo, que está comemorando 80 anos. São coisas bonitas que estão acontecendo. Sou muito grata à música, porque ela me leva para lugares que nunca imaginei ir. Às vezes, minha música chega antes de mim a um lugar, isso é muito bonito”, diz.
“Claro que a gente sabe das dificuldades dos caminhos da arte no Brasil. Mas me considero uma pessoa abençoada, pois consigo viver com dignidade. Não tenho muitos luxos. Mas, se você quer viver de arte tem que saber o que você quer. Então, posso me considerar uma sujeita de sorte, como diz Belchior.”
Confira abaixo a entrevista completa ao Podcast MPB Unesp.
Imagem acima: Fabíola Beni. Crédito: Luz Vermelha.